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FUTEBOL
Corinthians jogou tudo em Dida
JOSÉ GERALDO COUTO
Depois de três semanas de férias,
volto na hora certa. Escrevo estas
linhas minutos depois da eletrizante decisão por pênaltis do
Mundial de Clubes da Fifa.
O Corinthians ganhou o principal título de sua história jogando
para não perder. O que não dá
para saber é se o time empurrou
conscientemente o jogo para os
pênaltis -entregando toda a responsabilidade nas mãos de Dida- ou se simplesmente não teve
pernas para jogar.
O alvinegro foi desmoronando
aos poucos: primeiro Ricardinho,
depois Vampeta, depois Edílson.
Luizão e Rincón continuaram
porque não podia mais entrar
ninguém.
O fato é que, nos pênaltis, toda a
dramaticidade se amplia, e os jogadores são alçados a heróis épicos. Dida, o herói corintiano, foi
feliz. Edmundo, o herói vascaíno,
não. Aliás, durante todo o jogo, os
astros -Edmundo, Romário,
Edílson, Marcelinho- estiveram
apagados. Não por acaso, o grande nome do jogo foi Amaral, atleta voltado muito mais para a destruição do que para a criação.
O primeiro tempo foi muito
mais do Vasco. Preocupado com a
dupla infernal Edmundo-Romário e jogando com um meio- campo meia-boca (Vampeta se arrastando, Ricardinho mancando,
Marcelinho ausente), o Corinthians deu espaço para os avanços
dos laterais Paulo Miranda e Gilberto e dos meias Juninho e Ramon.
O Vasco só pecou, a meu ver, ao
não liberar mais o meia Felipe,
que, jogando como segundo volante, só em duas oportunidades
pôde ajudar a semear o pânico no
sistema defensivo corintiano.
No segundo tempo, o setor defensivo do Corinthians melhorou,
com a troca do baleado Ricardinho por Edu. Mas o calor derrubou os dois times e amoleceu o jogo, que se tornou uma partida de
xadrez: por um lado, não se podia
errar; por outro, mantendo-se o
empate, quem teria mais pernas
para a prorrogação?
Na dúvida, ninguém arriscou
muito. O Corinthians teve a sorte
de Romário e Edmundo não estarem numa noite inspirada, mas,
de sua parte, também criou poucas jogadas de gol. Ficou dependendo quase exclusivamente das
arrancadas de Edílson e das bolas
paradas de Marcelinho.
Mesmo que contestem a legitimidade e a organização do Mundial, o Corinthians tem mais é que
comemorar: é, incontestavelmente, o melhor time do Brasil.
Assisti no estádio do Figueirense
à goleada da seleção pré-olímpica
sobre a de Trinidad e Tobago. Foi
uma experiência interessante por
vários motivos:
1. Sentado no meio da arquibancada -onde havia muitas
mulheres, crianças e turistas argentinos-, só ouvi um palavrão
durante todo o jogo. E o menino
que o proferiu tomou em seguida
um puxão de orelha da mãe.
2. O estádio -de 25 mil lugares- foi reformado recentemente, mas esqueceram um detalhe: o
placar. Depois do quarto gol brasileiro, era comum ouvir os torcedores perguntando uns para os
outros: "Está quatro ou cinco?"
3. Foi a única vez na vida que vi
cambista vendendo ingresso mais
barato que o preço oficial.
4. Vencido pelo calor, Wanderley Luxemburgo trocou seus terninhos de pastor evangélico por
uma camiseta amarela. O técnico
de Trinidad, por sua vez, veio com
um terno completo (talvez pensando em não fazer feio diante do
colega brasileiro), e pagou o
maior mico da noite: viajou milhares de quilômetros, tomou
uma lavada, foi vaiado e ainda
passou um calor dos diabos.
Já o jogo, em si, não foi tão interessante. Aliás, como teste para a
seleção, não valeu nada.
Como se pode achar que o que
funcionou contra Trinidad e Tobago (que, além de tudo, jogou
com um a menos quase o tempo
todo) funcionará também contra
algum time de verdade?
O único resultado concreto que
a partida poderia ter para o time
de Luxemburgo seria a contusão
de algum craque, às vésperas do
Pré-Olímpico. Os truculentos e desajeitados jogadores de Trinidad e
Tobago bem que tentaram. Sorte
nossa -e da CBF- que eles não
conseguiram.
E-mail jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve aos sábados e
às segundas-feiras
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