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FUTEBOL
Passado, presente e futuro
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Em todas as áreas, as pessoas
descobrem e enxergam o que
querem descobrir e enxergar.
Quase nada é por acaso. Conduzem o raciocínio e chegam às conclusões de acordo com seus conhecimentos, vivências e desejos
conscientes e inconscientes. Não
há observador totalmente neutro.
É o que se vê na atual discussão
entre o futebol do passado e o do
presente.
Intencionalmente ou não, Scolari aproveita as entrevistas coletivas para ironizar e desrespeitar
o futebol e os campeões de outras
épocas, utilizando expressões
chulas e grosseiras.
Felipão não está só. No "Jornal
do Brasil" de domingo, o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos
fez uma crônica irônica e extremamente crítica sobre a seleção
de 70. Ele assistiu ao teipe da final
contra a Itália e disse, entre muitas outras coisas, que o futebol arte era muito chato, medíocre e
que naquela época era muito fácil
de se jogar.
Hoje, alguém (não sei quem)
defenderá o contrário no mesmo
jornal. Deveria aguardar o segundo ponto de vista para me manifestar, mas não controlei minha
ansiedade. Além disso, nessa semana estarei de férias e quero dar
minha opinião.
Para salientar a lentidão para
ele irritante -nas partidas daquela época- Joaquim Ferreira
exemplificou que Gerson andava
quarenta metros com a bola antes
de dar um passe. Joaquim não sabe que a tática adotada pela Itália para esse jogo foi a de recuar
todos os armadores e defensores
para a entrada da área, fechar os
espaços e contra-atacar. Foi o que
fez o Felipão na recente partida
contra a Argentina.
Por isso, Gerson e Rivelino jogaram livres no meio-campo. Chutaram muitas bolas de fora da
área. Foi assim no segundo gol do
Brasil. Se Rivelino estivesse com a
canhotinha calibrada, teria feito
um ou dois gols. Por outro lado,
por faltar espaços perto da área,
Pelé, Jairzinho e Tostão não apareceram. Quase não toquei na bola.
Por causa dessa marcação, foi
também a pior partida da seleção
brasileira na Copa. Os gols saíram de belíssimas jogadas isoladas e individuais. Além disso, em
função do nervosismo é muito comum, em todo o mundo, em todos os níveis e em todos os campeonatos, as partidas finais serem
fracas.
O futebol era muito mais lento
do que o atual, mas era muito
mais criativo. Tocava-se mais a
bola, sem pressa, até achar um espaço para fazer o gol. Era o grande diferencial das equipes brasileiras. Hoje, corre-se muito, sem
inteligência e objetividade. É a
velocidade burra. Os jogadores
têm pressa de jogar ao gol. Cruza-se muito bolas na área. Essa era a
principal jogada dos europeus.
Copiamos o feio e o errado e eles
importaram o bonito e o certo.
Há, hoje, um equilíbrio técnico.
Eles ganham na organização fora
de campo e em outros detalhes.
Há tempos, assisti todos os teipes das partidas da Copa de 70 e
não somente a contra a Itália.
Tentei ver com olhar técnico, crítico e imparcial de um comentarista e não com o olhar de um ex-jogador.
Presenciei muitos erros individuais e coletivos. A seleção escolhida pelos críticos que entendem
de futebol como a melhor equipe
do mundo de todos os tempos não
era a maravilha que a maioria fala, mas era excepcional e irresistível para a época.
As pessoas que não assistiram à
Copa e vêem o teipe ficam frustradas porque idealizam um time
perfeito. A perfeição só existe na
nossa imaginação. A imagem
destrói a fantasia. Daí, o eterno
encanto do rádio.
Os extremos são indesejáveis.
Não se pode ver o futebol do passado com o olhar pragmático e estreito de hoje, nem ver o atual futebol com o olhar romântico e
saudosista. São estilos diferentes.
Não dá para transportar o futebol do passado para hoje, mas dá
para sonhar com a união de beleza, toque de bola e talento com
velocidade, disciplina tática e forte marcação, sem violência.
Para isso, as mudanças precisam começar nas categorias de
base dos clubes e da seleção. Os jovens têm de ser dirigidos por profissionais experientes e comprometidos com uma nova filosofia.
Não é o que assistimos.
O supervisor da seleção, Antônio Lopes, num claro nepotismo,
escalou seu filho para dirigir a seleção brasileira sub-16, como noticiou a Folha. O futebol é um retrato da vida brasileira.
Aviso
Nesta semana, darei um descanso para os leitores. Voltarei na
quarta-feira, dia 24. Até lá!
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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