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FUTEBOL
A alma do "Timón"
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Eis que o Corinthians, depois
do clamaroso papelão contra
o Cianorte, fez uma partida animadora. E o mais animador foi
ver Carlito Tevez atuando com
desenvoltura, movimentando-se,
passando e fazendo gol.
Aparentemente, a entrada de
um jogador com as características
de Bobô fez bem ao argentino,
que parecia ter seus movimentos
tolhidos com o vai-e-vem e as viravoltas de Gil pelas extremas. Gil
é um bom jogador, que já jogou
muito melhor e que talvez deva
procurar outros ares para reencontrar seus dias de glória.
O fato é que essa equipe do Corinthians precisa jogar com um
atacante mais enfiado, caso contrário tem tudo para ser apenas
um time de armandinhos -ainda que de bons armandinhos.
A reação contra o Santo André
veio mais do que na hora. Um novo fiasco criaria um clima muito
difícil para "los chicos del Timón". Com a vitória, Daniel Passarela ganha um pouco mais de
tranqüilidade. Mas isso ainda
não não significa que as coisas estejam resolvidas.
Creio que o Corinthians tem
diante de si um problema que poderá ou não superar: a preservação de sua "alma". Um grande time não se faz apenas com uma
montanha de dinheiro e um punhado de estrelas. Menos ainda
quando essas estrelas -que no
caso ainda não passam de projeto
de estrelas, começam a brigar.
Se não houver um compromisso
do grupo com objetivos comuns,
com a camisa, com a tradição
-com o "espírito", enfim- do
clube, as coisas podem desandar.
O Real Madrid é um exemplo.
Apesar de tantos excelentes jogadores, nada funciona. Virou um
Bonsucesso de playboy.
Embora não tenha nenhum
preconceito, creio que a invasão
estrangeira no Corinthians, dentro e fora de campo, tem boas
chances de produzir um curto-circuito cultural e descaracterizar a
identidade corintiana. É uma boa
possibilidade.
A outra, mais otimista, é que
em se tratando de argentinos, têm
eles características semelhantes às
dos corintianos. São movidos a
dramas e ganas, a tragédias e reações heróicas. A mística argentina
é semelhante à do Parque São Jorge. E, nesse sentido, pode-se dizer
que nada seria mais corintiano
do que um argentino corintiano...
Numa coluna antológica, José
Geraldo Couto tratou na semana
passada da relação entre futebol e
arte, ou melhor, daqueles lances e
momentos em que ver arte no futebol é bem mais do que uma maneira de enfatizar a plasticidade
de uma jogada ou de um lance.
E o gol de Ronaldinho Gaúcho
contra o Chelsea foi realmente
um desses casos em que a técnica,
aliada à inspiração, transcende
magicamente o repertório banal
para criar uma situação inesperada, que nos deixou sem fôlego.
Como escreveu Zé Geraldo, "seja como for, quando a arte se manifesta, a gente percebe logo". E
no caso do gol de Ronaldinho, a
obra estava ali, irredutível, transportando-nos para uma outra dimensão.
Parreira e Zagallo
Nossa dupla dinâmica de treinadores da seleção considera
que o Brasil não precisa contratar treinadores estrangeiros,
pois os daqui são muito bons.
Não concordo. O mercado brasileiro é grande, tem muito técnico enganador e há espaço para gente de fora. Passarella pode não ser genial e pode até não
ser a melhor escolha para o Corinthians, mas não dá para sair
julgando antecipadamente na
base do corporativismo nacionalista. A propósito, nossas
duas sumidades selecionadoras
fariam melhor se prestassem
mais atenção no futebol que se
joga por aqui. Talvez assim não
preferissem convocar Gustavo
Nery, deixando de lado Léo e
Junior. Já não bastava a insistência com Belletti... Está certo
que as opções são escassas, mas
essa foi difícil de engolir.
E-mail mag@folhasp.com.br
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