São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Time cabeça

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A SHIZUOKA

É assim que os próprios belgas se vêem, um rival mais fraco que o Brasil, mas chato de ser vencido.
Uma pergunta do zagueiro Van Kerckhoven, 31, à TV japonesa mostra do que a Bélgica é capaz: ""O que Brasil, Argentina, Itália, Alemanha, Espanha e Bélgica têm em comum?". Ele mesmo responde: ""Os seis não deixaram de participar de uma Copa desde 1982".
E Kerckhoven pergunta de novo: ""E o que têm de diferente?".
A resposta: ""Só a Bélgica disputou as eliminatórias em todos os anos para se classificar".
Seja como anfitrião ou como campeão da Copa anterior, os demais times foram poupados de pelo menos uma delas.
As diferenças são visíveis também dentro de campo. E o atacante Wilmots já se deu conta. Para a estrela da seleção belga, o segredo para vencer é aproveitar as falhas da defesa brasileiro.
Os números sustentam a tese. O calcanhar-de-aquiles do Brasil é o sistema defensivo, especialmente nas bolas altas (veja quadro nesta página). Bom para a Bélgica, que aparece sempre entre as melhores, segundo o Datafolha, quando o assunto é jogar de cabeça.
Mas os resultados dos belgas não são nada quando comparados aos de brasileiros, italianos ou alemães. Sua melhor colocação num Mundial foi em 1986 com o quarto lugar no México.
Daí a dizer que é fácil batê-los é outra história. Não por acaso é o time que mais empates consecutivos obteve em Copas -foram três em 1998 e dois agora. Terminou a primeira fase invicto, depois de empatar com o Japão (2 a 2) e a Tunísia (1 a 1) e bater ontem a Rússia (3 a 2) em Shizuoka.
Uma das fundadoras da Fifa, foi ela que protagonizou o primeiro jogo de um Mundial, em 1930.
Não tem, no entanto, muita experiência contra o Brasil. Em Copas, os dois países ainda não se enfrentaram. Segunda-feira, em Kobe, será a primeira vez, ""uma honra" para os belgas, como definiu o técnico Robert Waseige.
Honrado ou não, o fato é que ele acha que seu time pode se superar e sair com um resultado histórico. ""Num campo tudo é possível. Enfrentar o Brasil também é uma responsabilidade a mais."
Na Copa dos EUA, ele recorda que o time teve desempenho surpreendente. Embora tenha perdido para a Arábia, venceu a Holanda, com quem empatou em 98. Nos últimos dez jogos em Mundiais, além do fracasso ante os sauditas, só perdeu para Alemanha, nas oitavas-de-final, em 94.
E nos três amistosos que disputou até hoje contra o Brasil venceu um deles, surpreendentes 5 a 1 em Bruxelas, em 1963, um ano após a seleção ter conquistado o bi no Chile. Dois anos depois, em compensação, levaria o troco, perdendo por 5 a 0 no Maracanã.
Para os atuais jogadores da Bélgica, um dos motivos para o time se superar em momentos difíceis é a experiência da equipe.
""Quanto mais jogos pela seleção você tem, mais preparado emocionalmente fica. A minha Copa, por exemplo, deve ser a da Alemanha [que acontece em 2006, quando terá 28 anos"", disse zagueiro Daniel van Buyten, 24.
A dele, talvez, mas a de seus colegas com certeza não. Nesta Copa, afinal, é a Bélgica o time mais velho. Sua média de idade, a maior de todas, é de 29,8 anos. E nada menos do que 11 de seus 23 jogadores já passaram dos 30.



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