São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011

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Operária ajuda a reerguer arena feita por seu pai

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Ela tem nome de craque e ganha a vida em estádio de futebol. A pedreira Francisca Falcão Damasceno, 33, é conhecida apenas como "Falcão" no seu local de trabalho, o Castelão, em Fortaleza, uma das sedes da Copa-14.
Falcão trabalha há três meses na reconstrução da arena que, no fim da década de 60, seu pai, Juracy, e seu avô Zacarias ajudaram a erguer.
"Foi uma coincidência bonita. Para mim, é uma honra estar onde eles estiveram."
Casada com um vendedor, a ex-dona de casa tem quatro filhos e dois netos. Há cerca de dois anos, decidiu trabalhar. Escolheu a profissão do pai e fez curso de pedreiro.
"Desde os oito anos eu acompanhava meu pai nas obras, e ele me mostrava como fazia a massa, assentava o tijolo, dava o acabamento." Formada, Falcão penou para arrumar emprego. "Senti o preconceito. Ouvia grosserias e muita piada velha, como aquela que chama mulher de piloto de fogão."
Ela insistiu e foi contratada para a obra do Hospital da Mulher. Um ano depois, veio a oportunidade no Castelão. No estádio, Falcão faz de tudo um pouco: prepara cimento, carrega entulhos, faz acabamento. "Não vou dizer que não cansa, mas quando eu visto a farda de pedreira me sinto uma guerreira."
A operária recebe até R$ 1.200 por mês, com horas extras. Com o primeiro salário, comprou a prazo uma "cinquentinha". "Pago a moto e ainda sobra para comprar um perfume e uma roupa."
Nos próximos meses, seu dinheiro terá outro destino. Irá ajudar o filho Amsterdam, 16, a tentar ser jogador de futebol e, quem sabe, atuar no estádio que três gerações da família ajudaram a construir.


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