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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Técnico pedia ajuda aos veteranos nos tempos de Campo Grande, time pelo qual estreou, sem sucesso, em Nacionais

De Fusca, Luxemburgo penou no BR-83

TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano é 1983, e o cenário é o estádio Ítalo Del Cima. No banco de reservas, um treinador com cabelo black power faz a sua estréia como técnico à frente do modesto Campo Grande, do Rio, num Campeonato Brasileiro.
Vinte anos depois, o Mineirão em festa comemora a conquista do Nacional pelo Cruzeiro e no gramado o mesmo treinador, desta vez usando um alinhado traje social e de cabelos curtos, é reverenciado como o maior vencedor da competição ao se tornar campeão pela quarta vez.
Muita coisa mudou nesse hiato de 20 anos. Quando começou a dar seus primeiros passos na profissão, Wanderley Luxemburgo em nada lembrava a figura pomposa e vaidosa dos dias de hoje.
Figura simples, ele ia de Fusca até o campo para comandar os treinamentos do Campo Grande.
Apesar de ser um time considerado pequeno, a equipe carioca vinha de uma conquista da Taça de Prata -equivalente à atual Série B do Nacional- e logo de cara Luxemburgo teve que aprender a conviver com as cobranças.
Dono de uma personalidade forte, o treinador encarou a primeira dificuldade ao definir o seu grupo de trabalho. De acordo com Brás, um dos remanescentes do time que havia sido campeão pelo Campo Grande em 82, Luxemburgo teve um começo difícil.
"Ele trouxe o pessoal dele. Colocou o Raimundinho, o Carlos Antônio e o Israel e tirou o Pingo, o Tuchê e eu. Os resultados não vieram, e depois ele mudou. Eu não voltei a ser titular, mas depois fui utilizado com muito mais freqüência", afirma o ex-volante.
Apesar da pouca idade para técnico (Luxemburgo tinha 30 anos), a personalidade forte sempre foi sua marca. No entanto o treinador não hesitava em pedir a colaboração dos jogadores mais velhos na hora do jogo. "Ele sempre cobrava muito mais dos jogadores mais novos. Dizia sempre que a gente é que tinha que dar um algo mais", comentou Pingo, revelação do Campo Grande na temporada 82 e craque daquele time.
Mas se o então treinador tinha na dedicação aos treinos o seu ponto forte, o seu temperamento explosivo complicava as coisas.
Além de Brás, Luxemburgo teve problemas com o goleiro Zé Carlos (ex-Botafogo) e o lateral uruguaio Ramirez, que havia defendido anteriormente o Flamengo.
No Brasileiro de 83, chamado de Taça de Ouro, Luxemburgo durou oito partidas. Depois de terminar a primeira fase em quarto lugar, ele ainda teria de disputar uma repescagem, mas uma desavença com o vice-presidente Constantino Magalhães selou sua saída do Campo Grande.
"O Wanderley Luxemburgo nunca admitiu interferência na escalação dos jogadores. Quando tentaram dar os palpites, ele não aguentou. Achou melhor sair e deixar o lugar para outro", comentou o ex-volante Israel.
Ao falar com a reportagem da Folha sobre o seu começo, Luxemburgo foi econômico nas palavras. "O Campo Grande foi o primeiro clube em que eu trabalhei sozinho, como técnico. Trabalhar com jogadores mais velhos do que eu foi normal", falou o treinador. E encerrou o assunto.
Entre os ex-comandados de Luxemburgo no time carioca um traço do técnico sempre foi evidente: a cobrança. "Ele cobrava muito mesmo, e acho que por isso se tornou um vencedor. Ele era um cara humilde e tratava bem a gente. Acho até natural que na época de Campo Grande ele tenha feitos alguns inimigos ocultos, pois quem está fora quer entrar. Mas esse era o jeito dele", afirmou o ex-meia Lulinha, que trabalhou recentemente como técnico dos juniores do América-RJ.
Fora de campo, Luxemburgo também chamava atenção. Para o torcedor Humberto Costa, na época gandula do clube, apesar de se mostrar simples, Luxemburgo sempre teve o nariz empinado.
"Ele não tinha dinheiro, mas já tinha uma pose de Mauricinho. Aquele cabelinho, sapatinho engraxado e andar meio sem jeito era típico dele", afirmou Costa, que hoje é empresário.


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