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"Eu tenho que ganhar, preciso vencer", diz Joel
Brasileiro lida com as cobranças de torcida e dirigentes do anfitrião do Mundial
Otimista, treinador cria clima familiar na seleção e barra o maior ídolo local justamente por problemas relacionados a indisciplina
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
Há um ano treinando a seleção da África do Sul, Joel Santana já sente os efeitos da pressão
de torcida, imprensa e dirigentes por resultados mais animadores para o país que sediará a
próxima Copa do Mundo.
"Eu tenho que ganhar. Preciso vencer. Eu jogo dentro de casa. Não estamos patrocinando a
Copa do Mundo somente para
sermos o artista coadjuvante.
Queremos ser o artista principal", disse ele à Folha.
Experiente aos 60 anos de
idade e quase 30 de treinador, o
brasileiro diz que sabe lidar
com as cobranças da torcida.
Na semana passada, ignorando a pressão, anunciou uma
bomba: barrou da Copa das
Confederações o atacante Benni McCarthy, ídolo local, por
motivos disciplinares.
Joel chegou subitamente para treinar uma equipe que vinha sendo preparada por Carlos Alberto Parreira. A desistência de Parreira no ano passado, alegando razões pessoais,
somou mais um componente
de incerteza para uma seleção
que procura, sem sucesso, estabilidade e constância.
O time perdeu dois dos últimos três jogos que disputou,
mas o brasileiro procura não
ver nisso um mau agouro.
No país, é palpável o temor
de um vexame na Copa do
Mundo e na das Confederações, no mês que vem.
O presidente do comitê organizador de ambos os eventos,
Danny Jordaan, não disfarça a
cobrança. "Será um desastre se
o time não chegar pelo menos à
semifinal da Copa das Confederações", afirmou Jordaan.
O problema todo, diz Joel, é
que na África do Sul há muita
cobrança por um time ofensivo, e a defesa é menosprezada.
"O jogador sul-africano é parecido com o brasileiro. Gosta de
jogar o futebol de qualidade, de
drible, de finta, de show."
Dá de ombros aos palpites
sobre sua escalação com metáforas que costumam arrancar
risos dos assessores. "Futebol é
como paladar. Às vezes você
quer mais açúcar, menos açúcar, quer mais sal, menos sal."
Seria, nas suas palavras, "suicídio" formar um time só de jogadores ofensivos. "Às vezes,
você bota quatro atacantes e
teu time não é ofensivo. O que
procuramos é um equilíbrio:
defesa sólida, meio-campo de
marcação e criatividade, ataque rápido e finalizador."
Se Benni é um desafeto, Joel
tem seus preferidos. A base de
sua equipe é formada pela dupla de meio-campo Teko Modise e Siphiwe Tshabalala, ambos
jogando em times locais, que
têm a mescla de marcação e
ofensividade que ele busca.
Mas seu atleta predileto, agora que Benni virou história, é
Bernard Parker, 23, que joga no
Estrela Vermelha (Sérvia). Joel
desmancha-se em elogios e não
disfarça um sentimento paternal. "É um bom garoto."
Uma filosofia que ele aplica a
todo o grupo, num eco do que
foi marqueteado no Brasil como a "Família Scolari".
"Minha família agora é aqui.
Precisamos estar juntos e nos
gostarmos para suportar a responsabilidade que será depositada nesses jogadores", declara.
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