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FUTEBOL
Cabeça, tronco e membros
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O que mais me impressionou
na bela vitória do Cruzeiro
sobre o Flamengo, no Mineirão,
foi o gol de Aristizábal.
Por dois motivos. Primeiro, pelo
lance em si: a bola cruzada por
Alex chegou um pouco atrás do
jogador colombiano, que, num
movimento acrobático, tombou a
cabeça para trás, formando um
ângulo improvável em relação ao
corpo, e cabeceou com violência
para as redes. Uma coisa linda.
No jogo anterior entre os dois times ocorreu algo análogo no gol
de Alex. A bola cruzada rasteira
por Deivid chegou um pouco
atrás do meia, que lançou mão de
um improviso de craque para
"corrigir" a geometria, fazendo o
gol de letra.
E aí chegamos à segunda coisa
que me chamou a atenção no gol
de Aristizábal: o fato de ele estar
jogando bola como nunca jogou
antes -pelo menos não no São
Paulo, nem no Santos, nem no Vitória.
Sim, porque Alex todo mundo
já sabia que era craque, e Deivid
já se mostrara um atacante "diferenciado" (o clichê da moda) no
Santos e no Corinthians. Já Aristizábal, apesar de ser da seleção colombiana, sempre me pareceu
apenas um jogador de mediano
para bom -e acredito que era assim que a maioria dos torcedores
brasileiros o via.
O que é que fez esse jogador tão
rodado encontrar seu melhor futebol só agora, aos 31 anos?
Não quero aumentar o volume
dos confetes que têm sido jogados
em Wanderley Luxemburgo, mas
o fato é que o caso Aristizábal reforça a impressão de que o técnico
do Cruzeiro, exceto quando tem
uma diferença pessoal com algum
jogador, sabe extrair de cada um
seu melhor rendimento -uma
virtude que costumava ser atribuída também a Telê Santana.
Mas há também, além do dedo
do técnico, o chamado fator "cabeça". Quando um jogador está à
vontade num grupo e confiante
no seu próprio futebol, seu desempenho melhora visivelmente.
Essa é, a meu ver, uma das causas da atual hegemonia nacional
do Cruzeiro. Seus atletas -dos
mais estelares aos mais modestos- exalam autoconfiança. Isso
é algo que o outro grande time
brasileiro do momento, o Santos,
só mostra de vez em quando.
Só duas coisas parecem ameaçar o Cruzeiro: uma eventual desestruturação da equipe em função dos desfalques (Alex, Maurinho, Aristizábal) e o risco de que
a atual autoconfiança passe do
ponto e vire "salto alto". (A distância entre uma coisa e outra é
menor do que se imagina).
Enquanto isso não acontece, os
amantes do bom futebol só têm a
ganhar com a onda azul.
Depois de ser ofuscado pelas finais da Copa do Brasil, o Brasileirão volta com tudo numa rodada
repleta de clássicos locais: Cruzeiro x Atlético-MG, Corinthians x
São Paulo, Vasco x Flamengo,
Gre-Nal, Ba-Vi, Atle-Tiba, o
derby campineiro e Criciúma x
Figueirense. Esqueci algum? E o
mais interessante é que quase todos são confrontos diretos por posições na tabela.
Rumo certo
A seleção brasileira fez sua primeira boa apresentação na nova era Parreira. É evidente que a
mescla de campeões e novatos é
o melhor caminho, motivando
uns e outros e renovando o repertório de possibilidades.
Nunca fui fã do Belletti, mas reconheço que ele foi o melhor do
time, ao lado do Ronaldinho.
Este último pode ser o ponto de
equilíbrio na transição entre
veteranos e calouros.
Os que não foram
Corinthians e São Paulo entram
em campo desfalcados, mas
motivação não vai faltar. Empatados na classificação, os dois
terão "a volta dos que não foram", como disse a Soninha em
seu programa "Bate-Bola": Lucas no alvinegro, Kaká no tricolor. Por motivos distintos, ambos vão querer mostrar serviço.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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