São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Ana Paula já se vê longe dos gramados

Assistente de arbitragem, que neste ano começou a usar sua imagem com publicidade, cogita também trabalhar na TV

Após ser punida e assaltada, ela diz ter vivido momentos difíceis, que se reergueu com o carinho recebido e que quer montar um time

Eduardo Knapp/Folha Imagem
A bandeirinha Ana Paula Oliveira, que está afastada do Brasileiro e admite trabalhar como garota-propaganda ou em TV no segmento esportivo, posa em restaurante em Hortolândia, onde mora

TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A HORTOLÂNDIA

A mais famosa bandeirinha do Brasil está triste. E dá claros sinais de que o fim de sua carreira nos gramados como auxiliar começa a ser uma realidade mais concreta a partir de agora. Em entrevista à Folha, Ana Paula Oliveira, de 29 anos, fala que foi vítima de "excessos" e "exageros" por parte de quem comanda a arbitragem da CBF.
O desabafo vem de forma amena e se refere às três rodadas de suspensão no Nacional pela sua atuação em Botafogo x Figueirense, na Copa do Brasil, quando anulou dois gols do time carioca, que acabou alijado da final da competição.
"Admito que errei no primeiro lance [impedimento], mas foi por milímetros. No segundo, tenho convicção de que o goleiro do Figueirense foi atrapalhado", afirma a assistente. Na medida em que a conversa se desenrola, ela recorda sua trajetória e chega a se emocionar ao falar do carinho das pessoas após o episódio que a pôs, mais uma vez, em evidência.
Sobre o seu afastamento, Ana Paula diz que a decisão de colocá-la na "geladeira" a afetou de forma bastante intensa. Nessa fase recente, classificada por ela como muito difícil, Ana Paula baqueou e, após ser assaltada, chegou a ficar "pelo menos dois dias fora do ar".
Agora, espera dar a volta por cima e, como objetivo maior antes de sair de cena, quer trabalhar numa Copa do Mundo. "Estou me preparando muito e treinando para ter o mesmo desempenho físico dos árbitros masculinos", comenta.
Fora de campo, ela já traça projetos. As opções giram em torno da carreira de apresentadora de TV no segmento esportivo, garota-propaganda ou ainda, numa possibilidade mais remota, a dramaturgia. "Mas aí eu teria de ser trabalhada, e dentro de um projeto sério."
 

FOLHA - Depois da polêmica envolvendo o jogo do Botafogo, você se sente uma pessoa notória?
ANA PAULA OLIVEIRA -
Acho que sim. Acho que desde o último Santos x São Paulo [quando anulou um gol legal do Santos] eu comecei a ter mais visibilidade. Mas logo após o jogo do Botafogo isso aumentou muito.

FOLHA - A medida da CBF em afastá-la lhe colocou em evidência?
ANA PAULA -
Tive mais visibilidade do que se tivesse continuado atuando.

FOLHA - No empate entre Santos e São Paulo, pelo Paulista, o técnico Vanderlei Luxemburgo segurou a sua mão e ficou conversando na beira do campo. O que achou?
ANA PAULA -
Não tem nada a ver. Sempre encontro com ele em eventos, entrega de prêmios e sempre conversamos. Não teve nada demais.

FOLHA - Você acha que novos caminhos podem surgir para você?
ANA PAULA -
Penso que sim... Vou pedir a Deus que seja muito bom. Uma nova estrada que seja boa como foi a arbitragem.

FOLHA - E o que poderia ser?
ANA PAULA -
Garota-propaganda seria bárbaro. Isso se alguma marca me quiser [risos]. Sempre tive vontade de me ver num outdoor. Mas acho que estou mais para trabalhar num programa de esportes, como comentarista ou apresentadora. Seria mais o meu perfil.

FOLHA - Você já foi capa de revista, viaja fazendo palestras, faz campanha de publicidade, tem site, assessoria. Você se acha um furacão?
ANA PAULA -
Não me acho um furacão, mas acho que as pessoas me vêem como um furacão. Imaginei que eu fosse popular, mas não tanto. E eu tirei grandes lições desse momento ruim [afastamento].

FOLHA - Que tipo de lição?
ANA PAULA -
Do quanto eu sou amada, como as pessoas do Brasil gostam de mim [emociona-se]. Pô, tem gente que vai no jogo só pra me ver. Aprendi coisas agora que num momento de glórias não teria percebido. Pessoas que acreditam em você. Como fui abraçada. Pessoas de idade me dando força... [seus olhos ficam marejados].

FOLHA - Qual foi o pior momento?
ANA PAULA -
Depois do jogo do Botafogo, fui assaltada e quase perdi a vida. Agradeci muito a Deus por ter sobrevivido a um assalto a mão armada. Atiraram no carro em que eu estava. E dei uma baqueada, sim. Se falar o contrário, vou estar mentindo. Fiquei pelo menos dois dias fora do ar. Não sabia se chorava de tristeza ou se sorria de alegria por estar viva.

FOLHA - Você foi vítima de preconceito na profissão?
ANA PAULA -
No começo, não queriam me deixar atuar porque eu era bonita... Depois, falaram que a arbitragem era um trampolim.

FOLHA - Você tem algum projeto em mente para tocar?
ANA PAULA -
Sim. Quero montar o Ana Paula Futebol Clube. Seria um time só para dar exibições pelo Brasil e angariar fundos para entidades carentes.

FOLHA - O que falta a você na arbitragem?
ANA PAULA -
Uma Copa do Mundo. Ainda tenho esse sonho e estou me preparando muito para isso.


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