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TCU vê notas frias e licitação fantasma na Davis-2001 em SC
Tribunal aponta uso irregular de dinheiro público em obras para evento, que gerou desentendimento entre a federação catarinense e a confederação brasileira
FERNANDO ITOKAZU
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O confronto entre Brasil e Austrália pela segunda rodada do
Grupo Mundial da Copa Davis de
2001, em Florianópolis, utilizou
dinheiro público irregularmente.
Para a realização do evento, um
dos motivos do rompimento entre a Federação Catarinense de
Tênis e a confederação brasileira,
foram simuladas licitações e utilizados documentos falsos.
Um convênio, no valor de R$
1.104.195, foi assinado entre o Ministério do Esporte e Turismo e a
Prefeitura de Florianópolis para
viabilizar o torneio entre países.
Auditoria do Tribunal de Contas na União detectou várias irregularidades no emprego da verba.
O responsável pela assinatura
dos contratos, Francisco de Assis
Filho, secretário municipal de
Transportes e Obras de Florianópolis, levou multa de R$ 7.000.
O texto foi encaminhado também ao Ministério Público Federal, que vai analisar se é o caso para a criação de uma ação penal.
A segunda rodada da Copa Davis ocorreu em Florianópolis entre os dias 6 e 8 de abril de 2001.
O Brasil, porém, só entraria na
disputa se superasse o Marrocos
na estréia, de 9 a 11 de fevereiro.
Com a vitória, no dia 19 de fevereiro, a CBT enviou uma notificação à Federação Catarinense confirmando a realização da Davis na
capital de Santa Catarina.
Inicialmente, o convênio que
traria o dinheiro para viabilizar a
organização e a realização do
evento seria firmado com a federação, mas acabou sendo direcionado à prefeitura do município.
A parceria entre o ministério e a
cidade foi confirmada no dia 16 de
março, e os recursos foram creditados sete dias depois. As obras,
porém, já estavam em andamento. Como o contrato previa licitações, a prefeitura simulou, de
acordo com o TCU, os processos
de dispensa das mesmas.
O caso mais emblemático foi
para a montagem da arena metálica. Três eram as candidatas. A
prefeitura apresentou um relatório informando que todas haviam
enviado a proposta coincidentemente na mesma data.
Mais: duas delas mandaram o
documento pelo mesmo aparelho
de fax, apesar de terem suas sedes
registradas em diferentes cidades
(Curitiba e São Paulo). Além disso, as duas proposições das empresas que perderam a concorrência não estavam assinadas e
uma delas nem sequer continha
nome da firma que faria o serviço.
Por fim, a vencedora Orpec Engenharia enviou o projeto à prefeitura no dia 9 de março, mas
previa que o trabalho começaria
em 12 de fevereiro.
Ou seja: a obra teria início quase
um mês antes de a proposta chegar às mãos da prefeitura.
"Não resta dúvidas, portanto,
que os processos de dispensa de
licitação foram simulados, as contratações, na prática, foram realizadas anteriormente", diz o TCU.
A lista das irregularidades não
pára por aí. A elaboração da estrutura de concreto, por exemplo,
também gerou celeuma.
A montagem foi autorizada oficialmente pelo município no dia
12 de março. Só que, três dias antes, a empresa selecionada para
executar as funções informou que
o projeto já estava totalmente
concluído e cobrava o pagamento
pelas atividades realizadas.
Outro dado que saltou aos olhos
dos auditores foi a seleção da instituição que ficaria encarregada
de construir as quadras de tênis.
Novamente, o município informou que recebeu três ofertas. As
duas empresas perdedoras não tinham sequer seu nome registrado
no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas (CNPJ). Oficialmente,
portanto, elas não existiam.
Ao ter acesso a cada uma das
propostas, a auditoria notou uma
semelhança: todas possuíam o
mesmo padrão e incorriam nos
mesmos erros de ortografia.
"Em vez de seguir o caminho da
lei e procurar justificativas legais
para abolir o processo de licitação, a Prefeitura de Florianópolis
preferiu fazer uma grande simulação. Não nos restou outra alternativa a não ser multar os envolvidos", explicou Ubiratan Aguiar,
relator do processo no TCU.
Além da apontada fraude com
dinheiro público, a Davis de Florianópolis também envolve uma
disputa financeira que culminou
com a crise do tênis brasileiro.
A Federação de Santa Catarina
cobra da CBT uma suposta dívida
referente ao evento. Com o impasse, o relacionamento entre
Jorge Lacerda Rosa, presidente de
Santa Catarina, e Nelson Nastás,
da CBT, nunca mais foi o mesmo.
Rosa, que tem ligações com
Gustavo Kuerten, passou a fazer
oposição à gestão de Nastás.
A pressão ganhou força com o
boicote dos principais jogadores
do país, liderados por Guga, na
Davis. Derrotado, em casa, pelo
Paraguai no último final de semana, o Brasil corre o risco de cair
para a terceira divisão.
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