São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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FUTEBOL
Corinthians jogou tudo em Dida

JOSÉ GERALDO COUTO

Depois de três semanas de férias, volto na hora certa. Escrevo estas linhas minutos depois da eletrizante decisão por pênaltis do Mundial de Clubes da Fifa.
O Corinthians ganhou o principal título de sua história jogando para não perder. O que não dá para saber é se o time empurrou conscientemente o jogo para os pênaltis -entregando toda a responsabilidade nas mãos de Dida- ou se simplesmente não teve pernas para jogar.
O alvinegro foi desmoronando aos poucos: primeiro Ricardinho, depois Vampeta, depois Edílson. Luizão e Rincón continuaram porque não podia mais entrar ninguém.
O fato é que, nos pênaltis, toda a dramaticidade se amplia, e os jogadores são alçados a heróis épicos. Dida, o herói corintiano, foi feliz. Edmundo, o herói vascaíno, não. Aliás, durante todo o jogo, os astros -Edmundo, Romário, Edílson, Marcelinho- estiveram apagados. Não por acaso, o grande nome do jogo foi Amaral, atleta voltado muito mais para a destruição do que para a criação.
O primeiro tempo foi muito mais do Vasco. Preocupado com a dupla infernal Edmundo-Romário e jogando com um meio- campo meia-boca (Vampeta se arrastando, Ricardinho mancando, Marcelinho ausente), o Corinthians deu espaço para os avanços dos laterais Paulo Miranda e Gilberto e dos meias Juninho e Ramon.
O Vasco só pecou, a meu ver, ao não liberar mais o meia Felipe, que, jogando como segundo volante, só em duas oportunidades pôde ajudar a semear o pânico no sistema defensivo corintiano.
No segundo tempo, o setor defensivo do Corinthians melhorou, com a troca do baleado Ricardinho por Edu. Mas o calor derrubou os dois times e amoleceu o jogo, que se tornou uma partida de xadrez: por um lado, não se podia errar; por outro, mantendo-se o empate, quem teria mais pernas para a prorrogação?
Na dúvida, ninguém arriscou muito. O Corinthians teve a sorte de Romário e Edmundo não estarem numa noite inspirada, mas, de sua parte, também criou poucas jogadas de gol. Ficou dependendo quase exclusivamente das arrancadas de Edílson e das bolas paradas de Marcelinho.
Mesmo que contestem a legitimidade e a organização do Mundial, o Corinthians tem mais é que comemorar: é, incontestavelmente, o melhor time do Brasil.
 
Assisti no estádio do Figueirense à goleada da seleção pré-olímpica sobre a de Trinidad e Tobago. Foi uma experiência interessante por vários motivos:
1. Sentado no meio da arquibancada -onde havia muitas mulheres, crianças e turistas argentinos-, só ouvi um palavrão durante todo o jogo. E o menino que o proferiu tomou em seguida um puxão de orelha da mãe.
2. O estádio -de 25 mil lugares- foi reformado recentemente, mas esqueceram um detalhe: o placar. Depois do quarto gol brasileiro, era comum ouvir os torcedores perguntando uns para os outros: "Está quatro ou cinco?"
3. Foi a única vez na vida que vi cambista vendendo ingresso mais barato que o preço oficial.
4. Vencido pelo calor, Wanderley Luxemburgo trocou seus terninhos de pastor evangélico por uma camiseta amarela. O técnico de Trinidad, por sua vez, veio com um terno completo (talvez pensando em não fazer feio diante do colega brasileiro), e pagou o maior mico da noite: viajou milhares de quilômetros, tomou uma lavada, foi vaiado e ainda passou um calor dos diabos.
Já o jogo, em si, não foi tão interessante. Aliás, como teste para a seleção, não valeu nada.
Como se pode achar que o que funcionou contra Trinidad e Tobago (que, além de tudo, jogou com um a menos quase o tempo todo) funcionará também contra algum time de verdade?
O único resultado concreto que a partida poderia ter para o time de Luxemburgo seria a contusão de algum craque, às vésperas do Pré-Olímpico. Os truculentos e desajeitados jogadores de Trinidad e Tobago bem que tentaram. Sorte nossa -e da CBF- que eles não conseguiram.

E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve aos sábados e às segundas-feiras

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