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Rigor moral só vale para os jogadores?
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Nenhuma grande surpresa na
primeira rodada das oitavas-de-final do Brasileirão, ontem à tarde.
Num domingo de muitos gols e
viradas espetaculares, o único jogo terminado em 0 a 0 acabou
sendo um castigo para o Guarani
e um prêmio para o Corinthians,
cuja defesa abusa do direito de ser
ruim. Até os baixinhos do ataque
bugrino cabeceavam como queriam no meio da área alvinegra.
O destaque da tarde foi Marcelinho, do São Paulo, que fez três belos gols no Morumbi.
Uma seleção pesada e sem imaginação. Foi isso o que vimos em
campo contra a Espanha, no sábado. Só não perdemos graças à
sorte e às traves.
O consolo é saber que na seleção
pré-olímpica -que horas depois
venceu a Austrália- abunda o
talento criativo tão escasso na
principal.
Alex, Ronaldinho Gaúcho e Denílson parecem ter ainda o prazer
de jogar bola que tem faltado à
equipe "A". Esta última, em sua
atual formação, só conta com um
craque realmente fora de série: Rivaldo. Quando ele está sem inspiração -como sábado-, o time é
normal, burocrático, previsível e
tedioso.
Há algo de moralismo hipócrita
na demissão de Romário, Leandro e Fábio Baiano pelo presidente do Flamengo.
É óbvio que a fuga da concentração protagonizada pelos três
atletas em Caxias do Sul é uma
atitude reprovável, que não poderia passar em branco.
Mas é igualmente óbvio que o
presidente do Flamengo só se sentiu à vontade para afastar Romário porque o atacante já vinha
sendo hostilizado pela torcida, devido ao jejum de gols nas últimas
partidas.
Se o Flamengo tivesse passado
para a segunda fase do Brasileiro,
e Romário estivesse de bem com a
galera rubronegra, o zelo moral
do cartola certamente seria mais
maleável.
Afinal, não é de hoje que o craque frequenta a noite, escapa de
concentrações ou falta a treinos.
Enquanto faz tudo isso e, ao mesmo tempo, tritura as defesas adversárias, não acontece nada.
É curioso observar que o afastamento de Romário e seus companheiros de farra ocorre num contexto de recrudescimento moralista no futebol.
Quinta-feira foi a vez de Edmundo, suspenso por dez dias pelo vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda (esse paladino da moral), por não ter se apresentado
para a concentração do time.
Na semana anterior, membros
de uma "organizada" palmeirense ameaçaram bater em jogadores
do time que fossem flagrados "na
noite". Antes disso, o goleiro Roger foi banido do São Paulo por
posar nu para uma revista.
Ou seja: justamente quando a
bandalheira na organização do
futebol atinge níveis insustentáveis, os jogadores são cobrados e
punidos como se tivessem a obrigação de ser monges.
Os leitores Flávio Dutra e Romulo Provinzano me escreveram
para dizer que, assistindo à transmissão pela TV de Internacional 1
x 0 Palmeiras, ouviram Luiz Felipe Scolari dizer a Dunga: "Eles
são muito burros. Têm que cair
para a décima divisão", e não
"Vocês são muito burros etc" como escrevi na coluna de sábado.
Como quatro ouvidos ouvem
melhor do que dois, com certeza
me enganei. Perdão, leitores. Perdão, Felipão.
José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados
E-mail jgcouto@uol.com.br
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