São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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FUTEBOL
Dirigente completa dez anos na presidência da CBF, apesar dos erros e da perda do "padrinho' João Havelange
Teixeira chega à "maioridade' no poder

MARCELO DAMATO
ROBERTO DIAS
da Reportagem Local

Ricardo Teixeira completa hoje dez anos na presidência da Confederação Brasileira de Futebol com um atestado de maioridade na política do futebol nacional.
Após um ano em que aconteceu tudo o que poderia haver de pior para ele, Teixeira está virtualmente reeleito para o próximo quadriênio, que começa daqui a um ano. Seis meses antes da eleição, parece não existir pessoa ou fato que possa abalar seu poder.
O ano de 1998 começou com o maior vexame da história recente da seleção brasileira, o fiasco na Copa Ouro, onde empatou com a Jamaica e perdeu para os EUA.
Prosseguiu com a aprovação da Lei Pelé, contra a qual o dirigente se bateu por motivos pessoais (é inimigo de Pelé) e ideológicos (é contra o fim do passe). Todo o esforço de viagens pelo Brasil e mimos a deputados na casa que a CBF alugou em Brasília deu em nada.
Nesse momento, Texeira tinha ainda dois trunfos: o apoio do ex-sogro João Havelange e a disputa da Copa da França.
Se houvesse mais um fato negativo, dizia-se, estaria aberto o caminho para Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista, pôr um pé na CBF, objetivo que persegue há quatro anos.
O vice no Mundial na França não foi um fiasco, mas o escândalo Ronaldinho pôs a nu as falhas da CBF na preparação.
Nesse momento, já era evidente que Havelange havia mudado de opinião em relação a quem continuara a tratar como um filho mesmo após ele se separar da filha verdadeira.
Um acidente de cavalo em setembro obrigou-o a ficar de cama por dois meses, período no qual o Campeonato Brasileiro viveu a maior crise dos últimos anos e até correu risco de não acabar.
No início deste ano, Havelange não compareceu a uma cerimônia em que Teixeira pretendia começar uma reaproximação por meio de uma homenagem.
Entre os convidados que esperaram Havelange em vão estavam o governador do Rio, Anthony Garotinho, e o ministro dos Esportes, Rafael Greca.
Nenhum desses reveses abalou Teixeira, que disse à Folha que pretende continuar a administrar a CBF como sempre fez, cuidando apenas dos negócios da entidade e da seleção brasileira, delegando a outro as competições nacionais, como o Campeonato Brasileiro.
˛ Hegemonia
A história de Teixeira na CBF começou com um fracasso. Em 1986, empurrado pelo então sogro, trabalhou para a candidatura de André Medrado Dias e teria se tornado diretor da CBF se o hoje braço direito de Carlos Arthur Nuzman (COB) não tivesse perdido.
Um ano e meio depois, Teixeira, ainda conhecido no futebol apenas como genro do presidente da Fifa, anunciou que iria disputar a presidência da CBF, que naquela época viveu sua pior fase, dos pontos de vista financeiro e de organização.
Com o apoio de Havelange, que tinha relações pessoais com vários dos então presidentes das federações, Teixeira venceu sem problemas um bloco de situação que se desmanchou quase sozinho.
No início do seu mandato, enfrentou o recém-nascido Clube dos 13, mas soube aproveitar suas divisões internas para estabelecer seu poder por meio das federações, a quem passou a dar uma espécie de mesada.
Em 1991, com medo de que o projeto de lei que viraria a Lei Zico pudesse permitir aos clubes tomarem o poder, antecipou em seis meses a eleição e garantiu o segundo mandato. Na tramitação da lei, obteve alterações que beneficiavam seus interesses políticos (fim do limite de reeleições e liberdade para a fixação do tempo do mandato) e comandou a alteração dos estatutos da CBF nessa direção.
Nos anos seguintes, repetindo a tradição de emprestar dinheiro a filiados para mantê-los sob controle, consolidou sua ascendência sobre as federações e começou a se aproximar dos clubes.
Em 1996, conseguiu no contrato com a Nike (R$ 22 milhões anuais por dez anos) fazer da CBF uma entidade rica. No ano seguinte, saiu da negociação sobre os direitos de TV do Campeonato Brasileiro e contentou os grandes clubes.
O poder de Teixeira não significa que os dirigentes do futebol brasileiro estão satisfeitos. A maioria dos Estados está fora da Série A.
"O futebol brasileiro hoje é Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul. Não há interesse de mudança. O presidente está só. Os poucos que vão até ele só querem fazer nome", diz Euclides Feitas Filho, ex-presidente da Federação Paraense, o único a não votar nele em 1995.



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