São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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FUTEBOL

Sinas

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

A última convocação do Parreira foi "política", como João Henrique Médici, editor do Pelé.Net, defendeu em entrevista ao Paulo Henrique Amorim?
Acho que nosso técnico não está preocupado com isso... Parreira nunca quis jogar para a torcida e sabe que contentar a mídia com alguns nomes é inútil. Se o Brasil jogar bem e vencer, o mais renitente opositor aceita todo mundo.
No melhor (ou único bom) jogo das eliminatórias, quase todos reconheceram que o Zé Roberto fez uma grande partida. Assim como o técnico, somos teimosos, mas às vezes nos rendemos.
É impossível gostar de tudo, mas fiquei feliz com as presenças de Renato, Juninho Pernambucano, Alex e Luis Fabiano. E com a chance de Mancini e Edu, mesmo que só sejam vistos no treino. Um amistoso também serve para isso.
Algumas sinas são inexplicáveis. Há atletas medianos que foram campeões do mundo e craques que não conseguiram fazer história na seleção. No Brasil, é fácil sobrar cinco ou seis que seriam titulares em qualquer outro país. Será que Parreira convocou alguns "europeus" para evitar que adotem outra nacionalidade?
Entendo a vontade que o jogador tem de defender outro país quando o seu não lhe dá uma chance, mas acho absurda a descaracterização dos times nacionais. Já basta a maracutaia oficial que permite a um time europeu ter brasileiros, argentinos e senegaleses jogando como se não fossem "locais"... Seria melhor admitir que os times são transnacionais e pronto, sem limites para estrangeiros, quer eles tenham ou não bisavô europeu. A famosa indústria de passaportes falsos perderia uma boa fonte de renda.
Voltando às sinas, por que será que alguns atletas se eternizam na seleção, mesmo que estejam mal no clube ou na própria, e outros nunca são chamados ou são dispensados depois de poucas chances? Faço parte da turma que queria ver Dininho na seleção. Joga limpo, se posiciona bem, sabe sair jogando. Faz parte de uma das melhores defesas do país nos últimos quatro anos. Alguém há de dizer que está velho para a primeira convocação... Discordo.
Mineiro, há tempos um bom volante, dificilmente terá nova chance, assim como Gilberto -chamado em uma época em que não estava tão bem quanto agora, mas em um time grande. Magrão precisaria ser artilheiro de um torneio para ser convocado, assim como Léo. E Robinho, quando voltará? Nunca mais veremos a dupla Alex-Luisão?
Felipe e Mancini, felizes com a convocação, se dizem dispostos a fazer qualquer coisa que o técnico pedir ("Jogo até de goleiro", disse o ala). Taí um problema: se o técnico pedir para o jogador mudar, pode perder o que ele tem de melhor, o que o levou a ser convocado. Talvez esteja acontecendo isso com Renato e Zé Roberto, muito menos ofensivos e mais tímidos na seleção do que nos seus times.
O que o técnico pede, o que os atletas entendem - eis um mistério. Que grande desafio é fazê-los jogar o que sabem em um time que só existe uma vez por mês.

Mundo cão
Miséria, indiferença, injustiça, desonestidade. Com esses ingredientes, ajudamos a construir sistemas extremamente distorcidos, que em algum momento acabam explodindo como no caso da Rocinha. Para piorar, banalizamos ou cultuamos a violência de tudo quanto é jeito, dessacralizando e desvalorizando a vida humana em níveis nunca vistos. Durante a exibição de um programa esportivo no domingo de manhã, a família reunida em casa pode ver a chamada de um filme com sangue, tiros e cadáveres em profusão. E ninguém acha isso esquisito. Não é por causa da TV que um criminoso ataca o torcedor de outro time com uma barra de ferro, mas ele não está imune à exposição repetida ao desvalor da vida.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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