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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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MOTOR

Frigideira

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Barrichello está sendo fritado pela Ferrari. Para quem duvida, basta dizer que, no mesmo dia em que falou aos jornalistas que seu "mundo não vai acabar", a escuderia lançou comunicado extemporâneo para Jean Todt falar bem de Felipe Massa.
E, para quem não lembra como a Ferrari age em casos assim, basta dizer que esse virulento ritual de dispensa de pilotos, seja um Irvine, seja um Prost, sempre é assim: com requintes de crueldade.
A escuderia italiana talvez seja a instituição esportiva que mais preza normas de conduta, procedimentos, protocolos -sim, foi por isso que ficou na fila tanto tempo. Em Maranello, não é possível apenas seguir o manual, cortar o cabelo, vestir o terninho com o famoso escudo ou falar um fluente italiano. É preciso fazer tudo isso e muito mais, mostrar serviço, surpreender, tornar-se simplesmente imprescindível.
A Ferrari não é lugar para bons moços, pelo contrário. Entre os tantos que passaram por lá, havia até alguns quase irresponsáveis, como Gilles Villeneuve, favorito do comendador, mas todos bravos. E quem não foi ou deixou de ser entrou para a lista negra.
O processo é vil, pois a Ferrari considera-se maior que qualquer piloto. Schumacher pode ser ou vir a ser, o que o leitor preferir, o melhor de todos os tempos, mas ele nunca será maior do que a marca. O alemão sabe disso, e assim trabalha. Sabe, como o mundo inteiro, que é melhor que o carro. Mas, político, prefere transferir o crédito para a fábrica.
É isso que explica tamanha longevidade, junto, claro, com seu talento. Schumacher teve paciência para montar um time pessoal dentro do time da Ferrari. Suportou vexames, quebras e até uma perna quebrada. Jamais falou mal do time ou de seus fornecedores, jamais colocou em xeque a autoridade de seus superiores.
Limitou-se a dar recados. E, com eles, trouxe um a um os homens que precisava da Benetton e conquistou os que lhe interessavam na Ferrari. Retribui com vitórias, recordes e títulos. E, na hora que a Ferrari resolveu falar de futuro, também falou do seu. Foi renovado no ato, assim como todo o exército que montou.
Barrichello não faz parte do clube, é soldado raso, não é imprescindível para a Ferrari. Mas, neste momento, é importante para Schumacher e para as pretensões do hexacampeonato. É ele que, além do alemão, está no front e precisa ocupar o espaço de rivais diretos do companheiro no pódio e na tabela. Barrichello não está fazendo isso. Está na mira.
Uma situação que deixa o piloto em difícil situação. Acelerar para ajudar ou acelerar para se mostrar? Ser um escudeiro caninamente fiel ou aproveitar qualquer deixa para a própria afirmação? Correr pela Ferrari ou correr para alcançar um outro time?
Essa simples dúvida afasta Barrichello de seu idílio na equipe. É preciso ser incondicional para ser piloto Ferrari. Até Schumacher é, a seu jeito, mas é. Barrichello não pode ser, pois abraça as tolas expectativas de um público que só se lembra dele quando há sucesso.
O alemão também corre para si. Mas finge que é para a Ferrari.

McLaren 18,5
O revolucionário MP4/18 daqui a pouco vai virar MP4/19. Planejado para Silverstone, foi antecipado para Montréal. Agora voltou para a Inglaterra, e ninguém duvida que pode ficar para mais tarde. A verdade é que o modelo híbrido é mais de 80% o carro novo. E, se Raikkonen continuar se segurando na ponta, o carro novo, que ainda não é confiável, vai continuar frequentando apenas as sessões de teste.

Revezamento
Tom Kristensen, tricampeão das 24 Horas de Le Mans com o R8 da Audi, larga na frente hoje na 71ª edição da tradicional corrida. Só que com um modelo de cockpit fechado, o Speed 8, da Bentley, que venceu pela última vez em 1930. E a Audi? O time oficial da fábrica deixou as pistas. E por quê? As duas marcas são da Volkswagen.

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