São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

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AUTOMOBILISMO

Brasileiro deixa Schumacher passar na reta de chegada e alega contrato; Coulthard vence GP da Áustria

Barrichello abre para alemão e se irrita

France Presse
David Coulthard à frente de Barrichello, que está à frente, a igual distância, de Michael Schumacher, pouco antes do final da prova


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ZELTWEG

David Coulthard venceu ontem o GP da Áustria, uma prova de 307 quilômetros. A sexta etapa do Mundial, porém, será lembrada por seus derradeiros 200 metros.
Era essa a distância que faltava para que Rubens Barrichello chegasse em segundo lugar. E foi exatamente nesse ponto que o brasileiro aliviou o pé do acelerador para permitir que seu companheiro de equipe, Michael Schumacher, o ultrapassasse.
O brasileiro, que chegou a liderar a corrida por 31 voltas, terminou em terceiro. Irritado. E foi assim, de cabeça quente, que disse algo que sempre negou. Segundo seu novo discurso, a Ferrari exige, por contrato, que ele abra passagem para o piloto alemão sempre que houver essa ordem.
"É chato pra caramba ter que dirigir, apertar botões e ainda ficar pensando nas regras do contrato, na linha dez, ponto C. Isso existiu no ano passado, mas eu não esperava que se repetisse neste início de campeonato", disse.
Schumacher agradeceu Barrichello e foi direto ao ponto. Segundo ele, é lógico que a equipe favoreça o piloto que estiver disputando o título. "Antes de criticarem a postura da Ferrari, esperem para ver o que a McLaren vai fazer daqui pra frente", afirmou, referindo-se à condição cada vez mais óbvia de Coulthard como primeiro piloto do time inglês.
O alemão lidera o campeonato, com 42 pontos. Coulthard aparece em segundo lugar, com 38, seguido por Barrichello, com 18. Caso as posições fossem mantidas, a vantagem de Schumacher cairia de quatro para dois pontos.
"Já vi pilotos perderem o Mundial por dois pontos", declarou o tricampeão. "Concordem ou não com a decisão, essa é a filosofia da Ferrari: pensar no futuro."
Em plena negociação para renovar seu contrato, Barrichello disse que não estava pensando nisso quando obedeceu à ordem: "Não pensei na renovação. Hoje [ontem] houve uma situação que eu não esperava que acontecesse e vou ter que conversar com a equipe. Está muito cedo para essas coisas. Mas não tem jeito. Vou ter que engolir e pronto".
Questionado pela Folha, o brasileiro afirmou que cogitou desobedecer à ordem, dada algumas voltas antes. E, por fim, disse que "talvez" tenha passado um "recado" à equipe ao desacelerar apenas nos metros finais do GP.
Recado dado, o diretor ferrarista Jean Todt, que insistiu para que Barrichello abrisse passagem, foi amargo ao comentar a decisão. "Deixamos Rubens se aproximar de Coulthard até que percebemos que ele não ia ultrapassar. Aí, demos a ordem para que aliviasse."
Alheio aos problemas da Ferrari, Coulthard, sétimo no grid, creditou sua vitória à ótima largada, onde ganhou duas posições.
Com o abandono de Ralf Schumacher, subiu para quarto. Depois, com o toque de Juan Pablo Montoya em Schumacher, assumiu o segundo lugar. A liderança veio com o trabalho do único pit stop, melhor que os da Ferrari.
Na largada, as circunstâncias apontavam para uma vitória de Montoya, que saltou à liderança antes da primeira curva, seguido por Ralf e Michael Schumacher.
Com o abandono de Ralf, o tricampeão partiu para cima do colombiano, invertendo o que foi visto em Interlagos, no GP Brasil.
Esse segundo duelo, porém, foi bem menos cordial. Montoya dificultou a ultrapassagem, e os dois foram passear na grama.
"Aquilo foi um pouco estúpido. Ele não estava olhando para onde ia. Só se preocupou comigo, não percebeu o que fez na pista", disse o alemão. "Tudo o que ele disse foi ridículo, não tem o menor cabimento", respondeu Montoya.



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