|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Sem vexame e sem brilho
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Compreensivelmente, muita gente torceu o nariz
para Magrão como titular da seleção brasileira. Muitos guardaram a imagem de um jogador
"raçudo" demais - isto é, violento. Mas ele evoluiu nos últimos
anos, mantendo a aplicação incansável e se aperfeiçoando cada
vez mais no posicionamento, na
antecipação e no desarme. Não
que seja uma flor de delicadeza,
mas até o Kaká faz faltas duras.
Magrão também ganhou em
confiança e domínio de bola e fez
partidas ótimas pelo Palmeiras
- armou contra-ataques, fez
lançamentos precisos e tabelas e
em noites mais inspiradas driblou
e finalizou muito bem. Apesar de
ser mais conhecido pela famosa
garra, ele sabe jogar. Não o estou
promovendo a Falcão, mas acho
que acontece com ele o que acontece com muitos outros: o fenômeno "não preciso ver para saber
que não gosto". Quando Tinga foi
convocado por Felipão, aposto
que a maioria que discordou do
seu nome tinha visto pouquíssimas partidas dele no Grêmio. O
mesmo vale para Gilberto Silva e
Kleberson, que haviam feito um
excelente Brasileiro em times de
pouca exposição na mídia nacional - e que bela Copa fizeram.
Na partida de ontem, Magrão
estava tímido, contido, visivelmente preocupado em guardar
posição e não fazer bobagem. Obviamente, ele não chegaria querendo se impor na seleção como
faz no Palmeiras - deve ser engraçado passar de manda-chuva
a caçula - mas aos poucos ganhou confiança e se soltou mais.
É estranho dar tanto destaque
ao Magrão, mas isso só acontece
porque é estranho vê-lo com a camisa 8. Eu, que gosto dele, não esperava jamais que isso acontecesse. Na verdade ele foi titular, mas
não é. Não fosse pelas contusões
de Edmilson, Gilberto Silva e Juninho Pernambucano, não teria
jogado. Jogou e não deu vexame.
A Colômbia parecia um time
treinado por Parreira - tocava a
bola pacientemente, procurando
mantê-la consigo o maior tempo
possível, e mantinha um bom número de jogadores atrás da linha
da bola. Houve um otimismo
exagerado para esse confronto -
muitos apostaram em goleada,
quando era óbvio que a Colômbia marcaria mais e melhor que a
Venezuela. Aliás, o jogo em Caracas foi legal, mas não foi uma exibição de gala. Houve vários lances de efeito, muitos gols, o que é
muito bom. Mas o Brasil pegou a
Venezuela "se achando", partindo para cima, e isso ajudou.
Até a metade do segundo tempo, o Brasil foi correto e sem brilho. Depois ousou mais, mas também se desorganizou. Zé Roberto
e Renato jogaram soltos, mas precisávamos de mais de passes,
mais proximidade entre meias e
laterais, mais finalizações. Cafu e
Roberto Carlos são dois monstros,
mas acertaram poucos cruzamentos. Ronaldo e Ronaldinho ficaram devendo. É bom ouvir o reconhecimento de que Kaká e Juninho Pernambucano fazem falta
- demorou! - mas já tivemos
dificuldades com eles em campo...
A seleção continua não sendo um
time coeso, consistente. Não sei se
um dia será.
Boa diversão
Se não for por diversão, pelo
prazer da discussão, por que
comparar Pelé e Maradona, Pelé e Ronaldo, Zico e Romário?
Enumerar as qualidades de cada um é legal, mas levar a disputa a sério demais, como os
próprios jogadores às vezes fazem, é bobagem. E concordo
com Ronaldo: é esquisito se
proclamar o melhor. Os números (gols feitos etc.) tampouco
são prova incontestável de superioridade, porque ignoram
diferenças importantes (posição, companheiros, rivais, condições de modo geral). A eleição de melhor do ano tem um
tanto de papagaiada, que dirá a
de melhor de uma geração...
Melhores do ano
Para mim, Henry e Ronaldinho
Gaúcho.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Será o campeão? Próximo Texto: Panorâmica - Futebol: Tite prepara o Corinthians para bola parada Índice
|