|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Sinas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
A última convocação do
Parreira foi "política", como
João Henrique Médici, editor do
Pelé.Net, defendeu em entrevista
ao Paulo Henrique Amorim?
Acho que nosso técnico não está
preocupado com isso... Parreira
nunca quis jogar para a torcida e
sabe que contentar a mídia com
alguns nomes é inútil. Se o Brasil
jogar bem e vencer, o mais renitente opositor aceita todo mundo.
No melhor (ou único bom) jogo
das eliminatórias, quase todos reconheceram que o Zé Roberto fez
uma grande partida. Assim como
o técnico, somos teimosos, mas às
vezes nos rendemos.
É impossível gostar de tudo,
mas fiquei feliz com as presenças
de Renato, Juninho Pernambucano, Alex e Luis Fabiano. E com a
chance de Mancini e Edu, mesmo
que só sejam vistos no treino. Um
amistoso também serve para isso.
Algumas sinas são inexplicáveis. Há atletas medianos que foram campeões do mundo e craques que não conseguiram fazer
história na seleção. No Brasil, é
fácil sobrar cinco ou seis que seriam titulares em qualquer outro
país. Será que Parreira convocou
alguns "europeus" para evitar
que adotem outra nacionalidade?
Entendo a vontade que o jogador tem de defender outro país
quando o seu não lhe dá uma
chance, mas acho absurda a descaracterização dos times nacionais. Já basta a maracutaia oficial que permite a um time europeu ter brasileiros, argentinos e
senegaleses jogando como se não
fossem "locais"... Seria melhor admitir que os times são transnacionais e pronto, sem limites para estrangeiros, quer eles tenham ou
não bisavô europeu. A famosa indústria de passaportes falsos perderia uma boa fonte de renda.
Voltando às sinas, por que será
que alguns atletas se eternizam
na seleção, mesmo que estejam
mal no clube ou na própria, e outros nunca são chamados ou são
dispensados depois de poucas
chances? Faço parte da turma que
queria ver Dininho na seleção. Joga limpo, se posiciona bem, sabe
sair jogando. Faz parte de uma
das melhores defesas do país nos
últimos quatro anos. Alguém há
de dizer que está velho para a primeira convocação... Discordo.
Mineiro, há tempos um bom volante, dificilmente terá nova
chance, assim como Gilberto
-chamado em uma época em
que não estava tão bem quanto
agora, mas em um time grande.
Magrão precisaria ser artilheiro
de um torneio para ser convocado, assim como Léo. E Robinho,
quando voltará? Nunca mais veremos a dupla Alex-Luisão?
Felipe e Mancini, felizes com a
convocação, se dizem dispostos a
fazer qualquer coisa que o técnico
pedir ("Jogo até de goleiro", disse
o ala). Taí um problema: se o técnico pedir para o jogador mudar,
pode perder o que ele tem de melhor, o que o levou a ser convocado. Talvez esteja acontecendo isso
com Renato e Zé Roberto, muito
menos ofensivos e mais tímidos
na seleção do que nos seus times.
O que o técnico pede, o que os
atletas entendem - eis um mistério. Que grande desafio é fazê-los jogar o que sabem em um time
que só existe uma vez por mês.
Mundo cão
Miséria, indiferença, injustiça,
desonestidade. Com esses ingredientes, ajudamos a construir sistemas extremamente
distorcidos, que em algum momento acabam explodindo como no caso da Rocinha. Para
piorar, banalizamos ou cultuamos a violência de tudo quanto
é jeito, dessacralizando e desvalorizando a vida humana em
níveis nunca vistos. Durante a
exibição de um programa esportivo no domingo de manhã,
a família reunida em casa pode
ver a chamada de um filme com
sangue, tiros e cadáveres em
profusão. E ninguém acha isso
esquisito. Não é por causa da
TV que um criminoso ataca o
torcedor de outro time com
uma barra de ferro, mas ele não
está imune à exposição repetida
ao desvalor da vida.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Consumação mínima Próximo Texto: Futebol: Corinthians volta a falhar em São Paulo Índice
|