São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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AÇÃO

Consumação mínima

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

No mês passado, o diário "Los Angeles Times" deu matéria grande sobre o mountain boarding, um esporte relativamente novo que, grosso modo, é um skateboarding praticado em terrenos acidentados.
Para executar, pranchas mais largas e mais flexíveis do que as de skate, rodas de borracha infladas por pressão do ar e sistema amortecedor. As manobras geralmente são executadas em pistas de esqui durante o verão.
Da mesma forma que o mountain bike começou como um "twist" do ciclismo, o snow do esqui, o kitesurfe do wind e do surfe, o mountain board veio do skate para ganhar vida própria. Era o que o artigo dizia: qualquer atividade que é parte skate, parte snow tem tudo para arrebentar (sem o trocadilho).
Mas havia também um tom mais pessimista e delator. E ele dava conta de que o esporte, embora excitante, não alcançava popularidade. Dizia o artigo que a comunidade americana de 65 mil aficionados sofria para se fazer notar, para ter espaço em mídia e até para entrar na lista dos X-Games. É que, embora há dois anos os praticantes façam demonstrações nos jogos da ESPN, não são chamados para integrar as atividades oficiais.
Analistas foram convidados a opinar e concluíram que a falta de uma identidade para esporte e praticante limitava o campo de ação. Michael Jaquet, editor de uma revista de skate, revelou que a comunidade de skatistas tende a reprovar qualquer variante do esporte. "Skate é um estilo de vida. É uma forma de agir, de pensar, de se vestir, é o que você é".
Certo, a falta de uma imagem tribal acaba mesmo por frear o mercado investidor, já que o interessado paga de US$ 100 a US$ 500 por uma prancha que dura vários anos e pode perfeitamente não gastar mais nada. É preciso fazer o praticante consumir para que o mercado gire e cresça: tênis, camisetas, bonés, cotoveleiras, capacetes... Vale qualquer coisa.
Pesa ainda o fato de você precisar de um carro para chegar à montanha, o que inviabiliza o esporte para quem não tem automóvel, e o aspecto "suicida" que ganhou recentemente, com a divulgação de dois anúncios de TV nos EUA. O primeiro, de um analgésico, mostra o praticante se arrebentando e na seqüência aliviando suas dores com o medicamento. O outro, de uma marca de carro, exibe o atleta de mountain board no alto de uma montanha olhando o precipício. Ao iniciar a descida, ele rola montanha abaixo. Na cena seguinte, dentro do veículo "off road" anunciado, o sujeito desce a mesma pista dirigindo calmamente, são e salvo.
Por essas e por outras o crescimento do mountain board não acontecerá como sonham os praticantes. Mas isso não deve ser necessariamente ruim. É de se esperar que um esporte que derive de outro dificilmente consiga a popularidade de seu genitor. Mas quem falou que precisa ser popular? Para ser boa basta que a atividade consiga nos fazer sentir outros tipos de emoções, que valha ser experimentada em um fim de semana, que venha para não crescer e, mesmo assim, ficar.

Por falar em X-Games
De 6 a 9 de maio acontece a terceira edição do X-Games latino-americanos, no Rio de Janeiro, que vale também para o Circuito Mundial WCS (World Cup of Skateboarding). O evento é para convidados, e a seleta lista inclui Bob Bunrquist e Sandro "Mineirinho" Dias.

Pára-quedismo
Boituva (SP) recebe neste final de semana os melhores do país na estréia do Circuito Nacional 4way. Os times de quatro atletas têm cinco saltos de 35 segundos para a seqüência de formações e pontuar.

Supersurfe
Na semana que vem, em Maresias (SP), a elite nacional se reúne para a segunda etapa da 18ª edição do Circuito Brasileiro Profissional.

E-mail sarli@revistatrip.com.br


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