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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Não suportou o tranco

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Júnior não suportou o tranco. Após os 3 a 0 contra o São Caetano, ele disse que ficou quatro noites com insônia e emagreceu. Entrou em pânico. O outro 3 a 0 para o São Paulo foi a gota d'água. Mas ele sabia que o time era fraco e só aceitou o convite para fazer um trabalho mais longo. Será que aconteceu algo importante e que não foi revelado?
Se não houve, o fato demonstra a insegurança do técnico em assumir para valer a nova carreira. Há mais ou menos dez anos que ele não decide se quer ser técnico ou comentarista. Bica dos dois lados. Júnior, provavelmente, retornará à televisão e à praia. É mais tranquilo e prazeroso.
No Rio, Oswaldo de Oliveira também foi embora. Ao mesmo tempo em que criticou os movimentos políticos que atrapalham os jogadores, a má estrutura profissional do Flamengo e o atraso de salários, que já são motivos para o técnico pedir demissão, Oswaldo elogiou os atuais dirigentes que o contrataram. Não entendi.
Ele revelou que tem 14 meses de salários atrasados para receber de Flamengo, São Paulo, Vasco e Fluminense. Isso é um retrato da crônica e grave crise financeira dos clubes brasileiros. A TV Globo e muitos dirigentes querem aproveitar da situação para culpar a fórmula de pontos corridos e trocá-la pela dos mata-matas.
Assim como aconteceu no São Paulo, Oswaldo defendeu com veemência os jogadores, que seriam vítimas. Os atletas pediram a sua permanência e dedicaram a vitória ao técnico. Tarde demais. Deveriam demonstrar essa amizade durante o campeonato.

Jogo sonolento
O jogo do Brasil foi sonolento. Desta vez não há desculpa de que o rival marcou bem, como fez o Equador. A Jamaica atuou na defesa, colocou os dez jogadores atrás da linha da bola, mas deu chances para o time brasileiro.
A discreta atuação do Kaká reforçou a impressão de que ele se destacou mais do que os outros nas duas partidas pelas eliminatórias, quando entrou no segundo tempo, porque os adversários estavam cansados, precisavam avançar e deixaram mais espaços na defesa, o que facilita para um jogador rápido e de dribles largos. Isso não significa que ele não possa ser titular da seleção ou de qualquer equipe do mundo.
Preciso fazer uma correção. Escrevi que a seleção e o Cruzeiro têm esquemas táticos idênticos. São parecidos. As duas equipes jogam com três no meio-campo e três adiantados, mas no Cruzeiro há um meia ofensivo (Alex) e dois atacantes que se movimentam na frente. Na seleção, são dois meias e um atacante fixo.
Essa formação da seleção, que deu certo na Copa, começa a preocupar. Os dois meias recuam ao mesmo tempo, e o Ronaldo fica isolado. Há excessivas trocas de passes pelo meio. Em alguns momentos, principalmente quando os laterais estiverem bem marcados, o time vai precisar de um atacante veloz pelos lados. Quem?

Curtas do Brasileirão
- Leão não suportou o segundo lugar, a longa distância do Cruzeiro e os muitos elogios ao Luxemburgo. A frustração e nervosismo do técnico do Santos passaram para os jogadores. Se o time não reagir, poderá perder até a vaga na Libertadores.
- Ao ver o Vasco jogar no Mineirão e no Maracanã, fiquei mais convicto de que o time só não está entre os últimos colocados porque atua no alçapão de São Januário, onde se sente à vontade e a pressão da torcida inibe o visitante.
- Há muito tempo que considero o Romário o grande craque dos "ex-jogadores em atividade". Porém ele foi tão genial, e o time do Fluminense é tão fraco, que ainda poderá ajudar o clube, pelo menos na cobrança de pênaltis.
- A falta de um atacante não é a única grave deficiência do Corinthians. Abuda tem futuro. Não será ele, ou outro atacante, que resolverá o problema do ataque. O Corinthians não precisa de um centroavante para ter um bom time, mas sim de um bom time para ter um bom centroavante.
- A defesa do Rubinho foi espetacular na falta, cobrada pelo Rogério, que resultou no gol do São Paulo. Talvez tenha sido a mais bela e difícil do campeonato. Era impossível espalmar para o lado.
- Rojas deveria esquecer o Rico e insistir com os jovens Diego e Kléber. O futebol do Rico é muito pobre para um grande clube.
- Luis Fabiano é o Animal 2. Não consegue controlar seus impulsos. Ele é sincero quando diz que não teve intenção de agredir o rival. O instinto não pensa; age.

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