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AmBev, patrocinadora do time, associa equipe a bebida alcoólica e cria mal-estar com a CBF
Seleção vira protagonista de propaganda de cerveja
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
A seleção virou garota-propaganda de uma marca de cerveja.
A Brahma, controlada pela AmBev, parceira da CBF, estampou
nas páginas da "Veja" desta semana anúncio em que, pela primeira
vez na história, a mundialmente
famosa expressão "seleção brasileira" é associada a uma cervejaria. "A seleção brasileira é Brahma", afirma texto do anúncio.
A publicação provocou o primeiro mal-estar entre os parceiros CBF e AmBev desde a assinatura do contrato, em 2001.
A Folha apurou que presidente
da CBF, Ricardo Teixeira, não
gostou de ver a marca seleção ligada à Brahma. "Se a Brahma utilizou a seleção, é porque tem direito por contrato. Mas a CBF se
sente identificada com o Guaraná
Antarctica. No material de treino,
o logo que aparece é o do guaraná", disse Rodrigo Paiva, porta-voz da entidade.
A CBF alega que não foi consultada sobre a vinculação. Reservadamente, Teixeira disse que, se tivesse sido alertado sobre o teor do
anúncio, não teria concordado.
Não está descartada a possibilidade de o cartola pedir à direção da
AmBev que o anúncio não seja
publicado novamente.
Há três anos, o presidente da
CBF prometeu nunca ligar a seleção às bebidas alcóolicas da AmBev -Brahma, Antarctica e Skol.
Só a cogitação do uso das marcas
de cerveja na seleção, em 2001, gerou crise na equipe e protestos do
então capitão, Mauro Silva.
O contrato firmado entre a multinacional e a entidade que comanda o futebol brasileiro, válido
até 2018, possibilita à AmBev colocar até a logomarca de suas cervejas no uniforme de treinos da
seleção. Pelo acordo, a CBF recebe
US$ 10 milhões anuais mais participação no aumento das vendas
internacionais do guaraná.
Os direitos da AmBev incluem a
criação da "Casa Brahma Seleção
Brasileira", espécie de camarote
para VIPs em treinos do time e, se
for o caso, a participação de atletas em eventos da empresa ligados à Copa do Mundo.
A multinacional, por meio de
seu gerente de comunicação, Alexandre Loures, confirmou que
não consultou a CBF sobre o
anúncio e disse não ver problema
na ligação da cerveja com a marca
seleção -pela legislação brasileira, a cerveja não é classificada como alcóol em propagandas.
"Sempre estamos em contato,
mas, como o cerne da propaganda são as boas-vindas ao [apresentador e jornalista] Milton Neves à nossa empresa e a seleção
aparece apenas em texto, não julgamos necessário falar com a
CBF. Mesmo porque o contrato
nos dava essa possibilidade."
Além da seleção, a Brahma vem
explorando a imagem de outro
ícone do futebol, Ronaldo, para
aumentar as vendas no verão.
No comercial veiculado na TV,
o atacante do Real Madrid aparece ao lado de uma garrafa de cerveja e fala da saudade que tem das
praias e das mulheres do Brasil.
Diz que, pelo menos na Espanha,
que está na temporada de inverno, não precisa deixar a bebida na
geladeira para que ela fique na
temperatura certa.
O novo comercial de Ronaldo
quebra uma tradição de quase dez
anos. Desde 1994, quando assinou
com a Brahma, o atacante não
aparece tão próximo de uma garrafa de cerveja. Há uma década, às
vésperas da Copa dos EUA, na famosa campanha da "Nš 1" que
envolveu outros atletas como Romário, Ronaldo estendia a mão, e
uma Brahma vinha até ele.
"O Ronaldo endossa [a compra
do produto], mas não bebe a cerveja nem toca. Não há problema
nenhum", diz Rodrigo Paiva, que
também é assessor do atacante.
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