São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2001

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"A maconha fechou portas", diz Jura

MAÉRCIO SANTAMARINA
DA REPORTAGEM LOCAL

A favor da diferenciação das punições para o doping social e o doping de performance, o lateral-direito Jura, 30, afirma estar pagando até hoje pelo problema que viveu no Campeonato Paulista de 1999, quando seu exame deu positivo para o uso de maconha.
Ele defendia a Inter de Limeira na primeira divisão do Estadual. Atualmente, joga no XV de Piracicaba, que está na Série B do Brasileiro, mas no Paulista disputa a terceira divisão.
"A maconha fechou as minhas portas. Todo mundo reconhece que meu nível é de divisão de elite, mas, na hora de me contratar, desistem quando vão pedir informações aos meus ex-clubes e ficam sabendo do doping. Com a carência de laterais no Brasil, tenho despertado interesse em vários clubes, mas estou sendo punido por um ato do passado", afirma, jurando arrependimento.
Ele chegou, por exemplo, a integrar uma lista de reforços pretendidos pelo Corinthians, indicado pelo atacante Dinei, também envolvido em caso de doping, mas por cocaína.
Elogiado pelos dirigentes do XV de Piracicaba, que se vêem beneficiados pelo episódio -uma vez que, em crise financeira, dificilmente o clube teria condições de contratar um jogador do seu nível-, Jura admite que usou maconha 15 dias antes do jogo em que ocorreu o flagrante -no dia 13 de fevereiro daquele ano, contra o Rio Branco.
"Não imaginei que fosse doping. Afinal, não fumei maconha para subir de rendimento no jogo. Aliás, com essa droga você fica mais sonolento, mais devagar em campo. O rendimento de quem fuma diminui. Por isso, não acho justo ser punido como se tivesse usado algo para ficar mais forte e ágil", argumenta ele.
Na época, o lateral afirma que foi abandonado pela Inter de Limeira. "O clube nem sequer pagou o meu salário depois que ocorreu o problema. E justo na hora que a gente mais precisa de ajuda", afirma ele.
O diretor de marketing da Inter de Limeira, José Roberto Soares, nega que tenha havido um abandono por parte do clube.
"O Jura teve todo o apoio necessário. Ele está sendo ingrato. A Inter pagou um excelente advogado para defendê-lo. Demos todo apoio jurídico e moral. Só paramos de pagar o seu salário quando o contrato foi cancelado, posteriormente, após o Jura ter sido julgado e condenado", declara.
Na época, ele teve de cumprir uma suspensão de 120 dias, conforme pena aplicada pelo Tribunal de Justiça Desportiva.
Jura frequentou um centro de recuperação de viciados em São Paulo, o mesmo de Dinei, e afirma que nunca mais usou droga nenhuma.
Agora, diz que pensa apenas em sua carreira e em ajudar a sua família. Ainda sonha em voltar a ser ídolo em um time grande antes de se aposentar.
"Tive raras chances de me expressar na época, mas o importante é que, para mim, dei a volta por cima. Estou em paz comigo e com a minha família. E ainda acredito em voltar para a primeira divisão", afirma o lateral.


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