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JUDÔ
Presidente declara parte dos recursos públicos como patrocínio em documento, que traz outros indícios de irregularidade
CBJ usa Lei Piva, mas se perde em balanço
FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL
A Confederação Brasileira de
Judô recebeu R$ 937.960,19 referentes ao repasse da Lei Piva no
ano passado, porém a declaração
da verba aparece de forma irregular em seu balanço.
A entidade informa que sua receita bruta no período foi de R$
773.184,93, desmembrada em associados (R$ 294.398,19) e patrocinadores (R$ 478.786,74).
O balanço da CBJ foi assinado
pelo presidente da entidade, Paulo Wanderley Teixeira, e pelo contador João Nepomuceno Ubaldo
de Sousa e distribuído aos presidentes das federações estaduais
na assembléia geral da confederação em 28 de março, no Rio.
O Comitê Olímpico Brasileiro é
o responsável pela distribuição
dos recursos da Lei Piva às federações. O documento do COB, uma
radiografia técnica e financeira,
segundo a própria entidade, mostra que a CBJ não possuía patrocinadores no ano passado.
É nesse item, porém, que a CBJ
afirma ter declarado parte dos recursos relacionados à Lei Piva que
entraram em sua conta -o restante foi repassado como forma
de serviço (passagens aéreas).
Aprovada em 2001, a Lei Piva é a
principal fonte de recursos do judô. Ela destina 2% da arrecadação
anual das loterias da Caixa Econômica Federal ao COB e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. O
primeiro fica com 85% do total e
faz o repasse às federações.
Além da nebulosa situação dos
recursos da Lei Piva, o balanço da
CBJ apresenta outros indícios de
irregularidades contábeis.
As seletivas, que, segundo dirigentes, são fonte de receita para a
CBJ, aparecem apenas no item
"despesas com seletivas" com
lançamento de R$ 200.
"O dinheiro das seletivas, que
aconteceram no Nordeste e em
todo o Brasil não apareceu [no
balanço]", afirmou o presidente
da Federação do Rio Grande do
Norte, Edmar de Araújo Dantas.
A confederação cobra taxas dos
atletas que participam de seus
eventos, que, portanto, são fonte
de receita para a entidade.
O documento da CBJ também
"esquece" o centro de treinamento da entidade, localizado em
Santa Cruz (zona oeste do Rio).
O CT não é utilizado desde que
a atual administração tomou posse, pois oferece estrutura precária, mas a confederação não
anunciou nenhum negócio com o
imóvel. Apesar de nenhum imóvel constar na prestação de contas, aparece o pagamento de ITR
(Imposto Territorial Rural).
Outro imóvel também de propriedade da CBJ não aparece no
balanço e apesar de estar ocupado não gera receita à entidade.
Por sua sede na mesma rua de
seu imóvel, a CBJ paga aluguel.
Na prestação de contas também
aparece "Déficit com antiga administração", que foi responsável
por R$ 51.771,20 de despesa.
No ano passado, porém, a CBJ
já era administrada por Paulo
Wanderley Teixeira, eleito em
março de 2001 para suceder a família Mamede, que permaneceu
21 anos no comando da entidade.
Pouco após tomar posse, o presidente afirmou que havia recebido como herança R$ 3,26 e não
declarou haver dívidas.
Joaquim Mamede, 74, disse
desconhecer completamente
qualquer déficit. "Todas as minhas contas foram aprovadas."
O ex-homem forte da CBJ, porém, afirmou que o atual presidente lhe deve dinheiro. Na época
da eleição, ele fez um acordo para
receber R$ 3.000 mensais. Questionado se o déficit no balanço
poderia ser referente ao acordo,
foi taxativo. "Ele nunca me deu
nada. Estou na Justiça."
O presidente, que na época negava qualquer acordo com Mamede, depois reconheceu a negociação com o ex-dirigente, mas
disse que foi uma jogada política.
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