São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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Rigor moral só vale para os jogadores?

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Nenhuma grande surpresa na primeira rodada das oitavas-de-final do Brasileirão, ontem à tarde.
Num domingo de muitos gols e viradas espetaculares, o único jogo terminado em 0 a 0 acabou sendo um castigo para o Guarani e um prêmio para o Corinthians, cuja defesa abusa do direito de ser ruim. Até os baixinhos do ataque bugrino cabeceavam como queriam no meio da área alvinegra.
O destaque da tarde foi Marcelinho, do São Paulo, que fez três belos gols no Morumbi.
  Uma seleção pesada e sem imaginação. Foi isso o que vimos em campo contra a Espanha, no sábado. Só não perdemos graças à sorte e às traves.
O consolo é saber que na seleção pré-olímpica -que horas depois venceu a Austrália- abunda o talento criativo tão escasso na principal.
Alex, Ronaldinho Gaúcho e Denílson parecem ter ainda o prazer de jogar bola que tem faltado à equipe "A". Esta última, em sua atual formação, só conta com um craque realmente fora de série: Rivaldo. Quando ele está sem inspiração -como sábado-, o time é normal, burocrático, previsível e tedioso.
  Há algo de moralismo hipócrita na demissão de Romário, Leandro e Fábio Baiano pelo presidente do Flamengo.
É óbvio que a fuga da concentração protagonizada pelos três atletas em Caxias do Sul é uma atitude reprovável, que não poderia passar em branco.
Mas é igualmente óbvio que o presidente do Flamengo só se sentiu à vontade para afastar Romário porque o atacante já vinha sendo hostilizado pela torcida, devido ao jejum de gols nas últimas partidas.
Se o Flamengo tivesse passado para a segunda fase do Brasileiro, e Romário estivesse de bem com a galera rubronegra, o zelo moral do cartola certamente seria mais maleável.
Afinal, não é de hoje que o craque frequenta a noite, escapa de concentrações ou falta a treinos. Enquanto faz tudo isso e, ao mesmo tempo, tritura as defesas adversárias, não acontece nada.
É curioso observar que o afastamento de Romário e seus companheiros de farra ocorre num contexto de recrudescimento moralista no futebol.
Quinta-feira foi a vez de Edmundo, suspenso por dez dias pelo vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda (esse paladino da moral), por não ter se apresentado para a concentração do time.
Na semana anterior, membros de uma "organizada" palmeirense ameaçaram bater em jogadores do time que fossem flagrados "na noite". Antes disso, o goleiro Roger foi banido do São Paulo por posar nu para uma revista.
Ou seja: justamente quando a bandalheira na organização do futebol atinge níveis insustentáveis, os jogadores são cobrados e punidos como se tivessem a obrigação de ser monges.
  Os leitores Flávio Dutra e Romulo Provinzano me escreveram para dizer que, assistindo à transmissão pela TV de Internacional 1 x 0 Palmeiras, ouviram Luiz Felipe Scolari dizer a Dunga: "Eles são muito burros. Têm que cair para a décima divisão", e não "Vocês são muito burros etc" como escrevi na coluna de sábado.
Como quatro ouvidos ouvem melhor do que dois, com certeza me enganei. Perdão, leitores. Perdão, Felipão.


José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados

E-mail jgcouto@uol.com.br




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