São Paulo, Domingo, 16 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

Um fundo para cada torcida

Jorge Araújo/Folha Imagem
Torcida do Corinthians, um dos clubes controlado pelo fundo HMTF, ocupa o Maracanã para assistir à decisão do Mundial de Clubes da Fifa, anteontem



HMTF, controlador do Corinthians, cria várias empresas para escapar de legislação contra cartelização do futebol


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial ao Rio

Contrário à medida provisória do governo, que impede uma empresa de possuir o controle de mais de um clube de futebol no Brasil, o HMTF, fundo de investimentos norte-americano que administra Corinthians e Cruzeiro, se prepara para escapar da lei.
A Folha apurou que o fundo já tem, no Brasil e na América do Sul, especialmente na Argentina e na Venezuela, o controle de pelo menos 12 empresas que poderiam assumir o departamento de futebol de outros clubes brasileiros.
Na semana passada, por exemplo, apresentou a Teamco, empresa criada para cuidar do marketing de Corinthians e Cruzeiro. Se for necessário, diz o fundo, ela poderia assumir o Juventus, clube da capital paulista que despertou o interesse dos norte-americanos.
Depois de fazer acordos em São Paulo e Minas Gerais, o fundo espera fechar contrato com um time do Rio -o Botafogo é o mais provável-, um do Rio Grande do Sul -o Inter-, além de uma equipe do Nordeste -já houve contatos tanto com o Vitória quanto com o Bahia.
A estratégia do HMTF tem como objetivo aumentar sua força na negociação dos direitos de TV. No mês que vem, ele promete lançar um canal de esportes de TV paga para concorrer com a ESPN Internacional, tornando-se o maior da América Latina.
O canal pretende apresentar jogos de Corinthians e Cruzeiro. Os paulistas, que assinaram contrato com o fundo no primeiro semestre de 1999, foram os únicos entre os principais clubes do Brasil a não vender os direitos de transmissão de seus jogos para a ISL. A empresa de marketing esportivo, com sede na Suíça, queria exibir suas partidas no exterior.
Os contratos do HMTF com Corinthians e Cruzeiro estão sendo, segundo o ministério do Esporte e Turismo, analisados pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão responsável pela defesa da concorrência na economia no Brasil.
O Cade estaria preocupado com o grande poder que teriam os norte-americanos para negociar contratos com TV e publicidade. Além de Corinthians e Cruzeiro, o fundo comprou 49% das ações da Traffic, agência de marketing esportivo de J. Hawilla, que tem o controle do departamento de esportes da TV Bandeirantes.
O HMTF, no entanto, alega que não é dono de Corinthians e Cruzeiro, mas apenas tem o controle do departamento de futebol por um período definido de tempo.
"Não existe de um time entregar o jogo para o outro só porque tem contrato com o mesmo grupo", disse Charles Tate, o "T" do HMTF, quando do lançamento do projeto do estádio corintiano em São Paulo. "Se você fizesse uma coisa dessas, perderia a credibilidade. Sem credibilidade, não haveria mais negócio. Seria como se desse um tiro na própria cabeça. Uma estupidez."
Ainda segundo Tate, a atuação do fundo no Brasil difere do que acontece na Europa, onde também se tenta proibir que um grupo controle de mais de um time.
"Lá as empresas se tornam acionistas majoritárias, compram, portanto, os clubes. No Brasil, não. Apenas administramos o Corinthians, por exemplo, por um número de anos definido. Não somos os donos do Corinthians. É uma outra situação."
Mas Augusto Viveiros, presidente do Indesp (Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto), não concorda.
"Não interessa se a empresa é dona ou apenas gerencia o futebol do clube. Para mim, a palavra chave é gerenciamento. Se estiver gerenciando um time, não pode gerenciar um segundo", afirmou.
Para o HMTF, a medida provisória do governo que impede uma empresa de controlar mais de um clube de futebol não é aplicada porque atrapalha a modernização do esporte no Brasil.
Segundo o fundo, o texto não foi bem redigido, e o próprio governo não tem claro, para si, o que quer para o esporte no país.
Viveiros concorda, em parte, com as críticas dos norte-americanos. Para ele, de fato, o texto da medida é muito amplo e dá margem a diversas interpretações.
"O texto deveria falar em uma empresa que gerencie mais de um clube de futebol, mas não. Acaba falando em uma empresa que, de qualquer forma, influencie na administração de mais de um clube. Isso poderia impedir o patrocínio de mais de uma equipe, e não é isto o que queremos", afirmou.
Como a medida está sendo discutida no Congresso, Viveiros espera que ela venha a ser aperfeiçoada.


Próximo Texto: Painel FC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.