São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2001

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Entradas de jogo do Brasil são distribuídas ao funcionalismo estadual

Maranhão faz festa do ingresso grátis

FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO LUÍS

A festa política da seleção brasileira em São Luís (MA) acabou se transformando também na festa do ingresso grátis.
O time nacional jogaria ontem à noite na capital do Maranhão contra a Venezuela, às 21h40.
Além dos convites reservados pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para seus parceiros comerciais e para dirigentes de federações, o governo do Maranhão distribuiu ontem, gratuitamente, ingressos para o funcionalismo público estadual.
A Folha esteve ontem em dois órgãos do governo do Maranhão, no centro de São Luís. Nos dois locais, funcionários, que pediram para não serem identificados, exibiram seus ingressos de R$ 15,00 para a partida da seleção.
De acordo com eles, todas as secretarias e autarquias estaduais foram presenteadas com ingressos. Ontem em São Luís o expediente no governo terminou uma hora mais cedo, às 17h.
Alguns funcionários ganharam os ingressos em sorteios. Outros nem precisaram contar com a sorte: receberam dos chefes.
Segundo a Gedel (Gerência de Desenvolvimento do Desporto e Lazer), que administra o estádio Castelão, palco da partida, 75 mil lugares foram disponibilizados.
Segundo a Folha apurou, desse total, quase 20 mil foram distribuídos pela CBF para patrocinadores, convidados e para o governo do Maranhão, administrado por Roseana Sarney (PFL), pré-candidata à Presidência em 2002.
O curioso é que a distribuição dos ingressos para comercialização estava a cargo do Sistema Mirante de Comunicação, que deu apoio promocional à partida e é de propriedade da família Sarney.
Fernando Sarney, irmão da governadora e diretor da CBF, é o principal executivo do Sistema Mirante de Comunicação, afiliado da Rede Globo.
Mas, de acordo com Dulce Brito, coordenadora da área de marketing do Sistema Mirante, a bilheteria da partida é da CBF.
"Nós e a Federação Maranhense de Futebol não ficamos com nada da bilheteria", disse.
Ela não soube informar se os ingressos distribuídos pelo governo foram comprados pelo Estado ou doados pela CBF.
Alguns ingressos para o jogo também foram distribuídos em uma festa para 300 convidados oferecida anteontem à noite pela governadora e seu irmão.
O evento, realizado na casa do governo do Maranhão na praia do Calhau, serviu para Roseana Sarney fazer o lançamento informal de sua candidatura à Presidência da República.
Em entrevista à Folha anteontem, Roseana disse que não faria uso político da partida. "Futebol e política não se misturam", chegou a declarar.
Mas a partida em São Luís atendeu, na verdade, a um pedido pessoal da própria governadora, que chegou ao segundo lugar nas pesquisas para a eleição presidencial, que acontece em outubro do ano que vem.
Os ingressos, que variavam de R$ 15,00 a R$ 50,00, foram comercializados em São Luís nas agências do BEM (Banco do Estado do Maranhão), federalizado.
Ontem, boa parte deles foi vendida nas bilheterias do Castelão, mas até as 19h eles ainda não haviam se esgotado.
A baixa procura pelos ingressos, já que os preços foram considerados altos para os padrões do futebol maranhense, motivou a distribuição dos ingressos pelo governo. O preço para assistir a uma partida do Sampaio Corrêa, time local, é, em média, R$ 3,00.
A Folha tentou falar ontem com a governadora, mas ela não foi localizada. Roseana era aguardada à noite na tribuna do Castelão, estádio que também pertence ao governo do Maranhão.
Para reformar o Castelão para o último jogo do Brasil nas eliminatórias, foram gastos cerca de R$ 200 mil, o que a governadora diz ter sido "um investimento para o Estado, não para a seleção".
Os gastos no complexo esportivo do estádio, que inclui um ginásio anexo, chegaram a R$ 1 milhão nos últimos meses.
Para a CBF e seus convidados, só nas cadeiras do estádio, cerca de mil lugares foram reservados, além de camarotes especiais instalados pela agência de marketing esportivo Traffic.


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