São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2001

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FUTEBOL

Elogio da sutileza

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians segue irresistível. Com a goleada de ontem sobre o Botafogo, deu um passo enorme rumo à classificação para as semifinais.
Mais que isso: pelo que vem jogando, o alvinegro já pode, finalmente, ser considerado um dos favoritos ao título.
Depois de três derrotas seguidas -as duas últimas de virada-, o São Paulo é que vê sua classificação ameaçada (e também sua autoconfiança).
Na verdade, o único time que pode respirar um pouco neste momento é a Ponte Preta, que ontem confirmou sua boa fase e se distanciou na liderança.
Com a vitória suada sobre a Inter de Limeira, o Santos voltou ao páreo, mas continua mostrando que depende muito do talento de Robert.
E até o Palmeiras, depois da vitória sobre a Santista, já fala em brigar pela classificação. Suas chances são remotas, mas de todo modo contribuem para aumentar a dramaticidade das duas próximas rodadas, as últimas da primeira fase.
O certo é que, mesmo com todos os defeitos, o Paulistão deste ano está equilibrado e imprevisível como há muito não se via.
Tenho falado tanto de Ricardinho (do Corinthians) nesta coluna que logo logo vão me acusar de ganhar comissão no seu salário.
Hoje não vou dizer nada. Basta que o leitor veja e reveja o gol que ele fez ontem em Ribeirão. Tudo bem, o lançamento de Kléber foi preciso, mas os dois toques de Ricardinho -um para amortecer a bola, e o outro para tocá-la sob o goleiro- foram uma obra-prima de sutileza e categoria.
Também o gol de Robert para o Santos foi uma beleza: foi driblando da direita para a esquerda, escapando de botinadas, até achar o equilíbrio e o ângulo para o chute colocado e certeiro.
Num esporte marcado cada vez mais pela correria e pela força bruta, lances assim, em que se destaca a habilidade, são cada vez mais raros e necessários.
Cada dia mais eu me convenço de que o futuro é dos meias que se movimentam "horizontalmente", colocando-se em condição de armar a partir das laterais ou do meio. É o caso de Robert e Marcelinho (que ontem jogou de forma exuberante).
A vantagem do meia corintiano sobre o santista é chutar e cruzar bem também com o pé que não é "o bom". Robert só tem a esquerda.

Pensando nos meias habilidosos que atuam no Brasil -Alex, Ricardinho, Robert, Marcelinho, os dois Juninhos-, concluo por um aparente paradoxo.
O menos constante e "confiável", o que menos se movimenta e busca o jogo, é ao mesmo tempo o único em que brilha a centelha do gênio. Refiro-me, evidentemente, a Alex.
Outro paradoxo é o que cerca Rivaldo. Diabolicamente hábil com a perna esquerda, dono de um arranque e de um chute invejáveis, faltam-lhe a visão de conjunto, a rapidez no passe, e a capacidade de interagir com os companheiros.
Talvez a existência desses dois "craques pela metade", Alex e Rivaldo, seja um sinal de uma preparação falha dos brasileiros nas categorias de base.
Nossos atletas estão crescendo tortos -como o país.

Os donos da bola
Lamentável a declaração de Leão, opinando que a Fifa deveria reservar um lugar cativo nas Copas para as seleções de maior tradição. Além de ferir o princípio do esporte, que é a igualdade inicial dos competidores, a idéia se baseia numa concepção falsa de "tradição". Esta não é estática. Um exemplo: até 1970, a Holanda "não existia". Hoje é uma força incontestável do futebol mundial.

Bola murcha
Pelo critério da "tradição", talvez na Copa de 1998 o Uruguai -vencedor da primeira Copa, em 1930, e bicampeão em 50- ocupasse o lugar de uma seleção com currículo menos vistoso, como a Croácia, que nunca havia disputado um Mundial, a Holanda, que havia sido vice duas vezes, ou a França, que só tinha conquistado dois terceiros e um quarto lugar. A Copa da França seria melhor com o Uruguai no lugar de algum deles? E-mail : jgcouto@uol.com.br


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