São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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Disparada do dólar derruba contratação e nível de atletas estrangeiros

Cada vez mais Brasileiro

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de um Campeonato Brasileiro que fosse capaz de atrair estrelas estrangeiras acabou junto com a desvalorização do real em relação ao dólar. Na edição de 1998, realizada antes do início da derrocada da moeda nacional, a partir de janeiro de 1999, 15 estrangeiros disputaram o torneio.
Em 2002, com um dólar valendo mais de R$ 3, só sete forasteiros jogam a mais importante competição de um país que acaba de ganhar o quinto título mundial.
Mais do que a quantidade, a contínua desvalorização do real deu um golpe fatal na qualidade e na diversidade dos estrangeiros que tentam a sorte no Brasil.
Em 1998, o time ideal do Nacional, segundo tradicional eleição realizada com jornalistas e colunistas da Folha, tinha quatro jogadores de fora -os paraguaios Arce e Gamarra, o colombiano Rincón e o iugoslavo Petkovic.
Gamarra, que foi escolhido um dos 16 melhores jogadores da Copa da França, foi ainda considerado o melhor atleta daquele Nacional, que trabalhava com um dólar valendo cerca de R$ 1,20.
Desse grupo, sobrou Arce, já com 31 anos -Petkovic negocia com o Cruzeiro. De resto, os estrangeiros que militam hoje nos gramados brasileiros são veteranos, como o atacante colombiano Aristizábal (Vitória), medianos, como o volante chileno Maldonado (São Paulo), ou inexpressivos, como o zagueiro uruguaio Gutierrez (Atlético-MG).
Com o real caindo sem parar, o Brasil só é capaz atualmente de atrair jogadores dos vizinhos sul-americanos, todos eles em dificuldades e com suas moedas em queda livre em relação ao dólar -o Chile de Maldonado é exceção.
Nos tempos em que a moeda brasileira parecia uma fortaleza, a situação era diferente. Além de segurar sul-americanos com mercado na Europa, o Brasileiro-98 teve, além de Petkovic, atletas de origem "exótica": o japonês Maezono, que defendeu o Santos, e o francês de origem africana Danlaba, que jogou pelo Grêmio.
Endividados, os clubes brasileiros relutam em contratar hoje estrangeiros, mesmo os "baratos" sul-americanos, para não ter a obrigação de pagar salários que tenham o dólar como indexador.
Mesmo aqueles que já estão aqui, como o zagueiro argentino Ameli, do São Paulo, estão tendo seus contratos revistos.
Quem não conseguiu renegociar se desfez de estrangeiros. O Cruzeiro ainda conseguiu lucrar com a venda do argentino Sorín para a Lazio. Já o Flamengo, que não tinha mais como pagar o salário de US$ 200 mil de Petkovic, simplesmente liberou o atleta antes do final do contrato.

No banco
Além de praticamente ter arquivado o processo de contratação de estrangeiros, o futebol brasileiro tem o campeonato nacional mais fechado da elite da bola por não investir na contração de técnicos de fora. Nenhum dos 26 times do Brasileiro-2002 tem um estrangeiro no comando.
Na Argentina, país em que a crise cambial é ainda mais forte, os também endividados clubes locais importam mais profissionais do futebol. O Boca Juniors, time mais tradicional do país, por exemplo, tem o uruguaio Oscar Tabárez como treinador.



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