São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2001

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OLIMPÍADA

Agência Mundial estuda diferenciar as "drogas sociais" das substâncias usadas só para melhorar o desempenho

Doping reenquadra maconha e cocaína

MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Wada (Agência Mundial Antidoping) quer tratar as "drogas sociais" como tal e planeja mudá-las de categoria no "Index" da medicina esportiva.
Atualmente, o doping de performance e o doping social prevêem punições idênticas caso os exames constatem a presença de substâncias proibidas na urina do atleta examinado.
A idéia é inscrever o segundo tipo de drogas em uma lista de substâncias proibidas por um código de ética esportiva.
A intenção da agência internacional é instituir um regulamento que harmonize a fixação das penas contra os dopados a partir de 1º de janeiro de 2003. Segundo o projeto que será colocado em votação, os casos de doping seriam tratados de maneira diferente, mas a punição estipulada deverá seguir, em todos os países, o previsto no Código Internacional Antidoping -documento que será publicado no final de 2002.
A Wada já substitui o COI (Comitê Olímpico Internacional) na realização dos testes antidoping desde 1999. Com sede em Lausanne (Suíça) e com mudança para Montréal (Canadá) marcada para o ano que vem, a entidade é formada metade por governos e metade por entidades esportivas.
A formatação do documento que fixe penas idênticas para casos idênticos é defendida pelos representantes brasileiros no Comitê Executivo da entidade.
Eduardo Henrique de Rose, médico e conselheiro do COI e da WADA, defende a proposta.
Segundo ele, cujo assento na entidade está na metade reservada ao movimento olímpico, as drogas sociais não melhoram a performance e não podem ser tratadas como um esteróide.
"A discussão sobre a diferença entre o doping convencional e o social é bastante controvertida, mas eu faço parte do grupo daqueles que acreditam que existe uma diferença. A classe médica é contra a inclusão de algumas drogas sociais como substâncias dopantes pelo simples fato de elas não terem essa propriedade", diz.
"Acredito, entretanto, que as ditas drogas sociais devem ser proibidas porque elas não combinam com a filosofia do olimpismo. Um atleta tem que ter um padrão de comportamento porque ele é um exemplo para a juventude", afirma De Rose, para quem doping deveria ser registrado quando um atleta é flagrado com drogas que aumentam a sua capacidade de rendimento por um período equivalente ao de uma competição.
Para ele, maconha e cocaína não têm essa propriedade, apesar de terem de ser combatidas no meio esportivo. Já a heroína deve ser mantida como doping, já que o efeito analgésico da morfina, que entra em sua composição, pode alterar a performance.
O representante do governo brasileiro na Wada, Lars Grael, concorda com De Rose.
Grael, que além disso preside o Conselho Sul-Americano de Desporto, diz que o Brasil está apto a votar a favor da proposta de modificação do status da maconha e da cocaína, mas que isso ainda depende da ratificação do Ministério dos Esportes e Turismo.
Já em relação ao Conselho, que também tem assento e direito a voto na Wada, Grael foi mais comedido. A posição da entidade será decidida em um encontro em outubro, em Lima (Peru).
"A tendência é de aprovação da proposta, mas isso ainda será votado. Eu, pessoalmente, sou a favor. A droga não ajuda no rendimento, pelo contrário. Ela deve ser proibida, claro. Mas existe uma diferença entre doping convencional e social", disse ele.
Além de apoiar a "requalificação" da cocaína e da maconha, o governo brasileiro deve assinar a incorporação das normas internacionais que serão propostas pelo Código da Wada no direito interno. "É absolutamente correto que haja uma equiparação entre as normas para evitar algumas decisões casuísticas de alguns tribunais nacionais, que agem de acordo com seus interesses. Mas tudo isso, é bom que se lembre, depende da tramitação legal e da aprovação do Congresso", diz Grael.


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