São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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MOTOR
Um dois e três zeros

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Esta era para sair na virada do ano. Por favor, imagine-se no primeiro dia de 2000.
Quando pequeno, ano 2000 era algo longe, distante. A única certeza era fazer as contas e se projetar em marco tão significativo.
Eu vou ter 34 anos, dizia, de um modo neutro, como se 34 fosse uma idade neutra, meio do caminho, essas bobagens.
Eu teria 34 anos. Estaria com certeza vivo -creio que morrer de verdade não faz parte do universo infantil-, gozando de boa saúde, alguns quilos a mais, cigarros no bolso, casado, talvez filhos, na verdade, nada muito diferente do que acontece hoje.
ETs, discos voadores e uma vida de jetsons não povoavam meus sonhos. Muito menos estar sentado à frente de um computador ligado a um telefone e com os quais falo, leio, escrevo, assisto, ouço, enfim, cumpro boa parte das ações de um cidadão dito moderno, de rotina intransitiva.
O futuro, esse com o qual sonhamos hoje, só virou realidade no dia em que fui ao cinema assistir a "Guerra nas Estrelas".
(Lembro de ficar uma sessão inteira sentado no chão da sala de espera, lotada, em um tempo em que ir ao cinema era atividade um tanto quanto selvagem.)
No mais das vezes, minha geração foi sistematicamente enquadrada com aquilo que as reportagens descreviam como futuro sombrio, da superpopulação, da falta d'água, do fim das baleias.
Nessa linha, lembro de um filme que passava muito na TV, com Charlton Heston, no qual todos se alimentavam de biscoitos e, no final, revela-se, os biscoitos eram feitos a partir dos corpos das pessoas que iam morrendo, processados em uma grande fábrica triste e escura, operada por robôs, um roteiro Z, tétrico e genial.
Já entrei em uma linha de produção tocada apenas por robôs e a sensação não é das melhores.
O ponto é que só tive tal sensação porque sabia o que era uma fábrica cheia de operários. Assim como sei o que é um carburador, o que é uma alface. Dificilmente minha filha saberá o que é o primeiro. E tenho dúvidas se meu neto saberá o que é o segundo.
Sim, o futuro é sombrio, mas apenas para quem tem passado.
A F-1 involuiu no início desta década em nome do piloto, do esporte e do espetáculo. Para muitos, manobra inócua e ou tímida. Para outros, necessária.
O certo é que a F-1 atual é pinto perto da que vivi quando garoto. E que a geração que se prepara para acompanhar Barrichello terá sensação semelhante quando chegar à tal da idade neutra.
Somos efêmeros, dizem, esta é a angústia. E chegar ao ano 2000 para contar a história, de repente, parece muito pouco.
NOTAS

Subliminar
Rubens Barrichello aceitou aparecer diante das câmeras apanhando de um par de esquis, enquanto Michael Schumacher descia as montanhas feito uma flecha na temporada promocional de inverno da Ferrari, na Itália. Como diz o ditado, uma imagem vale mais do que mil palavras, e Barrichello começa 2000 sendo rápido na pista, mas deixando sua imagem à mercê dos maledicentes. Assim, óbvio, não dá.

Segunda fila
Capa da última "Autosport" inglesa, a Jaguar já dá sinais de que pretende ser a terceira força no Mundial 2000 da F-1. Missão difícil para quem precisa rivalizar com a Jordan, anabolizada pela Honda e em fase ascendente, e com a sempre competente Williams, escoltada pela BMW. A briga promete ser muito boa e será ainda melhor se, mais do que em 1999, conseguir interferir na disputa entre Ferrari e McLaren.

E-mail mariante@uol.com.br


José Henrique Mariante escreve aos sábados

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