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Justiça européia ameaça invalidar penas esportivas
Ao anular suspensões de três atletas, tribunal belga abre precedente para questionamentos de punições no esporte
Advogados prevêem reação em cadeia com anulações de sanções, mas divergem sobre a extensão da onda que pode chegar ao Brasil
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma revolução similar ao caso Bosman (que estabeleceu o
passe livre para todos os atletas) pode começar na Europa.
Essa é a opinião de especialistas em direito esportivo ao analisarem decisão da Justiça da
Bélgica, que anulou anteontem
suspensões de três atletas.
Esse processo ameaça a validade de todas as punições esportivas impostas por entidades como a Fifa e o Comitê
Olímpico Internacional. Isso
porque a corte belga baseou-se
na Convenção Européia para
Direitos Humanos, que se estende aos países do continente.
A decisão beneficiou os jogadores de futebol Marius Mitu,
Laurent Fassote e Igor Nikolovski, acusados de manipulação de resultados na Bélgica.
Livraram-se das suspensões da
Federação Belga de Futebol,
que violariam os direitos do
trabalho e de um julgamento
justo. Afinal, a pena foi imposta
sem aval da Justiça comum.
Um dos advogados que atuaram no caso Bosman, Luc Mission, foi o responsável por defender os jogadores. Ele prevê
repercussão internacional nas
decisões nas esferas esportivas.
Basta que a questão chegue à
Corte Européia de Justiça, que
julgou o caso Bosman.
"Pode colocar em xeque todo
o ordenamento jurídico das
suspensões esportivas", reconhece Rinaldo Martorelli,
membro do tribunal da Fifa e
de sindicatos de atletas.
Para ele, ações similares são
possíveis no Brasil. Isso porque
as suspensões podem ser entendidas como restrições ao direito de trabalho.
A extensão a que pode chegar
a decisão da corte belga não é
consenso. Mas há concordância sobre a repercussão das
anulações das suspensões.
"O próprio estatuto da Fifa
prevê exceções, pois a legislação européia prevalece sobre
ele. Na Uefa e na Fifa, isso [a decisão] vai ter influência. No resto do mundo, não", afirma Paulo Rogério Amoretty, que já integrou tribunal da Fifa.
O advogado, no entanto, acha
que não serão todos os casos
passíveis de anulações. É posição contrária à de Martorelli,
que entende que até penas por
doping poderão ser revertidas.
Para o advogado Marcílio
Krieger, haverá restrições para
a anulação de punições pela
Justiça. Entende, por exemplo,
que o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho não poderia ser
beneficiado com suspensão de
sua exclusão pela CBF. "Foi réu
confesso", aponta Krieger.
Mas os advogados admitem
que tanto na Europa quanto no
Brasil sobram contradições entre as legislações nacionais e as
da Fifa e do COI. Por isso, ações
como a que ocorre no tribunal
belga vão determinar os limites
das punições esportivas.
"A Justiça do país prevalece,
mas ele pode ser desfiliado da
Fifa ou do COI", analisa o presidente do Superior Tribunal de
Justiça Desportiva (STJD), Rubens Approbato Machado.
A Fifa até já divulgou decisão
da Corte Federal da Suíça que
garante sua autoridade para
impor sanções, em processo
movido por clube espanhol
contra a entidade. "É uma referência com implicações globais", diz o site da Fifa.
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