São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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De carona com três companheiros

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Vou pegar três caronas com três belos companheiros desta Folha neste domingo. A primeira com Eduardo ""Fighting" Ohata, bravo samurai em defesa do boxe na interminável polêmica, que mais uma vez provoquei, sobre ser ou não o boxe um esporte.
Ohata foi definitivo em sua coluna, na sexta-feira, sob o título ""A nobre arte", ao conceder ""que quem quiser manter a opinião de que o boxe não é esporte tem esse direito", mas não tem o de ""afirmar que não é esporte."
Touché!, companheiro. Aqui, em regra, opino. Há anos que desisti de afirmar (com exceções, concordo), porque há até mesmo quem considere, na velha guarda, Arthur Friedenreich melhor do que Pelé. E acrescento aos dois ilustres ex-pugilistas que Ohata citou como bem-sucedidos fora do ringue (o cineasta John Huston e o político Juan Perón) o senador Eduardo Suplicy.
Mas não posso deixar de citar também o maior de todos os pugilistas, Muhamad Ali, como demonstração do que o boxe é capaz de fazer com um ser humano -admirável ser humano, diga-se de passagem.

A segunda carona pego com o repórter especial Mário ""Sherlock Holmes" Magalhães, que, por mensagem eletrônica, chamou atenção para o fato de que o rubro-negro Beto e o ex-vascaíno Caetano, num momento de arrogância e raiva, declararam aos policiais que os abordaram quanto realmente ganham: o primeiro disse receber R$ 135 mil, e o segundo, R$ 22 mil, para humilhar os soldados. O Flamengo desmentiu, por intermédio do gerente Gilmar Rinaldi, que seja tudo isso, e o Vasco informou que o goleiro recebia R$ 10 mil mensais. Será que o registro em carteira diz uma coisa, e a boca do caixa diz outra?

Por último, mas não menos importante, Luís ""Adam Smith" Nassif escreveu, ainda na sexta- feira, sobre ""Uma revolução no futebol", a propósito da entrada do grupo HTMF no Corinthians.
Há tempos esperava conhecer a opinião de Nassif sobre o tema.
E praticamente assino embaixo do que escreveu com autoridade.
Faltou dizer, no entanto, que o que motivou algumas críticas em parte da imprensa esportiva (entre os quais me incluo) não foi nem desconhecimento do assunto nem apenas a presença da, como Nassif diz, ""controvertida Traffic". Foi algo que hoje o próprio HTMF reconhece, como pude ouvir de um de seus mais importantes executivos, o vice-presidente da The Muller Sports Group, braço esportivo da HTMF e gestora da parceria com o Corinthians, Jeff Slack.
Slack concorda que houve pouca transparência e que o torcedor alvinegro tem o direito de saber detalhadamente tudo que diz respeito ao clube.
Dito isso, volto ao que sempre disse: só no dia em que empresas desse porte se aproximarem de nosso futebol poderemos sonhar em ter aqui algo parecido com a NBA . E o dia chegou.
Chegou com o HTMF, com a ISL no Flamengo (num processo incomparavelmente mais transparente, embora com os problemas que são inerentes às discussões democráticas), com o NationsBank no Vasco etc.
É natural que haja muita polêmica em torno desse processo e que nem tudo que reluza seja, necessariamente, ouro.
Mas se não fosse por mais nada, mesmo que revogada amanhã, a Lei Pelé já cumpriu o seu papel de abrir as portas para a modernização do nosso futebol.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às quintas-feiras

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