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Cartola "Cinderela" ergue império no futebol do PR
Dirigente com mais de R$ 10 mi em dívidas e condenação à prisão conduz três clubes no Sul
KLEBER TOMAZ
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Como a personagem do conto
de fadas Cinderela, obrigada a
voltar para casa antes da meia-noite para "não virar abóbora",
Aurélio Almeida, 43, dono de três
times no Paraná, também tem de
se recolher nesse horário, mas sob
o risco de ir de novo para a cadeia.
"Posso até sair por aí e mentir,
mas e se alguém me vir? Sou pessoa pública, muitos me vigiam",
diz Almeida, presidente do Império do Atleta de Futebol Ltda., dona do Império do Futebol, Grêmio Maringá e Real Brasil.
Condenado à prisão em 2003
por estelionato (comprou quatro
carros, mas não pagou) e usurpação de função pública (levou uma
milícia armada ao tribunal de
Chapecó-SC), o cartola, que já esteve preso, cumpre parte da pena
de 39 meses em regime aberto
desde 23 de janeiro de 2004.
"Sou inocente. Meu primo
comprou os carros, com cheque
roubado da minha mulher. Na
outra condenação, não sabia que
meus seguranças [policiais contratados] foram armados no tribunal", defende-se o empresário,
natural de Nonoai-RS e que nos
tempos de atleta era apelidado de
Índio. Para não ser preso de novo,
ele deve seguir regras. A principal
é não estar na rua após as 24h.
As outras são não sair de Curitiba por mais de cinco dias sem autorização judicial, portar arma,
tomar bebida alcoólica ou ir a bares. Deve prestar oito horas semanais de serviços comunitários.
Antes, Almeida tinha de se recolher às 22h, mas pediu para voltar para casa às 24h para poder
acompanhar os jogos do Império.
Sua condenação termina em junho de 2006. Apesar disso, já entrou com pedido de indulto.
Quem provavelmente não perdoará Almeida são seus credores.
"Minha dívida com eles é de mais
de R$ 10 milhões", diz o cartola.
Mesmo com a imagem abalada,
o dirigente amplia seu "império".
Criou, neste ano, o Real Brasil,
que deve disputar a segunda divisão do PR. "Negocio atletas. É da
venda deles para fora que vem o
dinheiro de meus clubes", conta
Almeida, que foi autorizado a ir
três vezes ao México negociar.
Recentemente, viu o Império
ganhar repercussão nacional. O
time, que não tem estádio próprio -aluga o Erton Queiroz, do
Paraná Clube- tomou do Atlético-PR um gol que não aconteceu.
Já o Grêmio Maringá foi comprado por R$ 260 mil em 2002 e
também estará na segundona.
Marcílio Krieger, especialista
em direito esportivo, declara ser
possível um condenado presidir
clubes. "O problema é se a pessoa
for presidente de agremiações
que disputam a mesma divisão."
A Lei Pelé só proíbe sentenciados
de presidirem federações ou confederações. "A lei foi criada para
pegar a CBF e não os clubes."
Almeida não se preocupa e faz
planos. "Talvez vire presidente do
Real. Aí venderei o Grêmio Maringá." Segundo a federação do
PR, ele preside só o Grêmio. Porém, no site do clube (www.imperiodofutebol.com.br) aparece
como presidente do Império.
"É um erro, vou corrigir. O presidente é o Ademar Scarpelini",
justifica Almeida, que até ontem,
porém, não retificara a informação no site. Ele dirige seu "império" do sexto andar inteiro do Curitiba Trade Center, prédio comercial de luxo na cidade. "Comprei o andar de 900 m2 em 99 por
mais de R$ 1 milhão", gaba-se.
Após ser indagado se aceitaria
tirar fotos, pediu um "tempinho"
para arrumar as melenas. "Espera
um pouco, vou molhar os cabelos", pediu Almeida, que é definido como "portador de personalidade tomada pela vaidade e soberba" na sentença assinada pelo
juiz Erminio Amarildo Darold.
Por causa da fama de mau pagador, suas equipes têm dificuldades de obter patrocínio. Sendo assim, não restou alternativa ao cartola senão a de firmar parceria
com Deus na camisa do Império.
O dirigente estampou a inscrição "MT 6.33 em primeiro lugar",
em referência ao texto bíblico de
São Mateus, capítulo 6, versículo
33: "Buscai pois primeiramente o
reino de Deus e a justiça, e todas
estas coisas se vos acrescentarão".
A fé também foi importante para Almeida suportar os sete meses
e 20 dias em que esteve preso entre o centro de triagem de Curitiba, o presídio de Chapecó (SC) e a
Colônia Penal Agrícola (CPA), em
Piraquara (PR). Nesta última,
protagonizou fato inusitado em
2004 ao levar o Grêmio para pré-temporada na cadeia. "Avaliei
meu time, que, mesmo vencendo
os presos por 6 a 0, caiu para a segunda divisão do Estadual."
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