São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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TÊNIS

Imagine só!

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Feche os olhos e faça de conta que nunca existiu um tenista brasileiro chamado Gustavo Kuerten.
Imagine que esse garoto catarinense, sorriso cativante e jeito de surfista, jamais seguiu carreira profissional no tênis. Imagine que ele optou pela faculdade de administração de empresas quando tinha 17 anos e, agora, já com algum tempo no mercado, conseguiu ser promovido a diretor em uma empresa de exportação baseada em Florianópolis.
Difícil? Não pare.
Imagine que, de segunda a sexta, das 9h às 18h, o senhor Gustavo Kuerten veste roupa social para trabalhar em um escritório no centro da capital catarinense. Que a primeira coisa que faz todos os dias é ler os jornais, começando pelos cadernos de economia. Que, em seguida, ele responde e-mails, basicamente de clientes querendo saber dos prazos de entrega dos produtos.
Continue.
Imagine que, como qualquer cidadão comum, o senhor Gustavo Kuerten saiu do escritório mais cedo na quinta passada, foi para casa, juntou suas coisas, vestiu uma bermuda, colocou uma prancha de surfe no carro e, com amigos, saiu para pegar a estrada e aproveitar o feriado de Páscoa.
Que foi com os amigos para uma casa em uma praia ali mesmo perto de Floripa. E que se divertiu muito, bebeu bastante cerveja e voltou para a casa da mãe só no domingo à noite, a tempo apenas de ver os gols da rodada.
Imaginou?
Agora imagine como seria o tênis nacional sem Gustavo Kuerten. Pense em uma participação na Copa Davis sem Kuerten.
Para começar, dificilmente o Brasil estaria no Grupo Mundial. Disputaria provavelmente a segunda divisão. E, na segunda, jamais teria pela frente Austrália, França, Suécia. Provavelmente pegaria um... Paraguai!
Você consegue imaginar, sem Gustavo Kuerten e contra um Paraguai, torcedores enchendo um estádio e gritando freneticamente o nome dos tenistas? Não? Por acaso você só consegue imaginar um punhado de torcedores aqui e ali, mal cobrindo uma ínfima parte das arquibancadas?
E a equipe brasileira, você consegue imaginar? Teria muitos tenistas famosos ou seria basicamente formada por jogadores de quem você nunca ouvira falar?
Contra paraguaios e sem Gustavo Kuerten, como você acha que a equipe se portaria? Os brasileiros passariam por cima dos adversários ou que sentiriam a pressão de jogar uma competição tão nobre como a Copa Davis?
Você estaria confiante na vitória ou teria medo do principal jogador adversário, que não passa de número 191 do ranking mundial? Apostaria nos tenistas brasileiros com fé e vontade ou diria que eles só teriam chance se conseguissem cansar o tal paraguaio?
Por fim, imagina o Brasil ganhando ou perdendo do Paraguai? Brigando para ir ao Grupo Mundial ou lutando para não cair para a terceira divisão?
Um pesadelo, né? Imagine se não existisse um tenista brasileiro chamado Gustavo Kuerten. Acho que não existiria tênis no Brasil.

Palmas
Esforço e vontade não faltaram a Marcos Daniel, Alexandre Simoni, Julio Silva e Josh Goffi. Apesar da derrota, deve-se registrar o empenho deles, bravamente liderados por Carlos Chabalgoity, o Chapecó.

Pedras
Vai sair ainda muita faísca da briga pelo poder na CBT. Sonha quem imagina consenso. Nem o clima tropical e o conforto da Costa do Sauípe acalmaram os cartolas. Muita gente já se arma de pau e pedra.

Dúvidas
Existe a possibilidade de a eleição na CBT não ser no dia 15 de maio? Pouca, mas existe. Quem são os candidatos? Estão escondidos. Quem jogará no confronto contra o Venezuela, em julho? Vai saber...

E-mail randaku@uol.com.br


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