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Disparada do dólar derruba contratação e nível de atletas estrangeiros
Cada vez mais Brasileiro
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A idéia de um Campeonato Brasileiro que fosse capaz de atrair estrelas estrangeiras acabou junto
com a desvalorização do real em
relação ao dólar. Na edição de
1998, realizada antes do início da
derrocada da moeda nacional, a
partir de janeiro de 1999, 15 estrangeiros disputaram o torneio.
Em 2002, com um dólar valendo
mais de R$ 3, só sete forasteiros
jogam a mais importante competição de um país que acaba de ganhar o quinto título mundial.
Mais do que a quantidade, a
contínua desvalorização do real
deu um golpe fatal na qualidade e
na diversidade dos estrangeiros
que tentam a sorte no Brasil.
Em 1998, o time ideal do Nacional, segundo tradicional eleição
realizada com jornalistas e colunistas da Folha, tinha quatro jogadores de fora -os paraguaios
Arce e Gamarra, o colombiano
Rincón e o iugoslavo Petkovic.
Gamarra, que foi escolhido um
dos 16 melhores jogadores da Copa da França, foi ainda considerado o melhor atleta daquele Nacional, que trabalhava com um dólar
valendo cerca de R$ 1,20.
Desse grupo, sobrou Arce, já
com 31 anos -Petkovic negocia
com o Cruzeiro. De resto, os estrangeiros que militam hoje nos
gramados brasileiros são veteranos, como o atacante colombiano
Aristizábal (Vitória), medianos,
como o volante chileno Maldonado (São Paulo), ou inexpressivos,
como o zagueiro uruguaio Gutierrez (Atlético-MG).
Com o real caindo sem parar, o
Brasil só é capaz atualmente de
atrair jogadores dos vizinhos sul-americanos, todos eles em dificuldades e com suas moedas em queda livre em relação ao dólar -o
Chile de Maldonado é exceção.
Nos tempos em que a moeda
brasileira parecia uma fortaleza, a
situação era diferente. Além de segurar sul-americanos com mercado na Europa, o Brasileiro-98
teve, além de Petkovic, atletas de
origem "exótica": o japonês Maezono, que defendeu o Santos, e o
francês de origem africana Danlaba, que jogou pelo Grêmio.
Endividados, os clubes brasileiros relutam em contratar hoje estrangeiros, mesmo os "baratos"
sul-americanos, para não ter a
obrigação de pagar salários que
tenham o dólar como indexador.
Mesmo aqueles que já estão
aqui, como o zagueiro argentino
Ameli, do São Paulo, estão tendo
seus contratos revistos.
Quem não conseguiu renegociar se desfez de estrangeiros. O
Cruzeiro ainda conseguiu lucrar
com a venda do argentino Sorín
para a Lazio. Já o Flamengo, que
não tinha mais como pagar o salário de US$ 200 mil de Petkovic,
simplesmente liberou o atleta antes do final do contrato.
No banco
Além de praticamente ter arquivado o processo de contratação
de estrangeiros, o futebol brasileiro tem o campeonato nacional
mais fechado da elite da bola por
não investir na contração de técnicos de fora. Nenhum dos 26 times do Brasileiro-2002 tem um
estrangeiro no comando.
Na Argentina, país em que a crise cambial é ainda mais forte, os
também endividados clubes locais importam mais profissionais
do futebol. O Boca Juniors, time
mais tradicional do país, por
exemplo, tem o uruguaio Oscar
Tabárez como treinador.
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