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MOTOR
Frigideira
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Barrichello está sendo fritado pela Ferrari. Para quem
duvida, basta dizer que, no mesmo dia em que falou aos jornalistas que seu "mundo não vai acabar", a escuderia lançou comunicado extemporâneo para Jean
Todt falar bem de Felipe Massa.
E, para quem não lembra como
a Ferrari age em casos assim, basta dizer que esse virulento ritual
de dispensa de pilotos, seja um Irvine, seja um Prost, sempre é assim: com requintes de crueldade.
A escuderia italiana talvez seja
a instituição esportiva que mais
preza normas de conduta, procedimentos, protocolos -sim, foi
por isso que ficou na fila tanto
tempo. Em Maranello, não é possível apenas seguir o manual, cortar o cabelo, vestir o terninho com
o famoso escudo ou falar um
fluente italiano. É preciso fazer
tudo isso e muito mais, mostrar
serviço, surpreender, tornar-se
simplesmente imprescindível.
A Ferrari não é lugar para bons
moços, pelo contrário. Entre os
tantos que passaram por lá, havia
até alguns quase irresponsáveis,
como Gilles Villeneuve, favorito
do comendador, mas todos bravos. E quem não foi ou deixou de
ser entrou para a lista negra.
O processo é vil, pois a Ferrari
considera-se maior que qualquer
piloto. Schumacher pode ser ou
vir a ser, o que o leitor preferir, o
melhor de todos os tempos, mas
ele nunca será maior do que a
marca. O alemão sabe disso, e assim trabalha. Sabe, como o mundo inteiro, que é melhor que o
carro. Mas, político, prefere transferir o crédito para a fábrica.
É isso que explica tamanha longevidade, junto, claro, com seu talento. Schumacher teve paciência
para montar um time pessoal
dentro do time da Ferrari. Suportou vexames, quebras e até uma
perna quebrada. Jamais falou
mal do time ou de seus fornecedores, jamais colocou em xeque a
autoridade de seus superiores.
Limitou-se a dar recados. E,
com eles, trouxe um a um os homens que precisava da Benetton e
conquistou os que lhe interessavam na Ferrari. Retribui com vitórias, recordes e títulos. E, na hora que a Ferrari resolveu falar de
futuro, também falou do seu. Foi
renovado no ato, assim como todo o exército que montou.
Barrichello não faz parte do clube, é soldado raso, não é imprescindível para a Ferrari. Mas, neste momento, é importante para
Schumacher e para as pretensões
do hexacampeonato. É ele que,
além do alemão, está no front e
precisa ocupar o espaço de rivais
diretos do companheiro no pódio
e na tabela. Barrichello não está
fazendo isso. Está na mira.
Uma situação que deixa o piloto em difícil situação. Acelerar
para ajudar ou acelerar para se
mostrar? Ser um escudeiro caninamente fiel ou aproveitar qualquer deixa para a própria afirmação? Correr pela Ferrari ou correr
para alcançar um outro time?
Essa simples dúvida afasta Barrichello de seu idílio na equipe. É
preciso ser incondicional para ser
piloto Ferrari. Até Schumacher é,
a seu jeito, mas é. Barrichello não
pode ser, pois abraça as tolas expectativas de um público que só se
lembra dele quando há sucesso.
O alemão também corre para si.
Mas finge que é para a Ferrari.
McLaren 18,5
O revolucionário MP4/18 daqui a pouco vai virar MP4/19. Planejado
para Silverstone, foi antecipado para Montréal. Agora voltou para a
Inglaterra, e ninguém duvida que pode ficar para mais tarde. A verdade é que o modelo híbrido é mais de 80% o carro novo. E, se Raikkonen continuar se segurando na ponta, o carro novo, que ainda não
é confiável, vai continuar frequentando apenas as sessões de teste.
Revezamento
Tom Kristensen, tricampeão das 24 Horas de Le Mans com o R8 da
Audi, larga na frente hoje na 71ª edição da tradicional corrida. Só que
com um modelo de cockpit fechado, o Speed 8, da Bentley, que venceu pela última vez em 1930. E a Audi? O time oficial da fábrica deixou as pistas. E por quê? As duas marcas são da Volkswagen.
E-mail mariante@uol.com.br
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