São Paulo, Segunda-feira, 15 de Março de 1999
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FUTEBOL
Projeto provoca reações diferentes entre dirigentes
Superliga de Pelé divide times do país


da Reportagem Local e da Agência Folha A proposta de criação de uma superliga brasileira feita pela Pelé Sports & Marketing, divulgada com exclusividade ontem pela Folha, teve reações diferentes entre os dirigentes dos principais clubes.
Pelos planos da empresa do ex-ministro dos Esportes, em associação com a européia Media Partners e com a Fundação Getúlio Vargas, a competição seria realizada com os principais clubes do país e, provavelmente, independentemente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Entre os dirigentes consultados pela Folha ontem, o entusiasmo com a liga variou muito.
A reação negativa mais forte vem de Eurico Miranda, vice-presidente de futebol do Vasco, que contratou a Pelé Sports & Marketing para negociar a reforma do estádio de São Januário.
"As coisas não funcionam dessa maneira. Não é uma pessoa que pode criar uma liga, que deve ser criada de baixo para cima, feita pelos próprios clubes."
O dirigente, que deixou o Vasco de fora da criação de uma liga dos clubes cariocas, afasta qualquer tipo de negociação.
"O Vasco está fora dessa", afirma Miranda.
Para os dois "grandes" de Minas Gerais, a proposta de Pelé também não agradou.
O deputado federal e presidente do Cruzeiro, José de Oliveira Costa (PFL-MG), o "Zezé Perrela", disse ontem que o ex-ministro não tem autonomia para fazer alguma coisa em nome dos clubes brasileiros.
"Ele nem deveria ser ministro, já que possui uma empresa de marketing. Não tenho nenhuma suspeita sobre ele, mas isso não é ético", reclama Perrela.
Para o presidente do Cruzeiro, cabe ao Clube dos 13 (entidade que reúne os principais times do país) discutir e analisar essa sugestão do ex-ministro.
Já o presidente do Atlético-MG, Nélio Brant, afirma que a criação da superliga brasileira de futebol só tem chances de existir se os clubes forem muito bem recompensados financeiramente.
Mesmo assim, de acordo com Brant, esse tema deve necessariamente passar por uma ampla discussão entre as equipes que compõem o Clube dos 13.
"Acho que é um negócio difícil de acontecer. O problema financeiro hoje é muito maior. Então, o Clube dos 13 precisa analisar, até porque estamos vinculados à CBF, que não deve concordar com isso", disse Brant.
Além de dirigentes, outras pessoas envolvidas com o futebol brasileiro duvidam de uma possível implantação da liga.

Indisposição
"É muito complicado. Acho difícil dar certo", diz Candinho, auxiliar de Wanderley Luxemburgo na seleção brasileira.
Já outros dirigentes estão dispostos a ouvir a proposta da Pelé Sports & Marketing.
"A liga é um caminho. Sua grande vantagem é que ela permitiria para o clube receitas antecipadas e garantidas. Dessa forma, as equipes poderiam investir melhor", diz Paulo Angioni, diretor da Parmalat para o Palmeiras.
O dirigente do patrocinador que mais investe no futebol brasileiro aponta o "sucesso da NBA", a liga norte-americana de basquete, como um exemplo a ser seguido.
O presidente do Botafogo, José Luiz Rolim, apóia a criação da liga, mas sem muito entusiasmo.
"Vamos examinar a proposta, mas não teremos qualquer comprometimento prévio com ela", afirma o dirigente carioca.
Luiz Henrique de Menezes, diretor de futebol remunerado do Corinthians, é outro que aceita conversar sobre a proposta de Pelé, mas não se empolga.
"A mudança é muito brusca. Precisamos analisar muito para dar uma opinião final", diz o dirigente corintiano.

Modelos
Outra polêmica que a idéia da superliga deve gerar é na escolha de seus participantes.
No esboço do projeto não fica definido o modelo da competição, que pode ter um campeonato fechado, com clubes definidos, ou um torneio aberto, com acesso e rebaixamento.
"A liga não pode ter sempre os mesmos clubes, pois assim ela perderia a competitividade e o interesse do público", diz Rolim, presidente do Botafogo.


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