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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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BASQUETE

Após brigar com o poder, Chaim Zaher, empresário do COC, associa-se a ele e se torna o principal parceiro da CBB

Dono de escola é quem manda na bola

ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO

Há cinco anos, após perder a decisão do Nacional masculino, Chaim Zaher, 49, bateu de frente com o presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basquete), Gerasime Bozikis, o Grego.
Inconformado com o regulamento, que obrigou sua equipe, o COC/Ribeirão, a jogar fora de casa a final, Zaher ameaçou criar uma outra liga. "Depois reconheci que estava errado. O Grego seguiu o regulamento, que obrigava que a final fosse em um ginásio para 5.000 pessoas", conforma-se.
Diante da pouca receptividade à idéia da liga, Zaher pensou na solução típica dos investidores: extinguir o time. João Zangrandi, da Polti, sua parceira no patrocínio, se antecipou e deixou o basquete.
"Sozinho, achei que era melhor parar. Mas mudei de idéia quando soube que o Grego já tinha colocado o Vasco no nosso lugar na Liga Sul-Americana", conta ele.
Por desfeita à confederação, optou por manter sozinho a equipe.
O revés fez com que o dirigente diminuísse os gastos com o elenco e apostasse em jovens. "Até hoje não retomamos o nível daquela época. Gastamos menos de 40% do que em 1998", compara.
Outra lição aprendida é que não adianta brigar com o poder. O melhor é associar-se a ele. De inimigo da CBB, Zaher tornou-se o importante parceiro da entidade.
Pelo segundo ano seguido, comprou placas de publicidade dos jogos do Nacional. O acordo da CBB com a Sportv prevê que a entidade tem direito a duas placas nos ginásios, que são revendidas. Há dois anos, o COC é o único comprador, com investimento de R$ 1,5 milhão por campeonato.
Metade desse valor é pago em dinheiro. A outra é reembolsada em "espécie". Aí surge o problema. Alguns clubes criticam a proximidade da CBB com o Ribeirão. A entidade já usou o CT do COC até para hospedar a seleção.
"Os atletas pedem para ficar aqui. A presença da seleção também motiva a cidade a prestar atenção no basquete", diz Zaher.
O local também abriga as clínicas de desenvolvimento de talentos, programa criado neste ano.
Além disso, Ribeirão já foi sede da Copa América sub-21 masculina e feminina. "O COC não é um patrocinador da CBB. Temos uma parceria em que nos beneficiamos utilizando o CT para diversas atividades", conta Grego.
A aproximação fez com que a clínica de avaliação dos juízes que iriam atuar no Nacional fosse feita em Ribeirão, no mês passado.
A parceria, porém, é questionada. "Não tenho nada contra o COC patrocinar o Brasileiro. O problema é que eles usaram uma faixa dizendo "COC, bicampeão paulista invicto". Não é publicidade do colégio. É do time. Isso é uma afronta à federação paulista e à confederação", acusa Nelson Salomão, presidente do Franca.
No Paulista-2002, a Uniara, rival do Ribeirão na final, reclamou de um possível favorecimento do adversário. "Nosso sucesso incomoda. Dá para ter esquema se ganhamos 39 jogos?", questiona Zaher.
Apesar disso, o empresário, que coordena uma rede de 120 colégios, com cerca de 160 mil alunos, foge do perfil fanfarrão do passado. Rigoroso, admite que dispensou jogador em 2002 por ter descoberto uso de drogas. Outro saiu depois de ter se envolvido em rumorosa briga com a mulher.
"Lidamos com educação e nosso atleta tem que ter boa imagem. Mexeu com drogas ou teve problemas fora da quadra, não me interessa. Mando embora. E não quero de volta", diz. No ano passado, antes do Nacional, o Ribeirão dispensou Fred, Michel e Tiagão. Só o último voltou à equipe.
Atualmente, Zaher evita aparecer e desloca seus diretores para falar pelo colégio. "Minha preocupação é só que apareça o COC."
Pessoas ligadas ao empresário também dizem que é medo de sequestro. Ele nem gosta de aparecer em fotos. E foge da alcunha de maior investidor do basquete.
"O grupo Universo hoje gasta mais. Investimos R$ 100 mil mensais", destaca, sem contar o dinheiro da parceria com a CBB.
Visto com reserva por muitos, Zaher poderia ter incomodado ainda mais. "Negociamos colocar o COC na camisa da seleção masculina [que jogou o Mundial de Indianápolis em 2002". Mas o valor era muito alto. Desisti", conta.



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