São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Sem vexame e sem brilho

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Compreensivelmente, muita gente torceu o nariz para Magrão como titular da seleção brasileira. Muitos guardaram a imagem de um jogador "raçudo" demais - isto é, violento. Mas ele evoluiu nos últimos anos, mantendo a aplicação incansável e se aperfeiçoando cada vez mais no posicionamento, na antecipação e no desarme. Não que seja uma flor de delicadeza, mas até o Kaká faz faltas duras.
Magrão também ganhou em confiança e domínio de bola e fez partidas ótimas pelo Palmeiras - armou contra-ataques, fez lançamentos precisos e tabelas e em noites mais inspiradas driblou e finalizou muito bem. Apesar de ser mais conhecido pela famosa garra, ele sabe jogar. Não o estou promovendo a Falcão, mas acho que acontece com ele o que acontece com muitos outros: o fenômeno "não preciso ver para saber que não gosto". Quando Tinga foi convocado por Felipão, aposto que a maioria que discordou do seu nome tinha visto pouquíssimas partidas dele no Grêmio. O mesmo vale para Gilberto Silva e Kleberson, que haviam feito um excelente Brasileiro em times de pouca exposição na mídia nacional - e que bela Copa fizeram.
Na partida de ontem, Magrão estava tímido, contido, visivelmente preocupado em guardar posição e não fazer bobagem. Obviamente, ele não chegaria querendo se impor na seleção como faz no Palmeiras - deve ser engraçado passar de manda-chuva a caçula - mas aos poucos ganhou confiança e se soltou mais.
É estranho dar tanto destaque ao Magrão, mas isso só acontece porque é estranho vê-lo com a camisa 8. Eu, que gosto dele, não esperava jamais que isso acontecesse. Na verdade ele foi titular, mas não é. Não fosse pelas contusões de Edmilson, Gilberto Silva e Juninho Pernambucano, não teria jogado. Jogou e não deu vexame.
A Colômbia parecia um time treinado por Parreira - tocava a bola pacientemente, procurando mantê-la consigo o maior tempo possível, e mantinha um bom número de jogadores atrás da linha da bola. Houve um otimismo exagerado para esse confronto - muitos apostaram em goleada, quando era óbvio que a Colômbia marcaria mais e melhor que a Venezuela. Aliás, o jogo em Caracas foi legal, mas não foi uma exibição de gala. Houve vários lances de efeito, muitos gols, o que é muito bom. Mas o Brasil pegou a Venezuela "se achando", partindo para cima, e isso ajudou.
Até a metade do segundo tempo, o Brasil foi correto e sem brilho. Depois ousou mais, mas também se desorganizou. Zé Roberto e Renato jogaram soltos, mas precisávamos de mais de passes, mais proximidade entre meias e laterais, mais finalizações. Cafu e Roberto Carlos são dois monstros, mas acertaram poucos cruzamentos. Ronaldo e Ronaldinho ficaram devendo. É bom ouvir o reconhecimento de que Kaká e Juninho Pernambucano fazem falta - demorou! - mas já tivemos dificuldades com eles em campo... A seleção continua não sendo um time coeso, consistente. Não sei se um dia será.

Boa diversão
Se não for por diversão, pelo prazer da discussão, por que comparar Pelé e Maradona, Pelé e Ronaldo, Zico e Romário? Enumerar as qualidades de cada um é legal, mas levar a disputa a sério demais, como os próprios jogadores às vezes fazem, é bobagem. E concordo com Ronaldo: é esquisito se proclamar o melhor. Os números (gols feitos etc.) tampouco são prova incontestável de superioridade, porque ignoram diferenças importantes (posição, companheiros, rivais, condições de modo geral). A eleição de melhor do ano tem um tanto de papagaiada, que dirá a de melhor de uma geração...
Melhores do ano Para mim, Henry e Ronaldinho Gaúcho.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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