São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Empresa do ex-jogador teria a presidência de uma companhia responsável pela administração da competição
Saiba como funcionaria a liga de Pelé

da Reportagem Local

O projeto do Pelé para a liga brasileira de futebol inclui a criação de uma empresa, formada pela Media Partners e pela Pelé Sports & Marketing para administrar a liga.
Os dois sócios dividirão o capital em partes iguais e terão cada um metade dos seis diretores. A presidência ficará com a PSM.
Essa empresa deverá estar constituída até dezembro do ano 2000, quando todos os clubes já deverão ter se transformado em empresas.
Além de administrar a liga, a função dessa companhia será a de atrair novos sócios, que serão aqueles que de fato vão entrar com o capital. Pelo contrato, porém, por mais dinheiro que invistam, esses novos parceiros jamais conseguirão o controle da empresa.
Os investidores ficarão com ações preferenciais da empresa, que têm a preferência na distribuição dos dividendos.
O pontapé inicial na liga será o que foi chamado de ""business plan", que vai formatar a competição em vários aspectos. Para isso, é necessário realizar uma grande pesquisa sobre o futebol brasileiro.
A pesquisa só não começou até agora por causa da crise econômica brasileira. Após a queda do real, a Media Partners resolveu adotar uma postura de expectativa.
"Eles estão esperando que o cenário econômico dê uma clareada", afirma Celso Grellet, da PSM.
Quando receber o sinal verde, a pesquisa será feita pela GV Consult, consultoria subordinada à Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, já contratada.
Esse estudo envolverá não só os aspectos econômicos, mas políticos e esportivos. No primeiro item, será pesquisada a conveniência de a liga estar associada à Confederação Brasileira de Futebol.
No segundo, ""haverá uma discussão sobre acesso e descenso, sobre turno e returno. Vamos consultar o consumidor do futebol, a mídia, os patrocinadores. O estudo vai mostrar o que é melhor. Vamos perguntar aos investidores: você está disposto a colocar mais dinheiro dependendo de que cenário?", diz Grellet.
""Lamentamos muito que ainda não tenhamos podido fazê-lo", afirma o economista Antonio Carlos Kfouri Aidar, professor da FGV e profissional da GV Consult.
Segundo Kfouri Aidar, não existem hoje dados confiáveis sobre esse mercado. ""Há muitos mitos em relação a isso. Essa pesquisa certamente iria esclarecê-los."
Por causa desse levantamento, a GV Consult também assina a carta de intenções, por meio de seu coordenador, Sérgio Dias.
Kfouri Aidar aparece como testemunha, ao lado do advogado Carlos Miguel Aidar e de Filippo Chiusano, da Media Partners.
Peter Ekelund, que também assinou a carta pela empresa multinacional, negou à Folha a existência dela. "Não tomamos nenhuma atitude nesse sentido", declarou.
A atitude de Ekelund é justificada por uma cláusula da carta que institui "confidencialidade total".
O executivo, porém, confirma o interesse da sua empresa no país. "Estamos olhando muito seriamente para o Brasil. Estamos inclusive mantendo alguns contatos, que não posso revelar. Mas não faríamos nada que o torcedor brasileiro não gostasse", afirmou.
A GV Consult e a PSM falam ter sido procuradas pela Media Partners. "Eles é que nos contataram por causa de nossa "expertise" (competência na área)", diz Grellet.
Segundo Kfouri Aidar, as relações entre a GV Consult e a Media Partners começaram com a participação de diretores da empresa italiana num simpósio organizado pela FGV em maio de 98.
Em outubro, a Media Partners contatou a GV, e em dezembro a carta de intenções foi assinada.

Poder
Mesmo que a parceria se concretize, a realização da superliga no Brasil enfrentaria ainda dois obstáculos de ordem política.
Primeiro, Pelé é desafeto do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, que tem interesse também na idéia.
Nos últimos cinco anos, Teixeira tem negociado todos os contratos da CBF com a Traffic, empresa concorrente da PSM.
Segundo, Pelé precisaria do apoio dos clubes, o que não será fácil conseguir. O Clube dos 13, fundado há 11 anos para organizar uma liga brasileira, ainda trabalha para realizar seu objetivo.
Nesse caso, a empresa favorita é a de Jayme Franco, diretor de marketing do Clube dos 13.
Grellet declara que os clubes ainda não foram consultados sobre o interesse na liga. Mas o empresário diz não ver dificuldade porque seria essa a maneira de os clubes manterem seus jogadores. "Não vejo por que haver resistência. O sonho de todo diretor é não precisar vender seu jogador."
A Folha tentou localizar Pelé de quarta a sexta-feira. Deixou vários recados com funcionários do escritório da sua empresa em São Paulo, mas não recebeu resposta.
(ROBERTO DIAS e MARCELO DAMATO)


Texto Anterior: Feminino define rivais do mata-mata
Próximo Texto: Conheça os envolvidos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.