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JUCA KFOURI
Os Rodrigues
Há Rodrigues e Rodrigues.
O verdadeiro, Nelson, certamente entenderia o que fez o
outro, Washington.
O verdadeiro era Flu, o outro, Fla.
Nelson invadiria o gramado
como fez o enlouquecido torcedor tricolor na manhã de
domingo, na rua Bariri.
E se não invadisse, aplaudiria, dedicaria uma crônica.
"O primeiro a pular, em
campo, foi o torcedor que queria esbofetear o bandeirinha
apolíneo. Este podia ter corrido e não correu. E, então, o
miserável deu-lhe uma bofetada de mão aberta. O pior foi
o som. Em campo pequeno,
ouve-se tudo."
Porque Rodrigues, o verdadeiro, achava "que sem torcedor não há futebol. E o jogador? Eu quase dizia que pode
haver futebol sem jogador,
mas não sem a torcida."
Pois Rodrigues, o outro, incitou a massa rubro-negra
contra o árbitro que só fez
cumprir a regra na derrota do
Flamengo no domingo. "É
verdade que o time já não é o
de outros tempos. Mas a torcida também não é. Se fosse, o
juiz não sairia sem que nada
lhe acontecesse", declarou.
O verdadeiro Rodrigues
adoraria e diria que "quem lê
os nossos cronistas, toma um
susto. Eles parecem viver numa sereníssima bem-aventuração. E aquele que infringir
umas tantas regras, deve ser
atirado aos jacarés. E o sujeito
deve achar o seguinte: "os
confrades vivem em outro
mundo, ou são alienados da
cabeça aos sapatos.'"
Rodrigues, o verdadeiro, era
gênio e exaltava a transgressão, qualquer uma.
"Amigos, a disciplina é uma
convenção. E qualquer convenção nasce e existe para ser
violada", escreveu certa vez,
numa crônica cuja título já
dizia tudo, "Nós, os mortais".
Lembrar aqui que este
transgressor apoiou o golpe
militar de 1964 é desnecessário e talvez o tenha feito exatamente para transgredir,
pois ele, que achava que a
"disciplina foi feita para o soldadinho de chumbo e não para o homem", ajudou que os
soldadinhos tentassem impor
a disciplina mesmo à custa de
torturas etc. Contradições de
um gênio.
Mas Rodrigues, o verdadeiro, sempre escreveu e torceu.
Jamais virou cartola, nem sócio do Flu era, tão sócio do Flu
se sentira desde sempre.
O outro, não. Técnico uma
vez, cartola agora, por amor
ao Mengo ou por lealdade a
um amigo, só tem ajudado a
aprofundar a crise do clube
mais querido do mundo.
E isso nem Rodrigues, o verdadeiro, perdoaria.
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