São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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PEQUIM2008

César Cielo, raia 8

NA FINAL DOS 100 M LIVRE, VELOCISTA LARGA DA POSIÇÃO MENOS NOBRE PARA CRAVAR O MELHOR TEMPO DE SUA VIDA , GANHAR O BRONZE E FALAR QUE SERÁ OURO NOS 50 M

Satiro Sodré/CBDA/Divulgação
Cielo vibra com o bronze dos 100 m livre, no Cubo d'Água

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

A raia era a mesma em que, há 12 anos, Fernando Scherer conquistara a última medalha individual para a natação brasileira em Jogos Olímpicos.
César Cielo entrou na final dos 100 m livre com o pior tempo das semifinais. Mas lá, escondido na lateral da piscina, nadou como nunca. Com 47s67, conquistou a medalha de bronze, a primeira da natação brasileira em Pequim, a quarta do país nos Jogos.
"Eu sonhei nesta noite [a anterior à prova] que chegava em terceiro, mas aí eu acordei e lembrei que nadava na raia 8", afirmou o nadador, 21, aos prantos, em entrevista à TV logo após sair da piscina.
Cielo marcou 47s67, melhor tempo de sua vida e mesma marca do americano Jason Lezak, herói do revezamento 4 x 100 m dos EUA. Os dois recebem a medalha. O vencedor foi o francês Alain Bernard (47s21), seguido pelo australiano Eamon Sullivan (47s32).
"Eu ainda não sei como fiz isso. Estava na raia 8, pensei que pior que isso não podia ficar. Entrei para ir para cima, em nenhum momento eu olhei para o lado. Quando começou a doer, no finalzinho, eu só me concentrei para agüentar, forçar mais um pouquinho dentro de mim mesmo. Foi sem dúvida minha melhor prova", afirmou o brasileiro, que hoje disputa as eliminatórias dos 50 m livre. "Agora vou ganhar esses 50", completou o nadador paulista.
A última medalha da natação do Brasil em Olimpíadas havia sido conquistada pelo revezamento 4 x 100 m livre, bronze em Sydney-2000.
"Eu me benzi umas 37 vezes e bati umas 500 no meu corpo. Minha cabeça estava em outro planeta. No balizamento, olhei e pensei que só tinha três medalhas para aqueles oito nadadores. Aí me toquei que estava na briga por uma", disse Cielo.
O nadador, natural de Santa Bárbara d'Oeste, começou a despontar em torneios pelo interior paulista. Aos 15, foi chamado para treinar no Pinheiros, em São Paulo.
Nos últimos anos, ele passou a treinar e estudar nos EUA, onde se tornou o melhor nadador universitário do país. Aluno da Universidade de Auburn, Cielo pouco saía e tinha de respeitar uma cláusula em seu contrato que lhe sugeria não arrumar uma namorada.
Após o Pan do Rio, em 2007, decidiu que se tornaria profissional. O empresário escolhido foi Fernando Scherer, seu amigo e ídolo nas piscinas.
A vida sozinho e cheia de regras ajudou o nadador a manter a disciplina nos treinos.
Para assegurar que ele tivesse as melhores condições de preparação para Pequim, a Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos o incluiu em uma "tropa de elite", que ganhou atenção especial e teve viagens para treinos e competições no exterior bancadas com verba da Lei Piva e da lei de incentivo fiscal ao esporte.
A entidade também incluiu seu treinador, o australiano Brett Hawke, na comissão técnica da seleção brasileira.
Já na competição em Pequim, nadou bem a abertura da eliminatória do revezamento 4 x 100 m livre, com 47s90. Mas não repetiu o mesmo desempenho nos classificatórios para os 100 m livre. Na primeira disputa, passou mal e terminou a prova esgotado, mostrando-se decepcionado com sua performance.
A pressão era ainda maior com a enxurrada de recordes deste ano. Os 100 m livre tiveram uma seqüência impressionante de quebras em 2008.
Até 20 de março, o holandês Pieter van den Hoogenband detinha a marca de 47s84, que perdurava por quase oito anos. Em março, Bernard nadou em 47s60, depois em 47s50. Em agosto, Sullivan fez 47s24. No Cubo d'Água, o recorde trocou de mão duas vezes e ficou mesmo com Sullivan, 47s05.


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