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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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FUTEBOL

Cabeça, tronco e membros

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O que mais me impressionou na bela vitória do Cruzeiro sobre o Flamengo, no Mineirão, foi o gol de Aristizábal.
Por dois motivos. Primeiro, pelo lance em si: a bola cruzada por Alex chegou um pouco atrás do jogador colombiano, que, num movimento acrobático, tombou a cabeça para trás, formando um ângulo improvável em relação ao corpo, e cabeceou com violência para as redes. Uma coisa linda.
No jogo anterior entre os dois times ocorreu algo análogo no gol de Alex. A bola cruzada rasteira por Deivid chegou um pouco atrás do meia, que lançou mão de um improviso de craque para "corrigir" a geometria, fazendo o gol de letra.
E aí chegamos à segunda coisa que me chamou a atenção no gol de Aristizábal: o fato de ele estar jogando bola como nunca jogou antes -pelo menos não no São Paulo, nem no Santos, nem no Vitória.
Sim, porque Alex todo mundo já sabia que era craque, e Deivid já se mostrara um atacante "diferenciado" (o clichê da moda) no Santos e no Corinthians. Já Aristizábal, apesar de ser da seleção colombiana, sempre me pareceu apenas um jogador de mediano para bom -e acredito que era assim que a maioria dos torcedores brasileiros o via.
O que é que fez esse jogador tão rodado encontrar seu melhor futebol só agora, aos 31 anos?
Não quero aumentar o volume dos confetes que têm sido jogados em Wanderley Luxemburgo, mas o fato é que o caso Aristizábal reforça a impressão de que o técnico do Cruzeiro, exceto quando tem uma diferença pessoal com algum jogador, sabe extrair de cada um seu melhor rendimento -uma virtude que costumava ser atribuída também a Telê Santana.
Mas há também, além do dedo do técnico, o chamado fator "cabeça". Quando um jogador está à vontade num grupo e confiante no seu próprio futebol, seu desempenho melhora visivelmente.
Essa é, a meu ver, uma das causas da atual hegemonia nacional do Cruzeiro. Seus atletas -dos mais estelares aos mais modestos- exalam autoconfiança. Isso é algo que o outro grande time brasileiro do momento, o Santos, só mostra de vez em quando.
Só duas coisas parecem ameaçar o Cruzeiro: uma eventual desestruturação da equipe em função dos desfalques (Alex, Maurinho, Aristizábal) e o risco de que a atual autoconfiança passe do ponto e vire "salto alto". (A distância entre uma coisa e outra é menor do que se imagina).
Enquanto isso não acontece, os amantes do bom futebol só têm a ganhar com a onda azul.
 
Depois de ser ofuscado pelas finais da Copa do Brasil, o Brasileirão volta com tudo numa rodada repleta de clássicos locais: Cruzeiro x Atlético-MG, Corinthians x São Paulo, Vasco x Flamengo, Gre-Nal, Ba-Vi, Atle-Tiba, o derby campineiro e Criciúma x Figueirense. Esqueci algum? E o mais interessante é que quase todos são confrontos diretos por posições na tabela.

Rumo certo
A seleção brasileira fez sua primeira boa apresentação na nova era Parreira. É evidente que a mescla de campeões e novatos é o melhor caminho, motivando uns e outros e renovando o repertório de possibilidades. Nunca fui fã do Belletti, mas reconheço que ele foi o melhor do time, ao lado do Ronaldinho. Este último pode ser o ponto de equilíbrio na transição entre veteranos e calouros.

Os que não foram
Corinthians e São Paulo entram em campo desfalcados, mas motivação não vai faltar. Empatados na classificação, os dois terão "a volta dos que não foram", como disse a Soninha em seu programa "Bate-Bola": Lucas no alvinegro, Kaká no tricolor. Por motivos distintos, ambos vão querer mostrar serviço.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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