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O próximo campeão?
FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Budapeste
"Você fala sério?", respondeu
Eddie Irvine, 33, à Folha, anteontem, após uma boa risada.
"Não me lembro disso. Mas é
uma coisa normal. Sempre que
aparece algum piloto novo, a imprensa tenta compará-lo a outros.
É para vender mais revista", continuou o piloto.
Outubro de 93. Autódromo de
Suzuka, Japão. Estreando na F-1,
com uma vaga alugada na Jordan,
o irlandês causa sensação.
Nos treinos, supera seu companheiro de equipe, Rubens Barrichello. Na corrida, tira Derek
Warwick da pista e, mesmo sendo
retardatário, ultrapassa o líder
Ayrton Senna, o que mais tarde
lhe rendeu um murro e a inimizade do tricampeão mundial.
Poucos dias depois, o novato é o
grande destaque nas mais importantes revistas de automobilismo
do planeta.
Para a italiana "Autosprint", seu
estilo arrojado lhe valeu o apelido
de "novo Mansell".
Para a "Autosport", da Inglaterra, surgia um "novo Schumacher"
-algo que soa como premonição
após a batida que eliminou o alemão da disputa do campeonato e
que alçou Irvine ao posto de primeiro piloto ferrarista.
Hoje, quase seis anos depois, o
irlandês se vê líder do Mundial de
Pilotos, com 52 pontos, contra 44
do atual campeão, o finlandês Mika Hakkinen, segundo colocado.
Corrida após corrida, fica mais
próximo do título, algo inimaginável até a batida de Schumacher,
há um mês e quatro dias -até o
início desta temporada, o irlandês
não havia vencido nenhuma corrida na categoria.
A declaração de Irvine que abre
esta reportagem, dada quando ele
foi questionado sobre a reação
das duas revistas a sua estréia na
F-1, ilustra um pouco a personalidade do irlandês.
Chamado de "idiota" e de "estúpido" por Senna após a manobra
em Suzuka, o irlandês manteve
por algum tempo a marca de "bad
boy" -só para constar, seu nome
de batismo é Edmond.
Hoje, livre do estigma, com todas as atenções voltadas para si,
Irvine faz o tipo "bacana".
Fala com todo mundo, responde a todas as perguntas que lhe
são dirigidas.
E deixa claro que seu perfil está
distante do que hoje se espera de
um piloto da categoria.
Enquanto Michael Schumacher, Mika Hakkinen e David
Coulthard, por exemplo, fazem o
gênero "superatleta, profissional,
chefe de família", Irvine faz lembrar os pilotos que a F-1 tinha
tempos atrás.
Há duas semanas, por exemplo,
disse que festejou sua vitória no
GP da Áustria em um ""pub" (bar)
londrino. Mas declarou que nunca mais comemorará algo na capital inglesa. "Os bares fecham cedo", disse o piloto, que não esconde sua preferência pela marca de
cerveja irlandesa Guiness.
Na última quinta-feira, indagado sobre onde havia estado desde
o GP da Alemanha, o irlandês,
solteiro convicto, pai de uma filha, afirmou: "Em Saint Tropez
(mais efervescente balneário da
Riviera Francesa). Mas foi difícil
relaxar. Eu passei o tempo todo
na cama".
Bolsa de valores
Um de seus hobbies é investir
em bolsas de valores. De seu apartamento de 230 m2, em Milão
(norte da Itália), passa a madrugada acompanhando o sobe-e-desce dos mercados asiáticos e comandando suas aplicações.
No ano passado, o piloto contratou um analista para dirigir
seus investimentos e acabou comprando ienes.
Veio a crise asiática, a moeda japonesa se desvalorizou. Irvine demitiu o funcionário e voltou a decidir o destino de seu dinheiro.
Enquanto era o segundo piloto
ferrarista, esse seu comportamento passava incólume pelos dirigentes ferraristas.
Depois do acidente de Schumacher, porém, as declarações e as
atitudes do irlandês ganharam
força e passaram a irritar a alta cúpula da escuderia.
Uma crise de relacionamento
com o diretor esportivo do time
italiano, o francês Jean Todt, explodiu durante o final de semana
do GP da Áustria, há três semanas, e só foi chegou a seu final nos
últimos dias.
Na quinta-feira, Irvine disse que
nunca foi amigo de Todt.
"Tenho alguns amigos, alguns
deles na Ferrari. Até pela diferença de idade, o Todt não é alguém
com quem saio para jantar."
A alfinetada valeu uma resposta
do dirigente, que reforçou rumores de que Irvine já teria acertado
com a Ford para o ano que vem
-a montadora norte-americana
assumirá o controle da Stewart.
Segundo o francês, o futuro do
irlandês na equipe já está traçado,
independente de ele ser ou não o
campeão desta temporada.
Um campeão demitido? Caso
isso aconteça no fim do ano, não
será a primeira vez na F-1.
Só a Williams, equipe mais vencedora desta década, mandou
embora, logo após conquistarem
títulos, pilotos como Nelson Piquet (87), Nigel Mansell (92) -o
último "fanfarrão" antes de Irvine-, Alain Prost (93) e Damon
Hill (96).
Caso se transfira para a Ford, assumirá um desafio até certo ponto semelhante ao de Hill em 97.
O inglês, na ocasião, foi para a
Arrows, uma equipe que prometia ascensão e vitórias imediatas.
O resultado foi um fracasso retumbante.
Mas Irvine parece não se importar com essa perspectiva.
O irlandês será o próximo campeão da F-1? Há grandes chances,
e uma vitória hoje, no GP da Hungria, 11ª das 16 etapas do Mundial
deste ano, mudaria seu status de
"líder do campeonato" para
"grande favorito".
A resposta para a questão é dada pelo próprio irlandês, bem
dentro da filosofia que ele usa para tudo.
"Não sei se eu vou ser campeão
e, ao contrário do que todo mundo pensa, não estou muito preocupado com isso. Hoje, penso
nesse GP. Depois, passarei a pensar no seguinte. Vou assim, corrida a corrida. E depois a gente vê o
que acontece", responde, para em
seguida dar um tapão nas costas
dos repórteres e entrar sorrindo
no caminhão da Ferrari.
NA TV - GP da Hungria de F-1,
ao vivo, a partir das 9h, na
Globo
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