São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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Auditoria vê maquiagem em contas do Corinthians

Clube divulga cerca de um terço de déficit apontado por empresa chamada para auditar balanço de 2003; valor passaria de R$ 10,4 milhões para R$ 28,3 mi

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Corinthians declarou em seu balanço de 2003 pouco mais de um terço do déficit que deveria ter registrado. A conclusão foi feita pela empresa contratada pelo clube para realizar uma auditoria independente, como exige a lei.
Segundo a Casual Auditores Independentes, os corintianos deixaram de incluir em seu déficit R$ 17,991 milhões. O valor é referente a execuções fiscais federais e municipais, processos administrativos, contribuições federais, ações cíveis e reclamações trabalhistas.
Esse parecer foi publicado com o balanço do clube, no "Diário Oficial" do dia 30 de abril (a publicação do documento também é um exigência legal).
Caso seguisse a orientação dos auditores, o clube teria divulgado um déficit de R$ 28,3 milhões. Porém o valor assumido pela diretoria é de R$ 10,4 milhões.
"O Corinthians alega que seu departamento jurídico vê chances de ganhar algumas das ações na Justiça e de reduzir o valor de outras. Por isso não contabilizou as execuções. Nós não poderíamos nos omitir", afirmou Carlos Aragaki, sócio da Casual.
"O bom senso diz: se você consegue estimar se vai ganhar ou perder, ponha no balanço. Fiz essa ressalva porque, de acordo com as práticas contábeis, essas provisões devem ser contabilizadas", completou o contador.
Sem o parecer dos auditores, um banco que analisasse um pedido de empréstimo ou uma empresa interessada numa parceria, por exemplo, não conheceria a real situação financeira.
Os corintianos têm recorrido a empréstimos bancários para cobrir sua folha de pagamento.
O déficit menor do que o calculado pela auditoria independente ajuda a evitar maiores pressões de conselheiros da oposição.
A diretoria chegou a usar o balanço como propaganda da gestão do presidente Alberto Dualib. Os dirigentes comemoraram a redução do déficit de R$ 13,2 milhões em 2002 para R$ 10,4 milhões no final do ano passado. O número teria aumentado se fosse seguida a orientação da Casual.
"Uma empresa ou um clube tem que fazer um provisionamento para as execuções, tem que fazer um caixa para o caso de ter de pagar. Isso tem que aparecer no balanço", afirmou o advogado Gustavo Lorenzi de Castro, consultado pela Folha.
Na opinião de Edison Ishikura, doutorando da USP na área de contabilidade, a Casual acertou em fazer a ressalva no balanço.
"Se o departamento jurídico do Corinthians acha que são boas as chances de ganhar essas causas, o clube tem o direito de não contabilizar as execuções. Mas, se os auditores não fizessem essa ressalva, certamente seriam cobrados por isso", explicou Ishikura.
Não foi só em relação ao valor do déficit que a Casual discordou das contas corintianas. A auditoria apontou que o clube não contabilizou a baixa de valores referentes a jogadores que deixaram o Parque São Jorge antes de 31 de dezembro do ano passado.
O número de atletas não é mencionado no parecer, apenas a quantia que deveria ter sido descontada: R$ 3,07 milhões.
A auditoria também detectou desorganização na contabilidade do clube em 2002. Naquele ano, segundo a Casual, a diretoria não tinha controle sobre os seus bens. "Eles não faziam um registro de seus bens, como móveis e equipamentos. Não sabiam o estado de cada um", lembrou Aragaki. Segundo ele, a falha não se repetiu na contabilidade referente a 2003.
Antes de ser publicado no "Diário Oficial", o balanço foi examinado por conselheiros corintianos. As contas foram aprovadas sem as ressalvas feitas pela auditoria independente. O documento passou pelo crivo dos conselhos fiscal e de orientação do Corinthians. O segundo órgão tem como vice Nelson Real Dualib, filho do presidente do clube.


Colaborou Márvio dos Anjos, da Reportagem Local

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