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FUTEBOL
Elogio da sutileza
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Corinthians segue irresistível. Com a goleada de
ontem sobre o Botafogo, deu um
passo enorme rumo à classificação para as semifinais.
Mais que isso: pelo que vem jogando, o alvinegro já pode, finalmente, ser considerado um
dos favoritos ao título.
Depois de três derrotas seguidas -as duas últimas de virada-, o São Paulo é que vê sua
classificação ameaçada (e também sua autoconfiança).
Na verdade, o único time que
pode respirar um pouco neste
momento é a Ponte Preta, que
ontem confirmou sua boa fase e
se distanciou na liderança.
Com a vitória suada sobre a
Inter de Limeira, o Santos voltou ao páreo, mas continua
mostrando que depende muito
do talento de Robert.
E até o Palmeiras, depois da
vitória sobre a Santista, já fala
em brigar pela classificação.
Suas chances são remotas, mas
de todo modo contribuem para
aumentar a dramaticidade das
duas próximas rodadas, as últimas da primeira fase.
O certo é que, mesmo com todos os defeitos, o Paulistão deste
ano está equilibrado e imprevisível como há muito não se via.
Tenho falado tanto de Ricardinho (do Corinthians) nesta
coluna que logo logo vão me
acusar de ganhar comissão no
seu salário.
Hoje não vou dizer nada. Basta que o leitor veja e reveja o gol
que ele fez ontem em Ribeirão.
Tudo bem, o lançamento de
Kléber foi preciso, mas os dois
toques de Ricardinho -um para amortecer a bola, e o outro
para tocá-la sob o goleiro- foram uma obra-prima de sutileza e categoria.
Também o gol de Robert para
o Santos foi uma beleza: foi driblando da direita para a esquerda, escapando de botinadas, até
achar o equilíbrio e o ângulo para o chute colocado e certeiro.
Num esporte marcado cada
vez mais pela correria e pela força bruta, lances assim, em que
se destaca a habilidade, são cada vez mais raros e necessários.
Cada dia mais eu me convenço
de que o futuro é dos meias que
se movimentam "horizontalmente", colocando-se em condição de armar a partir das laterais ou do meio. É o caso de Robert e Marcelinho (que ontem
jogou de forma exuberante).
A vantagem do meia corintiano sobre o santista é chutar e
cruzar bem também com o pé
que não é "o bom". Robert só
tem a esquerda.
Pensando nos meias habilidosos que atuam no Brasil -Alex,
Ricardinho, Robert, Marcelinho, os dois Juninhos-, concluo por um aparente paradoxo.
O menos constante e "confiável", o que menos se movimenta
e busca o jogo, é ao mesmo tempo o único em que brilha a centelha do gênio. Refiro-me, evidentemente, a Alex.
Outro paradoxo é o que cerca
Rivaldo. Diabolicamente hábil
com a perna esquerda, dono de
um arranque e de um chute invejáveis, faltam-lhe a visão de
conjunto, a rapidez no passe, e a
capacidade de interagir com os
companheiros.
Talvez a existência desses dois
"craques pela metade", Alex e
Rivaldo, seja um sinal de uma
preparação falha dos brasileiros
nas categorias de base.
Nossos atletas estão crescendo
tortos -como o país.
Os donos da bola
Lamentável a declaração de Leão, opinando que a Fifa deveria
reservar um lugar cativo nas Copas para as seleções de maior
tradição. Além de ferir o princípio do esporte, que é a igualdade
inicial dos competidores, a idéia se baseia numa concepção falsa de "tradição". Esta não é estática. Um exemplo: até 1970, a
Holanda "não existia". Hoje é uma força incontestável do futebol mundial.
Bola murcha
Pelo critério da "tradição", talvez na Copa de 1998 o Uruguai
-vencedor da primeira Copa, em 1930, e bicampeão em 50-
ocupasse o lugar de uma seleção com currículo menos vistoso,
como a Croácia, que nunca havia disputado um Mundial, a Holanda, que havia sido vice duas vezes, ou a França, que só tinha
conquistado dois terceiros e um quarto lugar. A Copa da França
seria melhor com o Uruguai no lugar de algum deles?
E-mail : jgcouto@uol.com.br
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