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FUTEBOL
A política do inchaço
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Se a Conmebol, entidade
que dirige o futebol na América do Sul, ceder à pressão da CBF
e aceitar mais quatro clubes brasileiros na Copa Sul-Americana,
estará consagrada mais uma vez
a política do inchaço, que também poderia ser chamada de política da acomodação, do conchavo
ou da covardia.
Que política é essa? É a mesma
que a antiga CBD (antecessora da
CBF) realizava no Campeonato
Brasileiro nos tempos do regime
militar. Os mais velhos se lembram do slogan: "Onde a Arena
[o partido governista" vai mal,
mais um time no Nacional".
Quando João Havelange foi alçado da CBD para a Fifa, levou
ao âmbito mundial a política do
inchaço. Novas vagas foram criadas na Copa do Mundo e nas eliminatórias, sobretudo para países da África e da Ásia, de modo a
ampliar a base de apoio de Havelange e seus comparsas.
Aliás, o sucessor "feito" pelo velho cartola, Joseph Blatter, parece
inclinado a levar adiante a lição
do padrinho. Já se fala em ampliar o número de seleções (de 32
para 36) no próximo Mundial.
No Brasil, quase sempre que há
alguma pendenga por conta de
viradas de mesa, de disputas judiciais ou de regulamentos pouco
claros, acaba-se por contemplar
todos os descontentes, simplesmente aumentando o número de
clubes participantes da competição em questão.
Trata-se de uma solução fácil,
mas mentirosa e nociva ao esporte e ao entendimento do que seja
democracia.
A prática da democracia não
consiste em agradar a todos -ou
a todos os que esperneiam-, mas
em garantir que a lei seja cumprida e que todos tenham seus direitos respeitados. Só isso.
Mas a política do inchaço não
está restrita ao futebol, nem nasceu dentro dele. A meu ver, ela
tem a ver com a tendência ao conchavo e à acomodação que sempre marcou nossa história, desde
o período colonial.
"Transição pelo alto", "acordos
entre as elites", "mudanças sem
ruptura", "modernização conservadora" -várias foram as expressões utilizadas para dar conta desse fenômeno, que é uma espécie de "lado B" do mito da índole pacífica do povo brasileiro.
"Fazer a revolução antes que o
povo a faça", "mudar tudo para
que tudo continue como está" são
outras frases que nos soam familiares. Quando um novo governo,
para contemplar os partidos da
coalizão que o apóia, cria novos
cargos a torto e a direito, não está
fazendo mais do que a "política
do inchaço".
Pretender agradar a todos ao
mesmo tempo -bancos e indústria, campo e cidade, patrões e
empregados- pode ser uma forma extrema da "política do inchaço". A longo prazo, alguém
sempre sai perdendo.
No caso dos inchaços de torneios, quem perde é o futebol como um todo.
Nossa cartolagem é uma triste
caricatura da nossa "elite" política. Não seria saudável uma revolução jacobina que cortasse (metaforicamente, claro) algumas cabeças?
Jogos-treinos
São Paulo e Corinthians golearam seus fracos rivais no meio
da semana. Foram, na verdade,
treinos para o clássico de amanhã pela final paulista. Serviram também para deixar os
oponentes em alerta. Depois de
fazer cinco gols no São Raimundo, Luis Fabiano deverá
ser vigiado de perto. O mesmo
vale para Gil, que voltou com
tudo contra o Strongest. Agora
é briga de gente grande.
Retrocesso na seleção
Já critiquei aqui a insistência de
Parreira em Cafu, Belletti e
Emerson, quando há novos jogadores que podiam ser testados em suas posições. A volta
de Cris é outro retrocesso, diminuindo a chance de novos
zagueiros de destaque, como
Anderson, do Corinthians, e
Alex, do Santos.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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