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FUTEBOL
A fantasia dos craques
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Sem comparar, é impossível
não lembrar do Garrincha ao
ver o Felipe parar a bola na ponta
direita, imobilizar os marcadores
por alguns segundos, driblá-los
com a sua ginga de corpo e espetacular arrancada e dar um passe
preciso para o companheiro. Felipe é a prova de que Garrincha
brilharia hoje da mesma forma.
Felipe contraria a regra número
1 do futebol atual, a de que todos
precisam marcar e ter uma função definida. O irrequieto e romântico Abel Braga (a segunda
característica é uma virtude do
treinador) deixa o jogador livre,
sem função, para atuar do jeito
que gosta e que fazia nas peladas
de infância. Após atuar de lateral,
ala, volante e meia esquerda, Felipe encontrou, ou melhor, reencontrou o seu lugar.
Seria possível a seleção brasileira, com tantos craques, ter no time titular um jogador como Felipe, atuando do jeito que faz no
Flamengo? Penso que não, mas
ele seria uma boa opção em certos
momentos, para "bagunçar" a
partida. Denílson, que não tem o
mesmo talento do Felipe, fez isso
com sucesso em muitos jogos.
Quando imagino o Robinho na
seleção, não é para ele ser um jogador tático, como o Zé Roberto,
nem para jogar livre, sem função,
como Felipe. Num esquema diferente do atual, Robinho marcaria
pela esquerda e avançaria como
um atacante. Talvez Felipe pudesse fazer o mesmo. Parreira não
vai experimentar nenhum dos
dois. Poderia dar certo.
No esquema atual da seleção,
Robinho ou Felipe não poderiam
fazer a função de volante do Zé
Roberto, e sim ser reserva do Ronaldinho Gaúcho ou do Kaká.
Mas, nessa posição, Alex é, merecidamente, o primeiro da fila.
A seleção já possui também um
jogador extremamente habilidoso, imprevisível e irreverente, que
é o Ronaldinho Gaúcho. Quando
o Maradona fala, com razão, que
ele é seu sucessor, quer dizer que
já existe no futebol atual um fenômeno que une fantasia e espetáculo com técnica e eficiência.
Felipe e Robinho são excelentes,
porém, nem chegam perto do Ronaldinho Gaúcho, Maradona e
Garrincha. Além de não terem o
talento desses três gênios, Robinho não possui a força muscular
do Ronaldinho Gaúcho e do Maradona, e Felipe não tem a simplicidade e a ternura do Garrincha.
É muito bom ver dribladores
brilhando no futebol atual. Numa
longa e recente época, os técnicos,
fascinados pelo cientificismo e pela prancheta, tentaram transformar o futebol num jogo somente
de marcação, tático, técnico e de
jogadas ensaiadas. Queriam acabar com a fantasia. O futebol ficou feio, chato e ineficiente.
Isso está mudando. Existe uma
preocupação de muitos técnicos,
como Abel Braga, em unir espetáculo e resultado. Ainda bem.
Venceram os melhores
Nas decisões dos Estaduais, venceram as equipes que têm os melhores jogadores. Em São Paulo,
foi nítida a diferença técnica entre o São Caetano e o Paulista.
Parece que o Paulista já se contentou com o vice-campeonato.
Foi uma bela campanha. O São
Caetano é quase campeão. Mas
ainda não esqueci da zebra.
Em Minas, Alex, Jussiê e Sandro
foram os destaques da vitória do
Cruzeiro. Jussiê mostrou novamente que poderá se tornar um
grande atacante. Ainda não é. O
Atlético foi muito mal na marcação, a sua principal virtude.
No Rio, o Vasco não atacou
nem marcou bem. Individualmente, o time é fraco. Felipe deu
outro show. Virou rotina. Se o Fla
jogasse com o Felipe (ele não mudou de posição) e mais um ou
dois atacantes, seria irrelevante.
Ganharia de qualquer jeito.
O mais importante não é o desenho tático, e sim o Felipe e mais
alguns bons jogadores, como o jovem Ibson, o veterano Zinho e o
excepcional goleiro Julio César.
Convocação
Houve surpresas, como Mancini, Dedê, Bordon e Edu, que devem estar na Copa América, já
que muitos titulares estarão ausentes. Todos os novos chamados
estão bem nos clubes. Edmilson
deve atuar no lugar do Gilberto
Silva. Fica mais evidente que a
ausência do Emerson (ex-preferido) nas duas últimas convocações
é uma punição ao atleta que não
tinha condições para atuar na seleção e jogou pela Roma.
Da mesma forma, os jovens que
atuaram no Pré-Olímpico continuam sendo tratados como fracassados e indisciplinados, por
causa das brincadeiras ocorridas
na concentração e que foram bastante criticadas pela comissão
técnica da seleção principal.
e-mail
tostao.folha@uol.com.br
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