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Caótico e ameaçado pelo rebaixamento, clube gaúcho assiste à disseminação de seu espírito guerreiro por ex-atletas
Grêmio, 100, vê a consagração nos outros
ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 100 anos, nunca tinha sido
assim. Justamente agora, quando
festeja seu centenário, o Grêmio
encara uma via-crúcis sem precedentes. A performance do time de
futebol do clube é, de longe, a pior
desde 1903. Amanhã, data do aniversário, há pouco a comemorar.
Outrora poderoso e vencedor, o
Grêmio teve o orgulho ferido em
todas as frentes em 2003.
Em âmbito regional, fez a campanha mais desastrosa de sua história no Campeonato Gaúcho, eliminado sem vencer um jogo.
No Brasil, vaga há três meses pela zona de rebaixamento de um
campeonato nacional que, para
aumentar o sofrimento, será o
mais longo de todos os tempos.
A América do Sul ainda lhe ofereceu alguma ilusão. Aos trancos
e barrancos, chegou às quartas-de-final da Taça Libertadores,
mas acabou eliminado por uma
equipe inexpressiva, o Independiente de Medellín, da Colômbia.
No meio de tanto caos, o Grêmio pelo menos assiste à consagração de seu estilo: nada menos
do que seis técnicos do Brasileiro-2003 passaram, como jogadores,
pelo clube. E levaram consigo o
espírito guerreiro que o caracterizou e o fez levantar tantas taças,
entre elas a do Mundial interclubes, conquistada em 1983.
A começar pelo próprio Adílson
Batista, 35, atual treinador da
equipe porto-alegrense. Ele foi o
capitão de uma das conquistas
mais memoráveis destes 100 anos
(o bicampeonato continental, em
1995) e hoje é o responsável por
evitar o temido rebaixamento.
"É a hora de o verdadeiro homem se superar. Já vi isso aqui no
Grêmio", diz Adílson, otimista.
Como ele, Cuca, 40, também
tem as melhores recordações de
sua passagem de quatro anos e
cinco títulos pelo Olímpico.
"Devo muito do que sei ao Grêmio. O espírito gremista, aliado à
qualidade técnica, transforma
qualquer time numa maravilha",
afirma Cuca, que conduziu o
Goiás a uma reviravolta impressionante no Nacional. O treinador
tirou os goianos da lanterna e ostenta uma invencibilidade que já
dura 14 jogos, recorde do torneio.
O sangue gremista também corre nas veias do Coritiba, treinado
por Paulo Bonamigo, 43. Ignorado no início da competição, o clube paranaense é uma das principais surpresas do Brasileiro. Ocupa a quarta posição e é candidato
a uma vaga na Libertadores.
Bonamigo construiu sua carreira no Grêmio, o qual defendeu
por quase uma década e ganhou,
por exemplo, a Libertadores em
1983. Identificado com o clube,
guardava um segredo a sete chaves: sempre foi torcedor do Internacional, o eterno arqui-rival.
"Procurava jogar bem nos clássicos Gre-Nal para, um dia, ser
procurado por meu clube de coração", conta. Realizou o sonho
entre 1989 e 1991, mas sem o mesmo sucesso. "Não fazia tantos gols
como no Grêmio e era vaiado."
Dirigido por Leão, 54, o Santos
também tem um pouco da estirpe
tricolor. No Grêmio, o goleiro
conquistou o Brasileiro de 1981 e
aprendeu, conforme já admitiu,
boa parte do rigor e disciplina hoje tão temidos por seus atletas.
Mário Sérgio, 53, e Mauro Galvão, 42, são os outros treinadores
que carregam o espírito gremista.
O primeiro, hoje no Atlético-PR, foi campeão mundial em
1983. O segundo, comandante do
Vasco, encerrou no clube gaúcho
a longa carreira de 22 anos.
Outro rebaixamento
Nunca tinha sido assim, mas já
foi ruim também. Em 1991, o Grêmio ficou em penúltimo lugar no
Campeonato Brasileiro e caiu para a segunda divisão. Sua campanha só não foi pior do que a deste
ano porque no Estadual, ao menos, a equipe foi finalista -perdeu a taça para os colorados.
Sua volta à elite, porém, seria
ainda mais vergonhosa: houve virada de mesa e, em vez de dois
promovidos, 12 subiram. Até hoje
o ascenso é motivo de piada.
Desta vez, o destino de Palmeiras e Botafogo, rebaixados no ano
passado e que disputam a Série B
nesta temporada, serve como
alerta para o clube gaúcho.
O resumo da ópera quem dá é
Hélio Dourado, que presidia o
Grêmio em 1977, quando o time
interrompeu série de oito anos de
títulos do Inter, e hoje faz oposição aberta à administração em
curso. "Que sejamos melhores do
que os dois piores." É o que basta
para um centenário feliz.
Colaborou Léo Gerchmann,
da Agência Folha, em Porto Alegre
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