São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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FUTEBOL

Entidade deve entregar Mundial-2010 a sul-africanos, atropelados por manobra de bastidores na eleição de 2006

Fifa se desculpa hoje com Copa na África

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O maior escândalo da gestão do presidente da Fifa, Joseph Blatter, deve ser definitivamente jogado para baixo do tapete hoje com a eleição da África do Sul como país-sede da Copa de 2010.
A votação que vai determinar a sede do primeiro Mundial no continente africano tem um favorito disparado, que só não organizará a próxima Copa, em 2006, porque uma contestada e suspeita abstenção deixou o torneio nas mãos da Europa e da Alemanha.
Marrocos, Egito e Líbia ainda estão na disputa contra a África do Sul, mas a maioria dos membros do Comitê Executivo, incluindo os três sul-americanos, acenam abertamente para o país de Nelson Mandela. Mesmo a Europa, ligeiramente dividida, deve dar mais votos aos sul-africanos.
Blatter prometera pouco depois de assumir a Fifa que em 2006 a Copa seria na África e torceu para a África do Sul na eleição passada, vencida pela Alemanha por 12 votos a 11. O neozelandês Charles Dempsey, que apoiaria os sul-africanos, desistiu de votar e deu a Copa à Europa -o empate favorecia a África do Sul pelo voto de minerva do presidente da Fifa.
Em meio a acusações de compra de votos na gestão de Blatter, Dempsey disse ter sofrido ""pressões insuportáveis" para se abster. Depois, deixou a Fifa e o comando da Confederação da Oceania. Ficou uma impressão, porém, de armação, o que chegou a assustar Blatter em sua campanha de reeleição na Fifa, em 2002.
Desta vez, não há disputa entre continentes, o que normalmente acirra politicamente a entidade. Com a aprovação de um rodízio de continentes na organização das Copas, chegou a vez da África.
Vários países da região inicialmente quiseram receber o evento, mas no final sobraram só quatro candidaturas -a Tunísia desistiu oficialmente da disputa ontem.
Com real chance de ganhar, apenas a África do Sul, país que tem economia mais forte, um apelo internacional maior após o fim do apartheid e o histórico de ter sido lesado na eleição passada para sede da Copa do Mundo.
A Líbia, por exemplo, comprovadamente não tem condições de organizar a Copa, como atesta o informe do grupo de inspetores que visitou todos os candidatos.
As delegações dos quatro países fizeram ontem em Zurique, na Suíça, as últimas apresentações de suas candidaturas. Hoje, o Comitê Executivo da Fifa debaterá cada um dos projetos antes da votação, feita a portas fechadas e com papeletas anônimas. Blatter anunciará o vencedor na seqüência.
São 24 os membros do Comitê Executivo da Fifa. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, é um deles e um dos dirigentes que estão fechados com os sul-africanos.
Várias personalidades defendem as candidaturas. O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, que já venceu o Nobel da Paz, sustenta a campanha do favorito. O ator Omar Sharif defende a Copa no Egito, seu país. E o príncipe Moulay Rachid encabeça a candidatura marroquina. A Líbia, por sua vez, tinha como última aposta uma candidatura conjunta com a Tunísia, mas a Fifa vetou ontem definitivamente a chance de duas sedes, coisa que ocorreu na última Copa, na Ásia.
Marrocos, país que tenta pela quarta vez receber o Mundial, é apontado como o único que teria chances, mesmo assim remotas, de desbancar a proposta da África do Sul. Alan Rothenberg, americano que coordenou a Copa do Mundo de 1994, nos EUA, entrou na campanha por Marrocos, que ganhou o apoio até do treinador brasileiro Luiz Felipe Scolari.
Outros grandes nomes do futebol, como o francês Zidane (tem origem argelina e está com Marrocos), também abraçaram candidaturas na reta final na tentativa de mudar o cenário, bem favorável à África do Sul desde 2000.



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