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FUTEBOL
Dirigente completa dez anos na presidência da CBF, apesar dos erros e da perda do "padrinho' João Havelange
Teixeira chega à "maioridade' no poder
MARCELO DAMATO
ROBERTO DIAS
da Reportagem Local
Ricardo Teixeira completa hoje
dez anos na presidência da Confederação Brasileira de Futebol com
um atestado de maioridade na política do futebol nacional.
Após um ano em que aconteceu
tudo o que poderia haver de pior
para ele, Teixeira está virtualmente
reeleito para o próximo quadriênio, que começa daqui a um ano.
Seis meses antes da eleição, parece
não existir pessoa ou fato que possa abalar seu poder.
O ano de 1998 começou com o
maior vexame da história recente
da seleção brasileira, o fiasco na
Copa Ouro, onde empatou com a
Jamaica e perdeu para os EUA.
Prosseguiu com a aprovação da
Lei Pelé, contra a qual o dirigente
se bateu por motivos pessoais (é
inimigo de Pelé) e ideológicos (é
contra o fim do passe). Todo o esforço de viagens pelo Brasil e mimos a deputados na casa que a CBF
alugou em Brasília deu em nada.
Nesse momento, Texeira tinha
ainda dois trunfos: o apoio do ex-sogro João Havelange e a disputa
da Copa da França.
Se houvesse mais um fato negativo, dizia-se, estaria aberto o caminho para Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista, pôr
um pé na CBF, objetivo que persegue há quatro anos.
O vice no Mundial na França não
foi um fiasco, mas o escândalo Ronaldinho pôs a nu as falhas da CBF
na preparação.
Nesse momento, já era evidente
que Havelange havia mudado de
opinião em relação a quem continuara a tratar como um filho mesmo após ele se separar da filha verdadeira.
Um acidente de cavalo em setembro obrigou-o a ficar de cama
por dois meses, período no qual o
Campeonato Brasileiro viveu a
maior crise dos últimos anos e até
correu risco de não acabar.
No início deste ano, Havelange
não compareceu a uma cerimônia
em que Teixeira pretendia começar uma reaproximação por meio
de uma homenagem.
Entre os convidados que esperaram Havelange em vão estavam o
governador do Rio, Anthony Garotinho, e o ministro dos Esportes,
Rafael Greca.
Nenhum desses reveses abalou
Teixeira, que disse à Folha que
pretende continuar a administrar
a CBF como sempre fez, cuidando
apenas dos negócios da entidade e
da seleção brasileira, delegando a
outro as competições nacionais,
como o Campeonato Brasileiro.
˛
Hegemonia
A história de Teixeira na CBF começou com um fracasso. Em 1986,
empurrado pelo então sogro, trabalhou para a candidatura de André Medrado Dias e teria se tornado diretor da CBF se o hoje braço
direito de Carlos Arthur Nuzman
(COB) não tivesse perdido.
Um ano e meio depois, Teixeira,
ainda conhecido no futebol apenas
como genro do presidente da Fifa,
anunciou que iria disputar a presidência da CBF, que naquela época
viveu sua pior fase, dos pontos de
vista financeiro e de organização.
Com o apoio de Havelange, que
tinha relações pessoais com vários
dos então presidentes das federações, Teixeira venceu sem problemas um bloco de situação que se
desmanchou quase sozinho.
No início do seu mandato, enfrentou o recém-nascido Clube
dos 13, mas soube aproveitar suas
divisões internas para estabelecer
seu poder por meio das federações,
a quem passou a dar uma espécie
de mesada.
Em 1991, com medo de que o
projeto de lei que viraria a Lei Zico
pudesse permitir aos clubes tomarem o poder, antecipou em seis
meses a eleição e garantiu o segundo mandato. Na tramitação da lei,
obteve alterações que beneficiavam seus interesses políticos (fim
do limite de reeleições e liberdade
para a fixação do tempo do mandato) e comandou a alteração dos
estatutos da CBF nessa direção.
Nos anos seguintes, repetindo a
tradição de emprestar dinheiro a
filiados para mantê-los sob controle, consolidou sua ascendência
sobre as federações e começou a se
aproximar dos clubes.
Em 1996, conseguiu no contrato
com a Nike (R$ 22 milhões anuais
por dez anos) fazer da CBF uma
entidade rica. No ano seguinte,
saiu da negociação sobre os direitos de TV do Campeonato Brasileiro e contentou os grandes clubes.
O poder de Teixeira não significa
que os dirigentes do futebol brasileiro estão satisfeitos. A maioria
dos Estados está fora da Série A.
"O futebol brasileiro hoje é Rio,
São Paulo, Minas e Rio Grande do
Sul. Não há interesse de mudança.
O presidente está só. Os poucos
que vão até ele só querem fazer nome", diz Euclides Feitas Filho, ex-presidente da Federação Paraense,
o único a não votar nele em 1995.
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