São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

XICO SÁ

Acontece que o coração ficou frio


A capital paulista já não vibra com um clássico como Recife, Rio, Belo Horizonte e outras praças da bola pelo Brasil


A MIGO TORCEDOR , amigo secador, o futebol paulistano é um dos mais importantes do país, lógico, não temos dúvidas, mas São Paulo, talvez por causa do vandalismo das torcidas organizadas, não tem mais aquela passionalidade ludopédica de outros Carnavais.
Não chega aos pés de Belo Horizonte, do Rio, de Porto Alegre, de Curitiba, de Salvador, mesmo com o Vitória na segunda divisão e o Bahia na Terceirona. São Paulo perde fácil também para Fortaleza, Belém e Recife, cujos clássicos fazem bandeiras tremularem nos edifícios, nos carros, nas barracas de praia, nas motos e nas bicicletas das crianças. Sem falar nos estádios lotados, ao contrário dos clássicos paulistas.
Um paulistano que chegasse no domingo ao Recife não entenderia como um Sport x Santa Cruz, jogo que não valia praticamente nada para a tabela, é capaz de mobilizar a cidade inteira, como se fosse uma saída precoce do Galo da Madrugada. Amigos, eu vi e senti inveja por não contemplar mais essa passionalidade em São Paulo. Mesmo com o Sport, do técnico Gallo, campeão antecipado do 1º turno, o clássico enervou o mais anestesiado torcedor. Dois dias depois, não se falava de outra coisa nos bares, em Casa Amarela, na Várzea, em Boa Viagem, nos bailes pré-carnavalescos, nas troças, nas cirandas, nos maracatus...
O tricolor, mesmo em sétimo na tabela, vibrava com o empate, 1 a 1, roubando do Leão da Ilha do Retiro a pompa e o orgulho de ser 100%. Você vai ao Rio e a boa loucura é maior ainda, uma festa. Principalmente agora, com esse Flamengo, que foi heróico na altitude da Bolívia, alcançando um empate além da condição humana. Inesquecível aquela imagem dos jogadores tomando oxigênio à beira do campo como se fossem meninos asmáticos. O futebol do Rio que voltou a ter o América como a glória dos secadores, que tem Romário a dez passos da eternidade, faltam só dez golzinhos. E quem será a milésima vítima, quem será o seu Andrada (para lembrar o goleiro do Vasco fuzilado pelo milésimo de Edson Arantes)?
Antes que o paulistano se sinta injustiçado, repito: o futebol destas plagas é grande, tem um time organizado, como o São Paulo, que não deve (na bola e na direção) aos maiores da Europa. Tem a torcida do Corinthians, esse patrimônio imaterial da humanidade, tem o Palmeiras, que, apesar dos cartolas terem feito tudo para afundá-lo, resiste. Sem se falar no Santos, líder dos líderes, que é da praia, mas aqui também apita. Sim, o futebol ainda é forte, mas a capital está perdendo a passionalidade pelos clubes. Os clássicos são notados só pela barbárie das organizadas, o torcedor de sofá prevalece, as boas discussões de botequim só esquentam aos finais dos torneios.
É, acontece que o coração do torcedor ficou frio, como na música do Cartola. Não por acaso, São Paulo é a única praça onde até a cerveja foi proibida nos estádios, como se a loirinha fosse a vilã da história. Como se não bastasse, os santos da federação querem banir o palavrão dos campos, quase obrigando que um Luxemburgo, um Muricy, um Leão tratem seus pupilos por "meu amorzinho", "meu garoto", "meu anjo".

Sexo explícito
O cara radicalizou, mas foi irônico, uma baita resposta. Você viu o episódio do Alex da Rosa, boleiro brasileiro do Blooming, da Bolívia? Apareceu, diante de jornalistas chatos que cobravam explicações sobre uma farra de atletas numa boate de La Paz, nu. Peladaço, vergonhas à mostra, para assombro dos colegas. Foi despedido do time, mas que deu o recado, ah!, até me fez lembrar do livro de psicologia barata "O Corpo Fala", que nos ensinava a ver quando a mina estava ou não a fim de algo mais. Só por gestos e leituras do esqueleto.

xico.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Especialistas descartam risco à vida
Próximo Texto: Justiça européia ameaça invalidar penas esportivas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.