São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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STOP & GO
Silêncio

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Irvine está na Stewart, e não seria apenas ilação afirmar que Barrichello está na Ferrari.
A coisa está por detalhes, e o jogo de cena só acaba na primeira quinzena de setembro, quando Ford e Ferrari prometem anúncios para o ano 2000.
Barrichello, então, poderá quebrar seu voto de silêncio, e é aí que começa o problema. O piloto não é conhecido por declarações felizes nem por reflexões profundas -quando tenta, aliás, não se sai muito bem.
E, com seu italiano dos tempos de F-3 e o português nativo, será obrigado a sustentar dois discursos díspares em forma e essência -a de cordato segundo piloto diante da feroz mídia italiana e a de "a coisa não é bem assim" aos deslumbrados microfones e às câmeras do bananal.
Não será fácil, seja pela dualidade dos dois personagens que terá de representar, seja pela sua própria personalidade.
Barrichello é autêntico. Crê piamente na importância da bandeira brasileira no bolso do macacão e na graça símia daquilo que chama de sambadinha. É, enfim, mais um garoto de classe média de notável habilidade -como alguns outros poucos moleques de talento que acabam dissecados pela mídia de um país sem política de desenvolvimento do esporte-, seguro de que faz a coisa certa.
Segurança essa vista pelo grande público como empáfia e não como certeza de resultado após tantos anos de fila.
Barrichello, no imaginário coletivo, está a anos-luz de um Fernando Scherer que afirma um dia antes de nadar os 50 m que, se acertar a primeira braçada, ganha. E ganha.
Não há comparação, nem de situação nem de esporte, mas ela é feita. E Barrichello perde feio.
Uma Ferrari não muda essa situação, ainda mais com o alemão no time. Mas isso não será dito, óbvio, até a próxima temporada começar. Caberá a Barrichello deixar isso bem claro, em italiano e em português.
Será, porém, capaz?

NOTAS

Cart x IRL
As duas entidades têm apenas algumas semanas para acertar a fusão caso queiram de fato se unir já em 2000. O impasse da história, segundo a mídia inglesa, está na GM, que domina a liga de Tony George com seu Oldsmobile, nem um pouco disposta a torrar dinheiro competindo com os monstruosos orçamentos de Mercedes, Ford, Honda e Toyota. Alguém terá que ceder, mas pelo histórico é provável que a divisão, comprovadamente nefasta para ambas as partes, continue.

Indy
Pesada a contratação de Gil e de Moore, dois eternos insatisfeitos com seus times, por Roger Penske. Agora vai?

F-1
O fiasco completo roça a McLaren. Se a reação não vier na Hungria e na Bélgica, a coisa ficará pior a partir de Monza, pois Schumacher, com unhas e dentes, vai ajudar Irvine em busca de seu crédito no título.


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