São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2001

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FUTEBOL

Felipão escutou a Marlene

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Um número crescente de torcedores pensa que somente com a desclassificação do Brasil ocorrerão grandes mudanças no futebol brasileiro. Dentro e fora de campo. Para eles, no início haverá tristeza, apatia, queda no prestígio do futebol, mas logo se adaptarão à realidade. Os técnicos mudarão seus conceitos e haverá uma profunda e radical transformação nas administrações da CBF, dos clubes, das federações e em vários outros setores.
Se apenas a razão conduzisse as nossas vidas, concordaria com esse lógico raciocínio. Como não somos somente seres realistas e racionais, torcerei para a seleção. Melhor ficar alegre do que triste.
A classificação também não irá interromper as mudanças já iniciadas no futebol.
Elas são inevitáveis. No máximo, serão adiadas.
A partida decisiva de hoje deveria ser no Maracanã, grande palco do futebol brasileiro. Lamentável também que o jogo sirva de oportunidade para festa e troca de favores entre dirigentes de todo o Brasil e de palanque eleitoral da simpática governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
Vamos falar do jogo.
Felipão atendeu aos apelos da torcedora Marlene. Barrou o Vampeta e deve escalar somente um volante e quatro jogadores com características ofensivas.
O time vai jogar com três zagueiros, dois alas, um volante, dois meias ofensivos e dois atacantes. É um esquema parecido com o da Argentina. O técnico Marcelo Bielsa troca um armador ofensivo por mais um atacante.
A grande diferença é que a Argentina tem um organizador no meio-campo, que toca bem a bola, cadencia o jogo e aparece na frente. Juninho e Rivaldo são meias ofensivos. Atuam da intermediária para o gol.
Com apenas um volante, os alas não podem atuar apenas na lateral. Terão de se aproximar do volante (Emerson) e também se tornar armadores.
Se os três zagueiros atuarem muito recuados, os meias e atacantes bastante adiantados e os alas encostados na lateral, haverá um grande vazio no meio-campo. Aí os armadores da Venezuela vão deitar e rolar.
Como a seleção não sabe jogar com três zagueiros, o mais sensato seria a equipe atuar no esquema tradicional brasileiro (4-4-2). Quem não sabe inovar repete. É mais fácil e seguro.
Com dois ou três zagueiros, estou menos pessimista.
O Brasil terá quatro jogadores com boa capacidade ofensiva.
No meu time, esses quatro seriam Ricardinho, do Corinthians, ou Juninho Pernambucano na armação pelo meio, Rivaldo avançado pela esquerda, Ronaldinho pela direita e França ou Romário de centroavante.
Uma convincente vitória sobre a Venezuela não apagará a péssima campanha da seleção nas eliminatórias. Dizer que o objetivo foi alcançado não é verdade.
A meta seria formar um excelente time para disputar a Copa do Mundo.
Se o Brasil não vencer, dificilmente o Uruguai ganhará da Argentina. Aí teremos de agradecer humildemente a ajuda e suportar a gozação dos argentinos. Melhor do que ficar fora do Mundial.

Defesa e ataque
A melhor maneira de se jogar defensivamente e no contra-ataque é formar uma linha mais recuada de quatro defensores, outra de quatro armadores próximos dos zagueiros e mais dois atacantes. Foi o que fez o Parreira na vitória do Internacional contra o Fluminense.
O habilidoso Roger não teve chances de organizar as jogadas entre os armadores e zagueiros, nem os velozes Roni e Magno Alves tiveram espaços para receber a bola na frente.
O esquema com quatro zagueiros é melhor para se jogar no contra-ataque, e o com três para se atuar no ataque.
A seleção argentina, o Grêmio e o Atlético-PR, equipe que fez mais gols no Campeonato Brasileiro, jogam com três zagueiros, marcam por pressão e são bastante ofensivos.
O São Paulo tem muita força ofensiva, um brilhante trio de atacantes (Kaká, França e Luis Fabiano), mas os dois zagueiros ficam muito desprotegidos, sem cobertura. Daí a irregularidade da equipe. Volante não é um terceiro zagueiro, como falam alguns treinadores.
O São Caetano, que também joga com quatro zagueiros, é a equipe que sofreu menos gols no campeonato. Leva poucos e faz muitos gols. Há um equilíbrio entre a defesa e o ataque. Isso é essencial.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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