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1974
Alemanha consolidada parte para maiores conquistas
GERD WENZEL
ESPECIAL PARA A FOLHA
O mundo estava em plena Guerra Fria. Os Estados alemães, a República Federal Alemã, com democracia parlamentar e capitalismo social de mercado, e a República Democrática Alemã, com regime de partido único e economia
estatal planejada, representavam,
como nenhum outro país, a divisão do mundo em dois blocos.
A Cortina de Ferro, com arame
farpado e campos minados, estendia-se pela fronteira entre as
duas Alemanhas. Não bastasse isso, em 13 de agosto de 1961, o então secretário-geral do Partido
Socialista Unificado da DDR (Alemanha Oriental), Walter Ulbricht, ordenava a construção do
Muro de Berlim para "salvaguardar as conquistas do operariado
alemão e impedir a infiltração de
agentes capitalistas em território
da DDR". A partir daí, Berlim
Ocidental passou a ser uma ilha
do "mundo livre" encravado em
território comunista.
A divisão da Alemanha em dois
países de regimes diametralmente distintos consolidou definitivamente o "Estado do bem-estar social" no lado ocidental.
A economia florescia, assim como as liberdades democráticas,
que podiam ser exercidas por
quem quer que fosse. Berlim Ocidental gozava de privilégios especiais e contava com vultosos subsídios da República Federal Alemã para proporcionar condições
de vida excepcionais aos "ilhados", e servir de vitrine do capitalismo aos olhos dos "primos pobres" de Berlim Oriental.
Já no final da década de 80, surgia em Leipzig, na Alemanha
Oriental, com a liderança do pastor Christian Führer, um movimento pacifista e não-violento
exigindo maiores liberdades individuais. Inicialmente eram "apenas" pequenas reuniões de oração
às segundas-feiras ("Montagsgebete") com a presença de pouco
mais de cem pessoas. Aos poucos,
porém, a Igreja de São Nicolau
não comportava mais as multidões, e o movimento assumia
proporções jamais imaginadas.
Com o slogan "Wir sind das
Volk" ("Nós somos o povo"), milhares de manifestantes tomavam
as ruas, sob o olhar atônito dos
agentes de segurança política
(Stasi), e o final dessa história todo mundo já conhece: em outubro de 1989 caía o Muro de Berlim
e, um ano depois, a Alemanha estava reunificada.
Paralelamente aos acontecimentos políticos que impregnaram a Alemanha de 1960 a 1990,
também no futebol os alemães fizeram história. Em 1963 surgia a
Bundesliga, a Liga Federal de Futebol, que passou a organizar o
Campeonato Alemão e cujo primeiro campeão foi o Colônia.
Com a criação da liga, o futebol
alemão se fortaleceu, chegando a
disputar cinco finais da Copa do
Mundo nesse período: 1966, 1974,
1982, 1986 e 1990. Foi campeão
mundial duas vezes (1974 e 1990)
e vice em três oportunidades
(1966, 1982 e 1986).
Essa época marcou também a
ascensão definitiva do Bayern de
Munique que, desde a criação da
liga até 1990, conquistou 11 títulos
nacionais, levantou nove vezes a
Copa da Alemanha, foi tricampeão da Copa dos Campeões da
Europa e campeão mundial interclubes em cima do Cruzeiro.
Uma figura imponente surgiu
nesse cenário: Franz Beckenbauer, elegante líbero do Bayern e
da seleção alemã, já na Copa de
1966, na Inglaterra. Com apenas
20 anos, por muito pouco não se
tornou campeão mundial, traído
tão-somente por um gol na final
com a Inglaterra, gol esse que até
hoje é alvo de calorosas discussões sobre "se foi, ou não foi".
Quem não lembra de sua atuação na Copa do México em 1970,
quando, com a clavícula machucada, enfrentou na semifinal a Itália, naquele que seria considerado
o maior e melhor jogo de todas as
Copas. A Alemanha perdeu na
prorrogação por 4 a 3, mas mandou uma Itália em farrapos para
disputar a final com o Brasil e ainda entrou para a história como
uma equipe heróica, cujo herói
maior atendia, a partir daí, pelo
apelido de "Kaiser" (imperador).
Mais maduro, aos 28 anos, comandou o esquadrão alemão na
Copa de 1974, realizada na própria Alemanha. A seleção conquistou o segundo título ao vencer a Holanda. O elenco começou
titubeante, sendo derrotado na fase de grupos pela outra Alemanha
(a Oriental) por 1 a 0. A partir dessa revés, os alemães partiram pare
o bi, vencendo Suécia, Iugoslávia
e Polônia, para enfrentar na final a
grande Holanda, que tinha superado o Brasil. O artífice maior da
vitória por 2 a 1 foi Beckenbauer,
com sua arte ao tratar a bola, sua
capacidade de fazer lançamentos
milimétricos, seu talento natural
para se posicionar em campo e
seu carisma ímpar ao comandar
os companheiros.
O "Kaiser", mais popular e melhor jogador alemão do século 20,
não parou por aí. Ele assumiu o
comando técnico da "Nationalelf" no final da década de 1980 e
foi campeão mundial mais uma
vez na Copa da Itália, em 1990,
dessa vez em cima da Argentina,
justamente no ano da reunificação da Alemanha, completando
um ciclo vitorioso do futebol alemão: três vezes campeão mundial, três vezes vice-campeão, três
vezes campeão europeu e duas
vezes vice-campeão europeu.
Gerd Wenzel é natural de Berlim e se
mudou para o Brasil em 1955. Comenta
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