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FUTEBOL
Felipão escutou a Marlene
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Um número crescente de torcedores pensa que somente
com a desclassificação do Brasil
ocorrerão grandes mudanças no
futebol brasileiro. Dentro e fora
de campo. Para eles, no início haverá tristeza, apatia, queda no
prestígio do futebol, mas logo se
adaptarão à realidade. Os técnicos mudarão seus conceitos e haverá uma profunda e radical
transformação nas administrações da CBF, dos clubes, das federações e em vários outros setores.
Se apenas a razão conduzisse as
nossas vidas, concordaria com esse lógico raciocínio. Como não somos somente seres realistas e racionais, torcerei para a seleção.
Melhor ficar alegre do que triste.
A classificação também não irá
interromper as mudanças já iniciadas no futebol.
Elas são inevitáveis. No máximo, serão adiadas.
A partida decisiva de hoje deveria ser no Maracanã, grande palco do futebol brasileiro. Lamentável também que o jogo sirva de
oportunidade para festa e troca
de favores entre dirigentes de todo o Brasil e de palanque eleitoral
da simpática governadora do
Maranhão, Roseana Sarney.
Vamos falar do jogo.
Felipão atendeu aos apelos da
torcedora Marlene. Barrou o
Vampeta e deve escalar somente
um volante e quatro jogadores
com características ofensivas.
O time vai jogar com três zagueiros, dois alas, um volante,
dois meias ofensivos e dois atacantes. É um esquema parecido
com o da Argentina. O técnico
Marcelo Bielsa troca um armador
ofensivo por mais um atacante.
A grande diferença é que a Argentina tem um organizador no
meio-campo, que toca bem a bola, cadencia o jogo e aparece na
frente. Juninho e Rivaldo são
meias ofensivos. Atuam da intermediária para o gol.
Com apenas um volante, os alas
não podem atuar apenas na lateral. Terão de se aproximar do volante (Emerson) e também se tornar armadores.
Se os três zagueiros atuarem
muito recuados, os meias e atacantes bastante adiantados e os
alas encostados na lateral, haverá
um grande vazio no meio-campo.
Aí os armadores da Venezuela
vão deitar e rolar.
Como a seleção não sabe jogar
com três zagueiros, o mais sensato
seria a equipe atuar no esquema
tradicional brasileiro (4-4-2).
Quem não sabe inovar repete. É
mais fácil e seguro.
Com dois ou três zagueiros, estou menos pessimista.
O Brasil terá quatro jogadores
com boa capacidade ofensiva.
No meu time, esses quatro seriam Ricardinho, do Corinthians,
ou Juninho Pernambucano na
armação pelo meio, Rivaldo
avançado pela esquerda, Ronaldinho pela direita e França ou
Romário de centroavante.
Uma convincente vitória sobre
a Venezuela não apagará a péssima campanha da seleção nas eliminatórias. Dizer que o objetivo
foi alcançado não é verdade.
A meta seria formar um excelente time para disputar a Copa
do Mundo.
Se o Brasil não vencer, dificilmente o Uruguai ganhará da Argentina. Aí teremos de agradecer
humildemente a ajuda e suportar
a gozação dos argentinos. Melhor
do que ficar fora do Mundial.
Defesa e ataque
A melhor maneira de se jogar
defensivamente e no contra-ataque é formar uma linha mais recuada de quatro defensores, outra de quatro armadores próximos dos zagueiros e mais dois
atacantes. Foi o que fez o Parreira
na vitória do Internacional contra o Fluminense.
O habilidoso Roger não teve
chances de organizar as jogadas
entre os armadores e zagueiros,
nem os velozes Roni e Magno Alves tiveram espaços para receber
a bola na frente.
O esquema com quatro zagueiros é melhor para se jogar no contra-ataque, e o com três para se
atuar no ataque.
A seleção argentina, o Grêmio e
o Atlético-PR, equipe que fez mais
gols no Campeonato Brasileiro,
jogam com três zagueiros, marcam por pressão e são bastante
ofensivos.
O São Paulo tem muita força
ofensiva, um brilhante trio de
atacantes (Kaká, França e Luis
Fabiano), mas os dois zagueiros
ficam muito desprotegidos, sem
cobertura. Daí a irregularidade
da equipe. Volante não é um terceiro zagueiro, como falam alguns treinadores.
O São Caetano, que também joga com quatro zagueiros, é a
equipe que sofreu menos gols no
campeonato. Leva poucos e faz
muitos gols. Há um equilíbrio entre a defesa e o ataque. Isso é essencial.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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