São Paulo, Domingo, 14 de Novembro de 1999
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Ronaldo, o turista nada acidental

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Pensemos juntos: se Ronaldo tivesse ido para a Espanha participar do jogo de ontem da seleção principal, não teria havido problema algum entre a Inter de Milão e a CBF.
Mas ele precisou ir para a Austrália, a fim de evitar o cancelamento dos jogos dada a justa ira dos locais, que se sentiram enganados.
Pois foi e lá fez sua parte: treinou, cumpriu a programação como garoto-propaganda da Nike, tudo em meio a pendenga entre os italianos e a CBF.
Mas nem na cabeça de Ricardo Teixeira pode ter passado a idéia de que não deveria ser contabilizado um jogo para o qual Ronaldo foi convocado e não disputou por estar machucado.
Até os cangurus sabiam qual seria a decisão da Fifa.
Aí, Wanderley Luxemburgo, extrapola: ou joga os dois jogos ou não joga nenhum, decisão que não lhe cabia.
Qual é a lógica, santo padre?
É a mesma que "castigou" Felipe fazendo exatamente o que Eurico Miranda queria.
Mas tem mais: Ronaldo virou problema, não anda jogando bem, todos sabem.
Na Espanha seria difícil não escalá-lo.
Na Austrália achou-se um argumento, duplamente útil.
Luxemburgo fica com o sentimento de que tirou a culpa da CBF e a jogou nas costas da Fifa.
E se livrou de Ronaldo.
É o crime continuado, o mesmo que começou ainda na Copa da França.
O pior é que as pessoas se voltam contra Ronaldo, não entendem que ele é vítima, boi de piranha. Nem ele entende, aliás.
E se não entender logo quem são as pessoas que o cercam, vai acabar.
Acaba rico, mas acaba.
E você retruca: "Tudo bem, mas será que não dá para falar de futebol? As quartas-de-final começam hoje!"
É que você não pode imaginar quantas mensagens eletrônicas a coluna recebeu de torcedores que disseram ter rompido com o futebol depois dos últimos acontecimentos.
É verdade que até esses deverão acompanhar os jogos de hoje, porque paixão é paixão, vício é vício.
Então, vamos lá.
Guarani x Corinthians: será mais difícil para o jovem time campineiro chegar às semifinais do que para o Gama não cair, apesar da defesa corintiana.
Galo x Cruzeiro: clássico é clássico em termos.
Em até três jogos o melhor prevalece, e, massa por massa, a do Cruzeiro faz tempo que é igual à do Atlético.
Por isso é o Cruzeiro que deve ir enfrentar o Vasco nas semifinais, a menos que o Vitória goleie (mas como?!!!) no Barradão.
São Paulo x Ponte Preta: é imprevisível mesmo.
Se a Ponte for adiante, não passará pelo Corinthians.
Se o São Paulo passar, pode até ir às finais, mas não ganha de Cruzeiro ou Vasco.
E de onde saiu tanta arrogância? Do mesmo lugar que leva esta coluna a afirmar que o Brasil perdeu ontem para a Espanha (escrevo na sexta-feira) e que a levou, no começo do Campeonato Brasileiro, a apontar Corinthians, Vasco, Palmeiras e Cruzeiro como favoritos ao título, por não imaginar que o relaxamento alviverde depois da conquista da Libertadores da América viria tão logo.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças-feiras e às sextas-feiras


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