São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

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Os quase, os médios e o Viagra

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

² Talvez eu devesse começar falando dos classificados e dos rebaixados, dos times que subiram ao Olimpo das quartas-de- final ou dos que desceram ao inferno da segunda divisão, mas acho mais sutil dar um pouco de atenção aos times que ficaram no purgatório, aos times que não são nem sim nem não, mas quase.
São eles o Atlético-MG e o Paraná. O primeiro, até a última rodada, estava em sétimo lugar e tinha o artilheiro da competição, o segundo estava na 21ª posição e a um passo do rebaixamento. Porém nem o primeiro se classificou nem o segundo caiu. Ficaram no quase.
No caso do Atlético, o time não entrou por um triz. Empatou em pontos com o Grêmio e só perdeu no número de vitórias. Um pontinho a mais e os mineiros estariam agora de ressaca. Talvez até estejam, mas o motivo seria melhor.
Esse pontinho a mais poderia ter sido obtido se o Atlético tivesse transformado um de seus nove empates -foi o time que mais empatou no campeonato, junto com o Coritiba- em vitória. Duas bobeadas históricas, o 4 a 4 com o Santos e o 5 a 5 com o Botafogo, acabaram custando caro.
Já o Paraná, que era um desclassificado certo algumas rodadas atrás, depois de vencer o Santos na Vila Belmiro, deu uma bela arrancada e safou-se da segundona.
O Atlético deve estar se lamentando. O Paraná, comemorando. Os dois foram parar no purgatório, mas entraram por portas diferentes. Estão na mesma situação, mas um derrama lágrimas de tristeza, e o outro, de felicidade. Enfim, tudo é questão de ponto de vista.

Time médio mesmo foi o Internacional. Teve tantas vitórias quanto derrotas, acabou na 12ª posição entre os 24 concorrentes e fez tantos gols quanto levou.

Quanto aos duelos, Santos e Sport farão o combate entre o melhor ataque e a melhor defesa; Palmeiras e Cruzeiro devem fazer as melhores partidas; Corinthians e Grêmio devem ter os jogos com mais público; e Coritiba e Lusa farão a disputa dos desacreditados, pois ninguém punha muita fé nos dois no início do campeonato, e, no entanto, um deles estará entre os semifinalistas.

Sugiro que Celso Roth receba o troféu Viagra. Ele pegou um time em crise, cabisbaixo, tímido, encolhido, correndo risco de rebaixamento e conseguiu levá- lo à classificação. Transformou o Grêmio numa altaneira e bem disposta equipe, que enfrentou seus adversários de cabeça erguida e sem esmorecer jamais. Aqui em Porto Alegre, onde estou por causa da Feira do Livro -aliás, por que não há uma feira como esta em todas as cidades?-, houve até buzinaço no terceiro gol gremista. Mas o pior viria depois, no quarto gol.
Para minha surpresa, quando Zé Alcino definiu a classificação do time, os másculos gaúchos começaram a se abraçar no meio da rua, choravam uns nos ombros dos outros, e acho que só não trocaram beijos porque tinham medo de desmanchar o penteado dos vastos bigodes.

Já o troféu "Deus é justo" vai para o Bragantino, que deveria ter caído para a segunda divisão há dois anos.

²


José Roberto Torero escreve às terças-feiras e aos sábados



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