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FUTEBOL
Chuteira branca, amor
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Tempos atrás, um leitor escreveu (uma carta!) reclamando dos jogadores de cabelos longos. Acha feio e anti-higiênico;
não se conforma que os clubes
não mandem tosar as madeixas.
Meu marido, que já teve cabelo
até a cintura quando tocava
heavy metal, não liga para o comprimento; só torce o nariz para
chuquinhas e outras invenções.
Mas o que ele não suporta mesmo
é chuteira branca -"quem o cara pensa que é?". Só perdoa se for
"um Ronaldo". Perdoa.
Meu marido, que nasceu depois
do Tri, não tem idade para ser um
nostálgico com PhD, mas acha
que antigamente não tinha nada
"dessas bobeiras". Ledo engano...
Achei esta crônica na ótima coletânea "Boa Companhia", da
Cia. das Letras: "Se a gente folhear os velhos álbuns, há de chegar a conclusões interessantes a
respeito da evolução da moda em
futebol. Porque o futebol obedece,
também, aos ditames da moda.
Tem os seus dândis, os seus ditadores de bom-tom". O autor fala,
então, em camisas de lã, de seda,
linho e cetim, e observa: "Hoje a
moda é a camisa de malha".
A parte dos calçados é a que me
interessa: "A Casa Clark anunciava botinas para futebol. Eram botinas pesadas, de bico quadrado,
chapeadas. Boas para chutes fortes, então os chutes preferidos pela torcida e pelo jogador. Não se
"descobrira" ainda o chute seco
-o chute de um Nilo, com o pé de
moça e chuteira macia como luva. Em 1912, Belfort Duarte mandou fazer chuteiras especiais. As
chuteiras perderam o aspecto
agressivo, famigerado, e tomaram o ar que poderia ser classificado de esportivo. (...) Mais tarde
uma casa qualquer anunciou
chuteiras Marcos. As chuteiras tomavam os nomes dos craques. (...)
"Eu quero uma chuteira à Nery".
Calçá-las era estar na moda. Como foi moda calçar chuteiras
brancas e pretas. Com bico estufado. Com amortecedores. E as chuteiras brancas? Quando houve
um furor pelos sapatos vermelhos
de mulher, salto Luis XV, Fortes
deu uma demonstração de bom
gosto, entrando em campo com
chuteiras vermelhas.
Foi Mario Filho quem escreveu
"O futebol e a moda", em junho
de 57. Mesmo com fina ironia, ele
me pareceu simpático aos jogadores que procuravam "dialogar"
(ele jamais usaria esse termo...)
com as tendências de comportamento da sociedade em geral.
Que se preocupavam com a aparência, um certo "marketing", e
não apenas com o desempenho
esportivo. A dúvida é saber se ele
entenderia os atuais padrões de
beleza, inaceitáveis para boa parte do público. Cabelos descoloridos, trancinhas, cabeças raspadas
com desenhos geométricos fazem
parte dos códigos de jogadores e
também funkeiros, pagodeiros,
rappers e outras celebridades surgidas nos bairros pobres.
Hoje parece a muitos "um horror", sinais dos tempos. Daqui a
algumas décadas, talvez causem
a nostalgia que hoje é despertada
pelo modelo "malandro às antigas", com bigodinho cafajeste,
terno e sapatos brancos, que um
dia já pareceu aos mais velhos o
cúmulo do mau gosto.
A César
O título desta coluna foi sugerido pelo Melk, editor deste caderno, em almoço com os colegas colunistas. Apesar de infame, combinava com o tom de
nostalgia. E, aproveitando para
responder a todos que perguntam, a Folha não interfere no
conteúdo das colunas. Aceitei a
sugestão porque quis, e é capaz
de ele querer me matar agora.
Ao Ratinho
Esse Eduardo, lateral do Corinthians, foi um achado. Fala-se
menos dele do que ele merece.
Ao Cúmulo
Ter um amistoso reprovado pela Fifa foi o auge da incompetência da CBF na administração
de seu "produto", a seleção brasileira. E ela diz que vai tentar
de novo.
E-mail: soninha.folha@uol.com.br
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