São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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Terror rompe silêncio e diz que turista olímpico é alvo

Um dia após novo ataque, grupo local reclama de "capitalistas", assume atentados e desafia a Olimpíada de Atenas, a mais policiada da história

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O terror ganhou voz em Atenas. Ontem, após novos ataques sem vítimas à capital grega, um grupo local, o Luta Revolucionária, admitiu a autoria do atentado na madrugada do dia 5, marco de cem dias para a abertura da Olimpíada, prevista para 13 de agosto.
Na ocasião, três bombas foram detonadas perto de uma delegacia em Kalithea, ao sul da cidade, em um intervalo de meia hora. Não houve feridos, somente danos materiais. Ontem, a ameaça, pela primeira vez, foi explícita.
"Todos os responsáveis pelo capitalismo internacional, os assassinos mercenários do planeta, os governantes e os ricos turistas ocidentais que pretendem assistir aos Jogos são indesejáveis", disse o grupo, em comunicado enviado ao semanário grego "To Pontiki".
O clima de insegurança já era intenso ontem, quando mais duas bombas explodiram em frente a uma agência do Alpha Bank, em Voula, ao sul da cidade. O banco é patrocinador dos Jogos. Pouco depois, a polícia desativou outro artefato descoberto em uma bolsa deixada próxima a uma agência do banco britânico HSBC.
Nenhum grupo reivindicou a autoria desse novo ataque.
Até o comunicado de ontem, o governo grego desvinculava a Olimpíada das ameaças terroristas. O Comitê Olímpico Internacional seguia a mesma estratégia, minimizando os incidentes.
Anteontem, Denis Oswald, presidente da Comissão de Coordenação do COI, havia dito que os atentados do dia 5 "poderiam ocorrer em qualquer lugar" e que isso "não afetou a avaliação sobre a segurança [da Olimpíada]".
Após o 11 de Setembro, os Jogos de Atenas já teriam o maior gasto da história com segurança. O temor era com a atuação da Al Qaeda, grupo terrorista de Osama bin Laden. Porém, há dois meses, o xeque Omar Mohammed, considerado próximo a Bin Laden, disse que Atenas não era um alvo.
Apesar disso, a Grécia anunciou um incremento no orçamento destinado à segurança. Estima-se que as despesas chegarão a US$ 1,2 bilhão. Cerca de 70 mil agentes atuarão nos Jogos, que terão a colaboração estrangeira. Sete países participam do esquema de segurança. Além disso, a Otan (aliança militar ocidental) também ajudará nas ações.
Essas cooperações são alvo de crítica do grupo clandestino. "A transformação da Grécia em uma fortaleza e a participação da Otan e dos serviços secretos estrangeiros mostram que não se trata de uma festa, como dizem os organizadores, mas de uma guerra", afirmou o Luta Revolucionária.
Pelo menos no discurso, porém, o temor continua vindo do exterior. "Se um país desistir dos Jogos irá admitir que o medo do senhor Bin Laden é maior do que qualquer outra coisa", disse a prefeita de Atenas, Dora Bakoyianni.
Preocupada, a Austrália já advertiu seus cidadãos que pretendem assistir à Olimpíada, que estejam conscientes das ameaças do terrorismo internacional.


Com agências internacionais

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